Os avanços da genética aumentaram a prolificidade das porcas, resultando no aumento do tamanho da leitegada. No entanto, essa melhora concomitantemente diminuiu o peso médio da leitegada ao nascer e aumentou a variabilidade do peso entre e dentro das leitegadas, bem como a proporção de leitões com baixo peso ao nascer. Como consequência, o ganho médio diário (GMD) de leitões nascidos de leitegadas maiores também diminuiu.
Melhorar a taxa de sobrevivência, crescimento e resistência a doenças de todos os leitões, em particular leitões de baixo peso ao nascer, é essencial para melhorar a saúde dos leitões e a produtividade das porcas. É bem conhecido que a colonização intestinal no início da vida desempenha um papel central no desenvolvimento e maturação do intestino, melhorando assim o desenvolvimento e a resistência a doenças dos leitões. Além de uma ingestão suficiente de colostro e leite, várias substâncias nutricionais, como probióticos, prebióticos e vitaminas, provaram ser eficazes em aumentar a colonização intestinal e a saúde intestinal.
O uso de simbióticos vem ganhando interesse por combinar probióticos, que são microrganismos vivos, e prebióticos, que são fibras alimentares não digeríveis. Essa combinação melhora a taxa de sobrevivência e favorece o crescimento e a atividade de microrganismos benéficos no intestino.
A fermentação das fibras dietéticas por microrganismos no intestino produz ácidos graxos voláteis (AGV), principalmente acetato, propionato e butirato, que os animais utilizam como fonte de energia. Especificamente, os AGV produzidos no intestino grosso contribuem com até 11% das necessidades energéticas totais em suínos, enquanto os AGV produzidos no intestino grosso total contribuem com até 25% das necessidades energéticas. Em particular, alguns AGVs, como o butirato, estão envolvidos no desenvolvimento de colonócitos, o que leva à maturação intestinal adequada. Eles também mostraram reduzir o crescimento de patógenos potenciais (por exemplo, Clostridium e Salmonella) e promover o crescimento de bactérias benéficas (por exemplo, Lactobacilli spp.) diminuindo o pH do conteúdo intestinal.
Assim, a modulação da microbiota intestinal pelo uso de simbióticos e vitaminas no início da vida pode representar uma estratégia promissora para melhorar o fornecimento de energia dos leitões e evitar ou reduzir os efeitos prejudiciais da síndrome pós-desmame.
Material e métodos
No dia 106 (± 2) de gestação, 14 porcas Swiss Large White de duas séries de parto foram alojadas individualmente em baias de parto soltas de 7,1 m2, consistindo de 6,0 m2 de piso de concreto coberto com palha de trigo e 1,1 m2 de piso de aço galvanizado Nas baias de parto, os leitões tiveram acesso a uma área coberta e aquecida (1,37 × 0,60 m2) desde o nascimento até duas semanas após o desmame. Todos os animais tiveram acesso a água limpa. O parto foi induzido quando o tempo de gestação excedeu 115 dias para porcas primíparas e 116 dias para porcas multíparas.
Nas primeiras 10 h após o término do parto e após a mamada do colostro, leitões de oito leitegadas receberam 2 mL de suplemento por via oral (SUP +), enquanto leitões de outras seis ninhadas recebeu 2 mL de água (SUP−).
Ao longo do experimento, os leitões não tiveram acesso à dieta de porcas. O suplemento, recebido pelos leitões SUP +, era uma mistura dos dois probióticos, Enterococcus faecium (E1705) e Saccharomyces cerevisiae (E1703), inulina, imunoglobulinas, vitaminas e selênio. A composição química do suplemento analisada foi de 835 g de matéria seca, 150 g de proteína bruta, 351 g de gordura, 4 g de fibra bruta, 39.875 mg de vitamina E, 1.362.500 UI de vitamina A, 256.000 UI de vitamina D3, 48 mg de selênio, 5 × 1012 UFC de S. cerevisiae (E1703) e 3 × 1012 UFC de E. faecium (E1705) por kg de suplemento. A partir do dia 18 ± 1, os leitões tiveram acesso a uma dieta pós-desmame contendo 170 g de proteína bruta, 50 g de fibra bruta, 11,5 g de lisina e 14,0 MJ de energia digestível por kg de ração.
Durante o experimento, o desempenho dos leitões selecionados foi registrado por pesagem nos Dias 0 (ao nascimento), 2, 5, 16, 25 ± 1 (desmame), 32 ± 1 e 39 ± 1 após o nascimento. Do desmame ao Dia 39 (± 1), os leitões não foram misturados e permaneceram nas baias de parto.
No dia 16 e duas semanas pós-desmame (Dia 39 ± 1), as fezes foram coletadas de dois leitões por leitegada para determinar a microbiota e quantificar o nível de AGV. O perfil de AGV nas fezes foi determinado por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).
Resultados
Não houve diferenças na abundância e diversidade dos principais táxons, embora a suplementação tenha aumentado a abundância relativa de táxons raros, como bactérias dos filos Saccharibacteria e Cyanobacteria, e da classe Lentisphaeria no período de amamentação.
Conclusão
O presente estudo mostra que a suplementação de simbióticos, vitaminas, selênio e imunoglobulinas administradas ao nascimento melhorou o desempenho dos leitões após o desmame e diminuiu a ocorrência de diarreia, principalmente na primeira semana pós-desmame. O melhor desempenho, juntamente com a redução da diarreia, parece estar associado a alterações na microbiota fecal durante o período de amamentação, ao invés de duas semanas após o desmame. De fato, aos 16 dias de idade, a suplementação não afetou a abundância e diversidade microbiana dos táxons principais, mas afetou alguns táxons menos abundantes, como bactérias dos filos Saccharibacteria e Cyanobacteria, e da classe Lentisphaeria.
Além disso, a maior microbiota central dos leitões SUP +, principalmente a presença de membros do gênero Lactobacillus durante o período de amamentação, pode ter contribuído para uma melhor saúde. Este estudo enfatiza a importância das intervenções na primeira infância para melhorar o desenvolvimento e a saúde dos leitões no período pós-desmame.