A facilidade de acesso a informações sobre a cadeia de produção animal aumentou com o avanço da tecnologia e, principalmente, pela preocupação dos consumidores (Molento, 2005).
CONSUMIDOR
No Brasil, apesar da baixa compreensão dos cidadãos sobre a cadeia produtiva de suínos (De Barcellos et al., 2011), há uma crescente preocupação quanto aos produtos que consomem, principalmente com questões relacionadas a rastreabilidade do produto, que atrai o interesse sobre o bem-estar dos animais.
Esse baixo consumo interno pode estar associado a propagação de informações incorretas sem embasamento científico sobre os sistemas de produção, e por isso, torna-se importante compreender a visão dos consumidores sobre as técnicas de manejo e os tipos de sistemas de criação dos suínos.
SISTEMAS DE CRIAÇÃO
INDUSTRIAL
Contudo, existem impasses em relação ao bem-estar dos suínos, visto que em algumas situações os animais não são capazes de expressar todos seus comportamentos naturais.
AO AR LIVRE
Já o sistema de criação ao ar livre apesar de proporcionar aos animais a expressão dos seus comportamentos naturais, quando implementado em regiões de clima tropical, os animais ficam susceptíveis a condições ambientais que afetam diretamente o seu conforto térmico, como a alta radiação solar direta e elevada temperatura do ar.
Fica claro que os sistemas de criação dos suínos são distintos e ambos possuem características negativas e positivas. E, com o aumento da preocupação do consumidor quanto à origem dos alimentos, torna-se relevante o desenvolvimento de modelos de sistemas que possam atender a demanda pela qualidade de alimentos que levem em conta as questões de bem-estar e conforto térmico dos animais.
O trabalho foi conduzido pelo grupo de pesquisa em Biometeorologia Aplicada ao Cerrado Brasileiro (BioCer) da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília – UnB, Distrito Federal.
As perguntas foram divididas em duas categorias referentes ao tipo de resposta em:
Essas, posteriormente, foram divididas em classificatórias pessoais e opinativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O perfil dos participantes foi bastante diverso e dos 201 questionários respondidos e avaliados:
Dentre todos os participantes, 74% raramente têm contato com os animais de produção e 83% declararam que se informam sobre os animais exclusivamente por meio de veículos de comunicação, como televisão, internet, redes sociais, jornais, revistas e rádio.
Apesar de terem pouco contato com suínos, aproximadamente 75% alegaram que conhecem muito bem ou já ouviram falar dos modos de criação dos animais de produção (Tabela 3), o que demonstra que há busca por informação pela população do Centro-Oeste sobre o assunto.
Além disso, fica claro que para esses cidadãos as informações devem ser disponibilizadas preferencialmente por meio de:
Provavelmente, devido ao perfil dos participantes, onde 69% informaram ter entre 21 e 40 anos, e 86% informaram terem nascido em região urbana, o que facilita o acesso a esses veículos de mídia.
QUALIDADE DA CARNE
Para as perguntas opinativas, 96% dos participantes acreditam que o ambiente em que os suínos vivem pode influenciar na qualidade da carne; entretanto, apenas 56% afirmaram que a exposição contínua ao sol causa algum tipo de estresse aos animais.
RADIAÇÃO SOLAR
A radiação solar é um fator importante na suinocultura, pois além de afetar o conforto térmico dos animais devido à elevação da temperatura do ar, os suínos possuem baixo nível de pigmentação na epiderme (pele). Com isso, se expostos por longos períodos à intensa radiação podem desenvolver problemas como os melanomas (câncer de pele), como citado por Da Silva 2008.
Quando questionados sobre qual ambiente é mais confortável para suínos criados soltos (Fig. 1A), 46% das pessoas não souberam responder, enquanto 32% acreditam que o ambiente ideal deve ser quente e úmido.
O CLIMA NO CENTRO-OESTE
É importante citar que as características climáticas dessa região passam por apenas duas estações distintas:
ANIMAIS CONFINADOS
No caso dos suínos criados confinados em galpões (Fig. 1B), as respostas ficaram divididas entre:
Os galpões com controle de ambiente são uma opção favorável quando se trata de conforto térmico, visto que todas as variáveis ambientais são controladas, além da exposição direta aos raios solares ser nula.
Já nos galpões abertos com ventilação, apesar dos animais se beneficiarem de uma circulação do ar favorável, podem sofrer com a radiação solar em certos períodos do dia e, por isso, nesses galpões o manejo de cortinas é extremamente importante, a fim de minimizar os efeitos dos raios solares.
A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR
AO AR LIVRE
O questionamento de qual sistema seria indicado para a criação de suínos (Fig. 2A) foi seguido de uma pergunta livre para explicar o motivo da sua escolha (Fig. 2B).
Dos 201 participantes, 52% acreditam que os sistemas ao ar livre são os mais indicados para a criação dos suínos (Fig. 2A). Dentre estes:
CONFINADOS
Já para os sistemas confinados, 24% do total dos participantes acreditam que seja o melhor modo de criação para os suínos (Fig. 2A). Porém, dentre eles:
Esses resultados demonstram que:
Apesar de serem sistemas com o mesmo objetivo (produção de carne suína), são cadeias produtivas distintas, que atendem mercados diferentes. Ou seja, um sistema de criação não substitui o outro e, por isso, não há uma resposta exata de qual modo é o mais correto.
Além disso, não há como ter um sistema único de produção. No momento deve haver um equilíbrio entre a criação ao ar livre e confinada, de acordo com as condições do produtor, mercado consumidor e região da criação.
Para maiores informações sobre o conforto térmico de suínos criados ao ar livre, acesse o artigo científico publicado pelo grupo BioCer, intitulado “Thermal comfort of sows in free-range systems in Brazilian Savanna”:
https://doi.org/10.1016/j.jtherbio.2019.102489
IMPLICAÇÕES FUTURAS
Os resultados do questionário demonstraram que:
BIOGRAFIA DO GRUPO
O BioCer é um núcleo de estudo e pesquisa científica denominado “A Biometeorologia Aplicada ao Cerrado brasileiro”, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília – UnB, no Distrito Federal, Brasília – DF. Este grupo é representado por Docentes e Discentes de pós-graduação e graduação de diferentes instituições além da UnB, do Instituto Federal de Brasília (IFB), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O grupo possui diversas linhas de desenvolvimento de pesquisa e discussão voltadas para as Ciências Animais como a Biometeorologia, Comportamento, Bem-estar e Conforto Térmico.
REFERÊNCIAS
ABPA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL. Relatório Anual 2018. Disponível em:<http://
abpa-br.com.br/setores/avicultura/publicacoes/relatorios-anuais>. Acesso em: 16 abr. 2020.
Brown-Brandl, T.M.; Eigengerg, R.A.; Nienaber, J.A.; Kachman, S.D. 2001. Thermoregulatory profile of a newer genetic line of pigs. Livest. Sci.
Da Silva, R.G. Biofísica ambiental: os animais e seu ambiente. 2008. Funep, Jaboticabal, São Paulo.
De Barcellos, M.D.; Krystallis, A.; de Melo Saab, M.S.; Kuegler, J.O.; Grunert, K.G. 2011. Investigating the gap between citizens’ sustainability attitudes and food purchasing behaviour: Empirical evidence from Brazilian pork consumers. Int. J. Consum. Stud., 35, 391–402.
Fraser, D. 2008. Animal welfare and the intensification of animal production. In: Ethics of Intensification: Agricultural Development and Cultural Change; Thompson, P.B., Ed.; FAO: Rome, Italy, pp. 167–189.
Molento, C.F.M. 2005. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos – Revisão. Archives of Veterinary Science, v. 10, n. 1, p.1-11, Yunes, M., Keyserlingk, M., Hötzel, M. J. 2017. Brazilian Citizens’ Opinions and Attitudes about Farm Animal Production Systems. Animals. 7. 75. 10.3390/ani7100075