Um americano de 57 anos portador de doença cardíaca e correndo risco de morte recebeu um coração de um suíno geneticamente modificado, no que foi um procedimento inovador que oferece esperança a centenas de milhares de pacientes com órgãos deficientes.
Segundo o “New York Times”, este foi o primeiro transplante bem-sucedido de coração de suíno em um ser humano. A cirurgia teve duração de oito horas e ocorreu em Baltimore, na sexta-feira (07/01/2022), e o paciente, David Bennett, passa bem, informaram cirurgiões do Centro Médico da Universidade de Maryland.
“Está funcionando e parece normal. Estamos emocionados, mas não sabemos o que o amanhã nos trará. Isso nunca foi feito antes” afirmou ao jornal americano o médico Bartley Griffith, diretor do programa de transplante cardíaco do centro médico, que realizou a operação. “Ele cria o pulso, cria a pressão, é o coração dele“.
Cientistas têm trabalhado na criação de suínos cujos órgãos não seriam rejeitados pelo corpo humano, numa pesquisa acelerada na última década por novas tecnologias de edição de genes e clonagem. O transplante de coração ocorreu apenas alguns meses depois que cirurgiões em Nova York anexaram com sucesso o rim de um suíno geneticamente modificado a uma pessoa com morte cerebral.
O coração transplantado para Bennett veio de um suíno geneticamente modificado fornecido pela Revivicor, uma empresa de medicina regenerativa. O animal tinha 10 modificações genéticas, sendo que quatro genes foram eliminados ou inativados, incluindo um que codifica uma molécula que causa uma resposta agressiva de rejeição humana.
Um gene de crescimento também foi inativado para evitar que o coração do suíno continuasse a crescer depois de implantado, disse o médico Muhammad Mohiuddin, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland.
Além disso, seis genes humanos foram inseridos no genoma do suíno doador — “modificações destinadas a tornar os órgãos suínos mais toleráveis ao sistema imunológico humano”.
Bennett decidiu apostar no tratamento experimental porque ele teria morrido sem um novo coração, não haviam outros tratamentos e não teria tempo de esperar na fila de espera por um coração humano, disseram familiares e médicos.
“Era morrer ou fazer esse transplante” — disse Bennett antes da cirurgia. “Eu quero viver. Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última escolha”.
Seu prognóstico ainda é incerto. Bennett ainda está conectado à máquina que o mantinha vivo antes da operação. O novo coração está funcionando e já está fazendo a maior parte do trabalho. O paciente está sendo monitorado de perto acerca de uma possível rejeição ao novo órgão, mas as primeiras 48 horas, que são críticas, passaram sem incidentes.
Ele também está sendo monitorado para infecções, incluindo retrovírus suíno, um vírus suíno que pode ser transmitido a humanos, embora o risco seja considerado baixo.
Para o médico David Klassen, diretor médico da United Network for Organ Sharing, que foi cirurgião de transplantes na Universidade de Maryland, essa operação é “um divisor de águas”.
“As portas estão começando a se abrir que levarão, acredito, a grandes mudanças na forma como tratamos a falência de órgãos”.
O xenotransplante, o processo de enxerto ou transplante de órgãos ou tecidos de animais para humanos, tem uma longa história. Os esforços para usar o sangue e a pele de animais remontam a centenas de anos.
Os suínos oferecem vantagens sobre outros animais para a obtenção de órgãos, porque são mais fáceis de criar e atingem o tamanho humano adulto em seis meses. Válvulas cardíacas de suíno são rotineiramente transplantadas para humanos, e alguns pacientes com diabetes receberam células do pâncreas suíno. A pele de suíno também tem sido usada como enxerto temporário para pacientes queimados.
Fonte: O Globo e New York Times
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