O Brasil foi o segundo país que mais aumentou o consumo de carne suína entre 2010 e 2023, ficando atrás apenas da China. O dado faz parte de uma análise inédita apresentada por Iuri Machado, consultor de mercados da ABCS (Associação Brasileira dos Criadores de Suínos), durante jantar reservado a jornalistas, promovido pela MSD Saúde Animal em São Paulo, no dia 1º de julho.
A apresentação revelou que o consumo brasileiro cresceu mais do que em mercados tradicionalmente consumidores, como Estados Unidos, Japão e União Europeia.
“Esse crescimento não é apenas relativo: em volume absoluto, o Brasil teve um dos maiores saltos globais”, afirmou Iuri. “O consumo interno é o verdadeiro motor da suinocultura brasileira, representa cerca de 80% da produção nacional e continuará sendo o principal canal de escoamento”, completou.
Durante o encontro, Iuri também destacou o que chamou de “nova China”, ou seja, o potencial inexplorado das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Segundo ele, juntas, concentram mais de 70 milhões de habitantes que consomem pouca carne suína e têm produção tecnificada incipiente.
“Se conseguirmos elevar em apenas dois quilos per capita o consumo anual dessas regiões, isso significaria um incremento de 150 mil toneladas por ano”, afirmou Iuri. “É o equivalente a 3% de crescimento apenas com o mercado interno”, completou.
Ao traçar as perspectivas para o segundo semestre de 2025, Iuri afirmou que há espaço para valorização, sem antes deixar de fazer um alerta. “Com exportações em alta e produção limitada, o preço pode subir. A pergunta é: até quanto o consumidor pode pagar?”
MSD aposta em vacina trivalente inédita no Brasil
Além da análise econômica, o evento também foi marcado pelo anúncio de uma nova vacina que promete simplificar a imunização dos suínos e melhorar o bem-estar animal nas granjas. Fernando Chucid, diretor da unidade de suinocultura da MSD Saúde Animal, apresentou a nova formulação trivalente — que combina, em uma única aplicação, proteção contra circovírus, micoplasma e Lawsonia intracellularis, agente causador da ileíte.
“A gente acredita muito nesse lançamento. É uma vacina pronta para uso, que reduz falhas de manejo, diminui a quantidade de agulhadas e melhora a eficiência do processo produtivo”, afirmou Fernando.
Segundo ele, o novo produto responde diretamente a uma das maiores dores das granjas, que é a sobrecarga de protocolos vacinais. “Hoje falta pescoço no leitão para tanta aplicação. Vacinas combinadas são mais práticas, reduzem o risco de erro e ainda geram menos reações adversas”, disse.
A vacina se soma à linha IDAL, de vacinação intradérmica sem agulha, que já responde por 25% do volume comercializado pela empresa para circovírus, micoplasma e ileíte.
“É uma solução que traz ganhos concretos de bem-estar animal e eficiência operacional”, destacou Chucid. “A dose reduzida e o equipamento sem agulha facilitam muito a rotina no campo”, completou.
O executivo também reforçou que a MSD vem investindo em soluções digitais voltadas à eficiência produtiva. Exemplo disso são os aplicativos próprios para monitoria em frigoríficos e gestão de vacinação nas granjas — que substituem checklists manuais por sistemas inteligentes e geram relatórios automáticos para gestores, identificando gargalos, desvios e oportunidades de melhoria.
Outro destaque foi o avanço em rastreabilidade individual, com a adoção de balanças automatizadas e identificadores eletrônicos conectados a um aplicativo intuitivo. “Queremos que o suinocultor tome decisões com base em dados reais, e não mais em médias ou percepções subjetivas. A era da produção por lote vai dar lugar à gestão individualizada”, afirmou Fernando.
Segundo ele, o investimento em tecnologia de precisão faz parte da estratégia da empresa para antecipar as demandas do mercado. “Nos próximos anos, será impossível competir sem oferecer rastreabilidade, segurança da informação e capacidade de resposta rápida. A produção animal do futuro será cada vez mais digital.”
Liderança sanitária
Outro ponto de destaque apresentado durante o jantar foi a condição sanitária brasileira em comparação aos maiores produtores de carne suína do mundo. O Brasil é o único país entre os cinco principais exportadores a estar livre de enfermidades como PRRS, PED/TGE, Peste Suína Africana, Peste Suína Clássica, Aujeszky e Febre Aftosa.
“Esse status é um ativo estratégico que precisa ser valorizado e comunicado ao mundo com mais ênfase”, pontuou Iuri.
Segundo ele, esse diferencial abre portas e amplia a confiabilidade da carne brasileira nos mercados internacionais. “Nosso produto é seguro, rastreável e oriundo de um sistema cada vez mais alinhado com exigências globais.”
Durante a apresentação de Iuri Machado, também foram destacados os avanços regulatórios que fortalecem a segurança jurídica e a imagem do setor, como a Lei 13.288/2016 (que regula a relação entre integradores e integrados), a Instrução Normativa 113 (sobre bem-estar animal) e a Portaria 798/2023, que trata do uso racional de antibióticos em fábricas de ração.
“Essas normas alinham o Brasil às melhores práticas internacionais e consolidam a reputação de responsabilidade do setor”, afirmou Iuri. Ele lembrou que, em décadas anteriores, uma crise como a vivida em 2022/23 poderia ter colapsado a cadeia. “Hoje temos um setor estruturado, com canais de comercialização estabelecidos e uma estratégia consistente de valorização da carne suína.”
Exportações
Os dados de exportação apresentados por Iuri Machado também mostraram avanço. Nos primeiros cinco meses de 2025, o Brasil embarcou mais de 550 mil toneladas de carne suína, um crescimento de 16,8% em relação ao mesmo período de 2024. A China caiu para o terceiro lugar entre os destinos, atrás de Filipinas e Chile.
“O Japão já aparece em quarto lugar em volume, mas em segundo em faturamento — o que mostra a valorização do produto brasileiro nos mercados premium.”
Apesar do bom desempenho internacional, Iuri fez questão de reforçar o foco no consumidor brasileiro. “Se a crise tivesse ocorrido 15 anos atrás, o mercado interno não teria estrutura para absorver o volume. Hoje, temos canais consolidados, campanhas contínuas e um consumidor cada vez mais familiarizado com a carne suína. Isso salvou o setor e continuará sendo a principal garantia de sustentabilidade da atividade.”