Erradicação de <i>Mycoplasma hyopneumoniae</i> em granja de suínos de ciclo completo: Relato de caso

Erradicação de Mycoplasma hyopneumoniae em granja de suínos de ciclo completo: Relato de caso

Mycoplasma hyopneumoniae é o principal agente causador da pneumonia enzoótica, um dos patógenos bacterianos mais comuns que afetam suínos e o principal contribuinte para comorbidades respiratórias e piora do desempenho zootécnico. A erradicação deste agente tem se mostrado uma estratégia promissora com benefícios sanitários e produtivos comprovados (Silva et al., 2019). De acordo com Yeske (2020) as abordagens mais utilizadas incluem a depopulação e repopulação, e fechamento da granja para entrada de marrãs associado a imunização e medicação do plantel.

Neste contexto, o presente relato de caso tem como objetivo descrever o programa de erradicação do Mycoplasma hyopneumoniae em uma granja multiplicadora de ciclo completo dentro de um modelo de produção brasileiro de cadeia longa, sem a realização de depopulação completa e apresentar os resultados zootécnicos e econômicos obtidos com a eliminação.

O programa de erradicação iniciou-se no ano de 2022 na granja Bom Retiro da DanBred Brasil, localizada em Presidente Olegário – MG. Trata-se de uma granja multiplicadora de ciclo completo de 1.620 matrizes da raça Large White. Antes de iniciar o processo, a granja foi separada em dois sítios: no sítio 1, encontravam-se os galpões de gestação e maternidade, enquanto no sítio 2 estavam os galpões de creche e terminação.

O método de erradicação adotado para o sítio 1 baseou-se no fechamento do rebanho, no qual em setembro de 2022 foram introduzidas 490 leitoas de origem positiva e previamente vacinadas para reposição do plantel durante 100 dias. Em seguida procedeu-se com a vacinação sequencial das matrizes (quatro doses) e medicação via ração com tiamulina (8,8 mg/kg por 10 dias). As instalações foram limpas e desinfetadas e os leitões receberam tulatromicina (2,5 mg/kg) ao nascimento.

Monitorias sanitárias foram realizadas para avaliar a prevalência do agente dentro do sistema, coletando swabs de orofaringe de 10% da população de matrizes a cada 21 dias, que na sequência foram enviadas ao laboratório para diagnóstico via PCR (Dubosson et al. 2004). Após a conclusão da erradicação do sítio 1 foi iniciado a depopulação do sítio 2 seguido de limpeza e desinfecção e após 14 dias de vazio sanitário foram introduzidos animais livres advindos do sítio 1.

Os indicadores zootécnicos da granja foram monitorados por meio da avaliação do desempenho produtivo dos lotes, para identificar eventuais diferenças entre os períodos de status sanitário positivo (Mhyo+), considerando os anos de 2020, 2021 e 2022 e negativo (Mhyo-), considerando os anos de 2024 até maio de 2025. O ano de 2023, considerado de transição, não foi incluído na análise. O ganho de peso diário (GPD), consumo de ração diário (CRD) e a conversão alimentar (CA) foram avaliados.

O período total do programa foi de 57 semanas desde o fechamento do rebanho até a reintrodução de leitoas livres na granja. Nas semanas iniciais (1 a 30), observou-se uma proporção consistente de animais positivos, variando entre 11% (15/135) e 32% (55/170) dos

animais coletados. A partir da semana 33, contudo, houve uma redução progressiva da prevalência de Mycoplasma hyopneumoniae (Gráfico 1). O tempo para a obtenção do último laudo positivo dentro do sistema foi de 54 semanas a partir da primeira coleta após o fechamento do rebanho.

Gráfico 1 – Prevalência de Mycoplasma hyopneumoniae no rebanho. [Erradicação de Mycoplasma hyopneumoniae em granja de suínos de ciclo completo: Relato de caso]

O desempenho zootécnico de terminação (Tabela 1) revelou que os suínos do grupo Mhyo- atingiram +1,42 kg de peso aos 165 dias de idade devido ao incremento de 0,038 kg de GPD em relação aos do grupo Mhyo+. Ademais, os animais Mhyo− apresentaram menor CRD, contribuindo para a diferença de 0,310 kg de CA. O tempo médio na fase de terminação foi semelhante entre os grupos, enquanto a taxa de mortalidade foi maior no grupo Mhyo+ em relação aos animais Mhyo-. Esses resultados evidenciaram que, além do progresso genético, houve um impacto significativo na sanidade e no desempenho zootécnico na fase de terminação, corroborando com os achados de Krebs et al. (2024).

Tabela 1 – Comparativo de desempenho zootécnico de lotes de suínos positivos e negativos para Mycoplasma hyopneumoniae [Erradicação de Mycoplasma hyopneumoniae em granja de suínos de ciclo completo: Relato de caso]

A eficácia na erradicação de M. hyopneumoniae foi demonstrada a partir da ausência de detecção do patógeno a partir de 54 semanas após o início do protocolo e permanece até o presente momento. Após a erradicação foi possível observar melhora significativa no desempenho zootécnico na terminação e redução da mortalidade. Os resultados demonstram que a eliminação do agente contribui tanto para a sanidade quanto para a eficiência produtiva em sistemas de ciclo completo. Embora os custos associados a implementação do programa de erradicação seja considerável, a eficiência produtiva do rebanho livre permitiu um retorno do investimento em 7,33 meses (avaliação econômica apresentada em detalhes em outro resumo também enviado ao Congresso da ABRAVES 2025).

Referências

Dubosson et al. Development of two real‑time PCR assays for the detection of Mycoplasma hyopneumoniae in clinical samples. Veterinary Microbiology, 102(1-2):55-65, 2004.

Krebs, S. et al. Impact of Mycoplasma hyopneumoniae infection on efficient and sustainable swine production. Journal of Animal Science, 102(Supplement_3):53-54, 2024.

Silva, G.S. Benefit-cost analysis to estimate the payback time and the economic value of two Mycoplasma hyopneumoniae elimination methods in breeding herds. Preventive Veterinary Medicine. v. 168, p. 95-102, 2019.

Yeske, P.E. Survival analysis of two Mycoplasma hyopneumoniae eradication methods. Preventive Vetrinary Medicine. v.174, n. 104801, p. 1-4, 2020.