Ambiência que paga a conta: como clima, manejo e nutrição destravam performance em suínos
Durante o 21º Congresso Nacional da Abraves, o professor Bruno Silva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do NEPSUI, levou ao palco e ao estúdio Agri News Play — iniciativa da suínoBrasil — uma provocação direta ao setor: “Na suinocultura, sobra poesia e falta tecnologia.”
Referência em nutrição e ambiência aplicada a suínos em clima tropical, o pesquisador reforçou que a ambiência é o elo mais negligenciado do sistema produtivo e o fator que mais compromete o aproveitamento do potencial genético dos plantéis.
“O suíno moderno produz 20% a mais de calor do que o de vinte anos atrás. Ele sente muito mais o ambiente, mas a maioria das granjas ainda opera com a mesma estrutura térmica de duas décadas atrás”, observou.
Assista a entrevista completa:
Segundo Bruno, o problema não é novo — mas persiste porque o setor ainda enxerga o investimento ambiental como custo, e não como retorno. “Quando o produtor pensa em climatizar, ele pensa em gasto. Mas não faz a conta de quanto o estresse térmico custa em perdas produtivas e reprodutivas. Só em 2023, o impacto estimado do estresse por calor na suinocultura brasileira foi de cerca de R$ 2 bilhões”, destacou.
Para o professor, a ambiência precisa ser tratada como tecnologia de eficiência, assim como a genética, a sanidade e a nutrição. “O suíno tolera erros e segue produzindo, diferente do frango, que morre quando erra. Por isso a gente repete os mesmos debates há 20 anos: o animal mudou, mas a filosofia de manejo não”, afirmou.
Entre as variáveis ambientais, Bruno destaca que a temperatura é o principal ponto de partida, mas deve ser avaliada em conjunto com umidade e ventilação. “Hoje falamos em temperatura efetiva, que é o resultado da interação entre temperatura do ar, umidade, radiação e velocidade do vento — o que realmente chega ao animal. O desafio é manter esse equilíbrio, porque cada grau acima do ideal pode representar até 500 gramas a menos de ganho de peso em condições de alta umidade”, explicou.
Na prática, quando ambiência e nutrição estão alinhadas, o primeiro ganho é perceptível:
“O animal finalmente expressa o potencial genético para o qual foi programado. É o primeiro sinal de que o ambiente deixou de ser limitante”, resume.
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Questionado sobre prioridades de investimento, o professor foi categórico: “Entre o produto e a fábrica, a prioridade deve ser a fábrica. A porca é a fábrica do sistema. Se ela não está em condição ideal, o leitão também não estará.” Ele defende que o primeiro passo seja na maternidade, fase em que a ambiência impacta diretamente a produção de leite e o peso ao desmame.
Bruno citou experimentos conduzidos pelo NEPSUI com resfriamento de piso e água gelada para fêmeas lactantes, que elevaram em até 25% a produção de leite e aumentaram em 1 kg o consumo de ração por fêmea, respectivamente. “São soluções simples e aplicáveis, que mostram que é possível ajustar o microclima da porca sem prejudicar o leitão.”
Outro ponto prático é o ajuste fino por fase: sistemas de ventilação mais intensos, pisos aquecidos para leitões e climatização segmentada entre áreas quentes e frias da maternidade. “A porca precisa de 16 a 17 °C; o leitão, de 30 °C. Se você aquece só o piso do leitão e mantém o ar mais fresco para a fêmea, ganha produtividade e conforto para ambos”, reforça.
Ao encerrar, o pesquisador deixou uma mensagem direta:
“A nutrição ajuda a atenuar o estresse térmico, mas não corrige o problema. Só o ambiente corrige. Precisamos investir em tecnologia ambiental, porque é ali que está o verdadeiro retorno em produtividade, eficiência e bem-estar animal.”
