O Brasil deve receber, no próximo dia 29 de maio, durante a 92ª Assembleia da OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), o reconhecimento internacional como zona livre de febre aftosa sem vacinação. Trata-se de um marco sanitário, que fortalece a imagem do país no cenário global e representa uma conquista estratégica para a suinocultura nacional.
Segundo Luiz Henrique Barrochelo, coordenador da Defesa Agropecuária de São Paulo e representante brasileiro na Assembleia, a partir do reconhecimento, o mundo passa a enxergar o território brasileiro como mais um que contém o mais alto patamar de sanidade animal.
Esse avanço acontece após décadas de campanhas de vacinação, desenvolvimento tecnológico e vigilância ativa. O Rio Grande do Sul, por exemplo, que completa quatro anos da certificação recebida em 2021, foi pioneiro no desenvolvimento da vacina oleosa, considerada um divisor de águas na luta contra a doença, segundo técnicos da Seapi e da Farsul.
Hoje, com a retirada oficial da vacinação em 21 estados e no Distrito Federal, e com a expectativa de ampliação do reconhecimento pela OMSA, o desafio passa a ser o de manter a confiança internacional e evitar a reintrodução do vírus. Isso, porque o Código Sanitário para os Animais Terrestres da OMSA, estabelece que o status sanitário pode ser suspenso a qualquer momento em caso de surtos ou falhas na vigilância.
Para a suinocultura, a nova condição sanitária pode abrir mercados com exigências mais restritas e valorizar o produto brasileiro no exterior. A febre aftosa afeta diretamente suínos, ainda que o foco tradicional da doença tenha sido nos bovinos.
Conforme levantamento técnico apresentado na revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária , surtos anteriores no Brasil — como o de 2005 a 2006 — resultaram na suspensão de até 87% do mercado exportador de carnes, com impacto direto também sobre a carne suína.
No entanto, a retirada da vacinação impõe novas obrigações sanitárias. O uso de vacinas está proibido, e a movimentação de animais vacinados entre zonas com e sem reconhecimento internacional é regulada com rigor, conforme a Portaria MAPA nº 665, de 2024.
A manutenção do status sanitário exige o cumprimento das diretrizes do PNEFA (Plano Nacional de Vigilância para Febre Aftosa) e o engajamento dos médicos veterinários e produtores rurais.
A OMSA alerta, em seus relatórios técnicos de 2025, que surtos recentes em países antes reconhecidos como livres — como Alemanha, Hungria e Eslováquia — demonstram que o risco de reintrodução permanece.
“O risco nunca será zero enquanto a doença existir no mundo”, reforça Gazziane Rigon, que é coordenadora do Programa de Vigilância para Febre Aftosa da Seapi, que também destaca que o relaxamento de medidas básicas de biossegurança é uma das maiores ameaças.
Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária, a vigilância eficaz depende de atuação coordenada entre setor público e privado, com atenção contínua aos sinais clínicos da doença, notificação imediata de suspeitas e capacidade de resposta emergencial. A participação ativa da cadeia produtiva é essencial para preservar a conquista e garantir que o status de livre da doença se converta, de fato, em mais competitividade para o setor pecuário brasileiro.