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Percepção dos cidadãos do Centro-Oeste acerca do conforto térmico de suínos

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A facilidade de acesso a informações sobre a cadeia de produção animal aumentou com o avanço da tecnologia e, principalmente, pela preocupação dos consumidores (Molento, 2005).

Entretanto, o conhecimento sobre as práticas adotadas nas granjas diminuiu entre as pessoas, devido ao distanciamento entre as regiões urbanas e agrícolas (Fraser, 2008).

Além disso, a maneira como a população se informa contribuiu para essa falta de conhecimento (Yunes et al., 2017), motivado pelo sensacionalismo midiático e a disseminação de fake News, por exemplo.

CONSUMIDOR

No Brasil, apesar da baixa compreensão dos cidadãos sobre a cadeia produtiva de suínos (De Barcellos et al., 2011), há uma crescente preocupação quanto aos produtos que consomem, principalmente com questões relacionadas a rastreabilidade do produto, que atrai o interesse sobre o bem-estar dos animais.

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal, em 2018 o consumo per capita de carne suína foi de aproximadamente 15kg, comparado com outros países da América do Sul, como o Paraguai e Chile, que ultrapassam os 22kg por ano é um número pouco expressivo, visto que o Brasil é o quarto maior produtor mundial dessa proteína.

Esse baixo consumo interno pode estar associado a propagação de informações incorretas sem embasamento científico sobre os sistemas de produção, e por isso, torna-se importante compreender a visão dos consumidores sobre as técnicas de manejo e os tipos de sistemas de criação dos suínos.

SISTEMAS DE CRIAÇÃO

INDUSTRIAL

O sistema de criação mais utilizado na suinocultura brasileira é o industrial, que mantém os animais confinados em galpões, que possuem características importantes para promover o conforto térmico aos animais devido a maior facilidade de controle do ambiente.

Contudo, existem impasses em relação ao bem-estar dos suínos, visto que em algumas situações os animais não são capazes de expressar todos seus comportamentos naturais.

AO AR LIVRE

o sistema de criação ao ar livre apesar de proporcionar aos animais a expressão dos seus comportamentos naturais, quando implementado em regiões de clima tropical, os animais ficam susceptíveis a condições ambientais que afetam diretamente o seu conforto térmico, como a alta radiação solar direta e elevada temperatura do ar.

Fica claro que os sistemas de criação dos suínos são distintos e ambos possuem características negativas e positivas. E, com o aumento da preocupação do consumidor quanto à origem dos alimentos, torna-se relevante o desenvolvimento de modelos de sistemas que possam atender a demanda pela qualidade de alimentos que levem em conta as questões de bem-estar e conforto térmico dos animais.

Baseado nessas informações o objetivo desse trabalho foi avaliar a opinião de cidadãos do Centro-Oeste brasileiro sobre aspectos gerais do conforto térmico de suínos nos sistemas de criação ao ar livre e convencional.

PESQUISA

O trabalho foi conduzido pelo grupo de pesquisa em Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro (BioCer) da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal.

Entre março e junho de 2019, por meio de um questionário online elaborado e aplicado com o auxílio da plataforma Formulários do Google, foram coletadas as opiniões de 201 cidadãos brasileiros, residentes da região Centro-oeste, sobre aspectos relacionados à criação de suínos. O questionário foi disponibilizado em forma de link e divulgado nas redes sociais, de modo que a participação fosse facultativa.

As perguntas foram divididas em duas categorias referentes ao tipo de resposta em:

gerais, para a caraterização do perfil dos participante, e

classificatórias para definição da familiaridade dos participantes com a suinocultura e discussão dos resultados encontrados.

Essas, posteriormente, foram divididas em classificatórias pessoais e opinativas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O perfil dos participantes foi bastante diverso e dos 201 questionários respondidos e avaliados:

59%: sexo feminino;
69%: com idade entre 21 e 40 anos;
34% com ensino superior completo;
85% consomem carne suína.

Dentre todos os participantes, 74% raramente têm contato com os animais de produção e 83% declararam que se informam sobre os animais exclusivamente por meio de veículos de comunicação, como televisão, internet, redes sociais, jornais, revistas e rádio.

Apesar de terem pouco contato com suínos, aproximadamente 75% alegaram que conhecem muito bem ou já ouviram falar dos modos de criação dos animais de produção (Tabela 3), o que demonstra que há busca por informação pela população do Centro-Oeste sobre o assunto.

Além disso, fica claro que para esses cidadãos as informações devem ser disponibilizadas preferencialmente por meio de:

programas de televisão;
internet; e
redes sociais.

Provavelmente, devido ao perfil dos participantes, onde 69% informaram ter entre 21 e 40 anos, e 86% informaram terem nascido em região urbana, o que facilita o acesso a esses veículos de mídia.

Tabela 3. Perguntas pessoais e opinativas em relação aos animais de produção e as Respostas dos cidadãos residentes na região Centro-Oeste.
*Veículos de comunicação: Televisão, internet, redes sociais, jornais, revistas e rádio.
**Outras Fontes: Palestras, faculdade, família e amigos.

QUALIDADE DA CARNE

Para as perguntas opinativas, 96% dos participantes acreditam que o ambiente em que os suínos vivem pode influenciar na qualidade da carne; entretanto, apenas 56% afirmaram que a exposição contínua ao sol causa algum tipo de estresse aos animais.

Essas respostas demonstram que os cidadãos do Centro-Oeste estão cientes da relação existente entre sistemas de produção e qualidade final do produto, mas não conseguem indicar quais são os principais problemas relacionados a eles, principalmente voltado para as questões sobre o ambiente térmico, visto que grande parte (44%) não soube dizer, ou não acredita que a exposição contínua ao sol é prejudicial aos suínos.

RADIAÇÃO SOLAR

A radiação solar é um fator importante na suinocultura, pois além de afetar o conforto térmico dos animais devido à elevação da temperatura do ar, os suínos possuem baixo nível de pigmentação na epiderme (pele). Com isso, se expostos por longos períodos à intensa radiação podem desenvolver problemas como os melanomas (câncer de pele), como citado por Da Silva 2008.

Quando questionados sobre qual ambiente é mais confortável para suínos criados soltos (Fig. 1A), 46% das pessoas não souberam responder, enquanto 32% acreditam que o ambiente ideal deve ser quente e úmido.

Como a zona de conforto térmico dos suínos adultos é em torno de 22ºC de temperatura do ar e entre 50 e 60% de umidade relativa (Brown-Brandl et al., 2001), quando são colocados em ambientes abertos, principalmente em clima tropical, como na região Centro-Oeste, os suínos tendem a desviar a energia que seria utilizada para produção de carne para a manutenção da temperatura corporal (homeotermia).

O CLIMA NO CENTRO-OESTE

É importante citar que as características climáticas dessa região passam por apenas duas estações distintas:

uma época seca e quente;
uma época com alta umidade devido à chuva intensa.

Entretanto, durante o ano inteiro, é alto o nível de radiação solar, atingindo temperaturas acima dos 30ºC, o que pode impactar diretamente no conforto térmico dos animais criados a pasto.

ANIMAIS CONFINADOS

No caso dos suínos criados confinados em galpões (Fig. 1B), as respostas ficaram divididas entre:

galpão fechado com controle do ambiente (34%);
galpão aberto com ventilação (28%); e
não souberam responder (33%).

Os galpões com controle de ambiente são uma opção favorável quando se trata de conforto térmico, visto que todas as variáveis ambientais são controladas, além da exposição direta aos raios solares ser nula.

Já nos galpões abertos com ventilação, apesar dos animais se beneficiarem de uma circulação do ar favorável, podem sofrer com a radiação solar em certos períodos do dia e, por isso, nesses galpões o manejo de cortinas é extremamente importante, a fim de minimizar os efeitos dos raios solares.

Figura 1. Respostas obtidas sobre a opinião dos cidadãos da região Centro-Oeste brasileira sobre o nível de conforto do ambiente para A: Suínos ao Ar Livre e B: Suínos Confinados.

A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR

AO AR LIVRE

O questionamento de qual sistema seria indicado para a criação de suínos (Fig. 2A) foi seguido de uma pergunta livre para explicar o motivo da sua escolha (Fig. 2B).

Dos 201 participantes, 52% acreditam que os sistemas ao ar livre são os mais indicados para a criação dos suínos (Fig. 2A). Dentre estes:

81% escolheram esse sistema apontando questesligadas ao bem-estar animal, dos quais:

43%: com a expressão do comportamento natural;

40%: habitat natural dos animais;

17% livres para interagir entre os animais (Fig. 2B).

Isso demonstra que:

os cidadãos são preocupados com o bem-estar dos animais no ambiente de criação;

entendem que a expressão dos comportamentos naturais dos suínos é algo importante para cumprir esse requisito.

CONFINADOS

Já para os sistemas confinados, 24% do total dos participantes acreditam que seja o melhor modo de criação para os suínos (Fig. 2A). Porém, dentre eles:

70%: questões ligadas a produção, dos quais:

68%: maior produção;

17%: quantidade de animais;

15%: atendimento à demanda de mercado;

30%: bem-estar animal.

Esses resultados demonstram que:

a população entende que a demanda é suficiente para suprir o mercado consumidor, tanto como para produção e exportação;

e, com isso, de maneira confinada há maior possibilidade de se atingir essa demanda.

 

Figura 2. Respostas obtidas sobre a opinião dos cidadãos da região Centro-Oeste brasileira sobre A: Qual sistema de criação é o mais indicado para os suínos e B: O motivo da escolha desse sistema.

CONSIDERAR!

Apesar de serem sistemas com o mesmo objetivo (produção de carne suína), são cadeias produtivas distintas, que atendem mercados diferentes. Ou seja, um sistema de criação não substitui o outro e, por isso, não há uma resposta exata de qual modo é o mais correto.

Além disso, não há como ter um sistema único de produção. No momento deve haver um equilíbrio entre a criação ao ar livre e confinada, de acordo com as condições do produtor, mercado consumidor e região da criação.

Para maiores informações sobre o conforto térmico de suínos criados ao ar livre, acesse o artigo científico publicado pelo grupo BioCer, intitulado “Thermal comfort of sows in free-range systems in Brazilian Savanna”:

https://doi.org/10.1016/j.jtherbio.2019.102489

IMPLICAÇÕES FUTURAS

Os resultados do questionário demonstraram que:

Embora possua baixa compreensão dos sistemas de produção dos suínos, a maioria dos cidadãos da região Centro-Oeste está ciente da existência dos diferentes sistemas de criação e é preocupada com o bem-estar e conforto térmico dos animais;

Entretanto, grande parte ainda não consegue expressar, com precisão o que é melhor para a criação desses animais, visto que 46% declararam que não sabem qual ambiente é melhor para suínos, 21% ao ar livre e 33% para suínos confinados.

Os resultados demonstram uma oportunidade para os veículos de comunicação, pois, para tentar contornar esse problema, é necessário trazer informações verdadeiras e com embasamento científico para que os cidadãos fiquem mais informados e consigam realizar escolhas de consumo consciente, além de demandar mudanças nos procedimentos adotados a fim de promover condições de bem-estar e conforto térmico aos animais.

BIOGRAFIA DO GRUPO

O BioCer é um núcleo de estudo e pesquisa científica denominado “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado brasileiro”, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília – UnB, no Distrito Federal, Brasília – DF. Este grupo é representado por Docentes e Discentes de pós-graduação e graduação de diferentes instituições além da UnB, do Instituto Federal de Brasília (IFB), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

O grupo possui diversas linhas de desenvolvimento de pesquisa e discussão voltadas para as Ciências Animais como a Biometeorologia, Comportamento, Bem-estar e Conforto Térmico.

REFERÊNCIAS

ABPA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL. Relatório Anual 2018. Disponível em:<http://
abpa-br.com.br/setores/avicultura/publicacoes/relatorios-anuais>. Acesso em: 16 abr. 2020.

Brown-Brandl, T.M.; Eigengerg, R.A.; Nienaber, J.A.; Kachman, S.D. 2001. Thermoregulatory profile of a newer genetic line of pigs. Livest. Sci.

Da Silva, R.G. Biofísica ambiental: os animais e seu ambiente. 2008. Funep, Jaboticabal, São Paulo.

De Barcellos, M.D.; Krystallis, A.; de Melo Saab, M.S.; Kuegler, J.O.; Grunert, K.G. 2011. Investigating the gap between citizens’ sustainability attitudes and food purchasing behaviour: Empirical evidence from Brazilian pork consumers. Int. J. Consum. Stud., 35, 391–402.

Fraser, D. 2008. Animal welfare and the intensification of animal production. In: Ethics of Intensification: Agricultural Development and Cultural Change; Thompson, P.B., Ed.; FAO: Rome, Italy, pp. 167–189.

Molento, C.F.M. 2005. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos – Revisão. Archives of Veterinary Science, v. 10, n. 1, p.1-11, Yunes, M., Keyserlingk, M., Hötzel, M. J. 2017. Brazilian Citizens’ Opinions and Attitudes about Farm Animal Production Systems. Animals. 7. 75. 10.3390/ani7100075

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