ABCS: oferta curta e exportações recordes reacendem valorização do suíno em junho
A suinocultura brasileira voltou a registrar sinais claros de recuperação em junho, após o recuo observado em maio diante do impacto indireto da gripe aviária nas exportações brasileiras de carne de frango. Segundo análise técnica divulgada pela ABCS (Associação Brasileira de Criadores de Suínos), o movimento de valorização nas principais praças foi sustentado pela alta histórica nos patamares de exportações de carne suína, oferta interna ajustada e redução nos custos com milho e farelo de soja.
Segundo o levantamento, a ocorrência de um foco de influenza aviária em granja comercial no Rio Grande do Sul, em 16 de maio, provocou retração temporária nos embarques de carne de frango, afetando o mercado de proteínas como um todo. No caso da suinocultura, o reflexo nas cotações foi imediato.
A Bolsa de Suínos de Minas Gerais (BESEMG), por exemplo, registrou queda no preço do quilo vivo logo na semana seguinte à notificação do caso, segundo série histórica organizada por Iuri P. Machado, consultor da ABCS. Esse cenário, no entanto, começou a se reverter com força ainda em junho.
As exportações brasileiras de carne suína in natura atingiram 105,9 mil toneladas apenas no mês de maio de 2025, o maior volume mensal do ano até agora, com alta de 15,6% sobre maio de 2024. No acumulado de janeiro a maio, o avanço chega a 16,8% em relação ao mesmo período do ano passado — incremento de pouco mais de 73 mil toneladas. A China perdeu espaço no ranking de destinos, mas o volume total exportado cresceu.
A sustentação da demanda externa vem num momento em que a produção nacional cresce de forma contida. Dados definitivos do IBGE mostram que o volume de carcaças suínas aumentou apenas 2,1% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024.
Estados como Rio Grande do Sul (+4,5%) e Minas Gerais (+2,7%) puxaram esse leve crescimento, enquanto São Paulo e Mato Grosso do Sul apresentaram queda.
Com oferta interna praticamente estável e embarques em ritmo elevado, o mercado doméstico passa a contar com disponibilidade reduzida de proteína suína, o que favorece a retomada das cotações. O indicador CEPEA/ESALQ da carcaça suína especial em São Paulo saiu de R$ 12,10/kg no início de junho para R$ 12,55/kg em 13/06. O mesmo movimento foi observado para o quilo vivo, que voltou a ganhar fôlego nas bolsas estaduais.
Ao mesmo tempo, a queda nos custos de produção melhora a rentabilidade do setor. O levantamento da CONAB divulgado em 12 de junho estima uma segunda safra de milho (safrinha) de 101 milhões de toneladas, já em fase inicial de colheita no Centro-Oeste. A projeção total para as três safras do ciclo 2024/25 supera 128 milhões de toneladas, o que vem pressionando os preços do cereal no mercado interno. O farelo de soja, outro insumo essencial, também apresenta trajetória de queda, com valores próximos a R$ 1.600/t em algumas regiões.
Esse comportamento dos preços dos insumos tem ampliado a relação de troca do suíno com o mix milho + farelo, superando o patamar de 6,0 em junho — nível considerado economicamente vantajoso. Segundo o boletim da ABCS, os custos médios nos três estados do Sul voltaram a ser superados pelos preços de venda em maio, assegurando margens positivas por quilo vendido, algo que não se via com regularidade ao longo de 2024.
Para o presidente da ABCS, Marcelo Lopes, o setor entra no segundo semestre em condições favoráveis. “Por enquanto, a nossa produção navega em águas calmas, às portas do segundo semestre, que promete ser ainda melhor com o tradicional aquecimento sazonal da demanda por carnes e a disponibilidade relativamente abundante de milho e farelo de soja”, avaliou.