Brasil e Europa avançam na exportação de carne suína com retração dos EUA no mercado chinês
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China estão redesenhando o fluxo global de exportações de carne suína, criando oportunidades significativas para Brasil e Europa. A avaliação é do Global Pork Quarterly – Q2 2025, relatório divulgado pelo Rabobank na segunda-feira (19/5), assinado pela analista Christine McCracken e pela equipe global de proteína animal do banco.
Segundo o levantamento, embora a China siga comprometida com a autossuficiência — importando menos de 5% do total da carne suína que consome —, o país continua sendo o maior comprador mundial da proteína. A imposição de tarifas adicionais pelos chineses à carne suína dos Estados Unidos, ainda que com trégua parcial, deve reduzir a competitividade do produto americano, especialmente nas exportações de miúdos.
Com isso, os exportadores brasileiros e europeus ganham espaço. “As indústrias de carne suína do Brasil e da Europa estão entre as maiores beneficiadas pela ruptura comercial entre EUA e China”, afirma o relatório.
Recorde nas Exportações
No caso do Brasil, os números comprovam o bom momento. No primeiro trimestre de 2025, o país exportou 325 mil toneladas de carne suína — alta de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior — e arrecadou US$ 777 milhões, crescimento de 33%. Trata-se do maior volume já registrado para um primeiro trimestre, tanto em quantidade quanto em valor.
O destaque vai para as Filipinas, que se tornaram o principal destino da carne suína brasileira, com aumento de 86% nas compras. O país asiático respondeu por 21% do volume exportado pelo Brasil entre janeiro e março. Na contramão, a China reduziu suas importações em 22%, passando a representar apenas 16% do total vendido pelo Brasil.
Outros mercados também mostraram desempenho expressivo:
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Hong Kong: +37% nas compras;
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Japão: +77%;
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México, Argentina, Uruguai e Singapura também com crescimento de dois dígitos.
Margens favoráveis
Apesar da valorização do milho, os produtores brasileiros conseguiram manter margens positivas no primeiro trimestre, de acordo com dados da Embrapa citados pelo Rabobank. O preço do milho subiu 8% no período, mas os preços do suíno vivo e da carne suína subiram mais: 28% e 33%, respectivamente.
As margens de produção ficaram entre 20% e 25%, impulsionadas por um estoque reduzido de animais e pela forte demanda no início do ano.
Custo e sanidade
O relatório também destaca que os custos com ração estão mais altos na América do Sul e partes da Ásia, enquanto América do Norte e Europa apresentam custos mais baixos. No Brasil, fatores como a desvalorização do real, estoques internos reduzidos e o aumento da demanda por biocombustíveis contribuem para encarecer os insumos.
Do ponto de vista sanitário, surtos de febre aftosa na Europa e casos de PRRSv (síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos) nos EUA ainda geram instabilidade. A novidade vem dos Estados Unidos, que aprovaram recentemente uma tecnologia de edição genética para criação de suínos resistentes ao PRRSv, apontada como uma solução promissora no longo prazo.
2025
Apesar das incertezas econômicas globais, o Rabobank prevê que os preços da carne suína devem continuar sustentados ao longo do ano, graças à oferta limitada e à demanda sólida em diversos mercados. No Brasil, a expectativa é de estabilidade nas margens dos produtores e manutenção do ritmo forte de exportações, mesmo com a volatilidade nos custos de alimentação.
O relatório, divulgado na tarde de 19/5, não faz menção à confirmação do foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) no Brasil, registrada em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Também não são apontados, até o momento, possíveis impactos dessa ocorrência nos preços da carne suína, seja no mercado interno, seja nas exportações brasileiras.