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Falhas na compostagem e transporte mantêm disenteria ativa nas granjas, alerta Barcellos

Falhas na compostagem e transporte mantêm disenteria ativa nas granjas, alerta Barcellos

O painel “Problemas entéricos relevantes na recria e terminação”, realizado no último dia do SINSUI 2025, trouxe uma mensagem clara para os profissionais da suinocultura: falhas no manejo ambiental e no transporte de animais continuam sendo gargalos importantes para o controle de doenças como a disenteria suína.

A constatação foi feita por David Barcellos, professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS, que conduziu uma apresentação focada na erradicação da doença e nas causas de recontaminação dos sistemas.

Falhas na compostagem e transporte mantêm disenteria ativa nas granjas, alerta Barcellos

Barcellos destacou que, mesmo em sistemas tecnificados, a persistência da Brachyspira hyodysenteriae está diretamente ligada à ineficiência na compostagem de dejetos e ao transporte de animais portadores ou assintomáticos. Segundo ele, a falta de protocolos bem definidos para limpeza de salas de espera e veículos de transporte resulta na perpetuação da infecção, mesmo após tratamentos bem-sucedidos.

“A disenteria suína não surge do nada. Ela entra na granja e se mantém porque o ambiente favorece sua persistência. É um erro pensar que apenas eliminar o foco clínico resolve. Se não houver compostagem bem feita, tudo volta para a granja”, afirmou o professor.

Barcellos também defendeu maior investimento em diagnóstico precoce e quarentena em reprodutoras e multiplicadoras. Ele criticou a ausência de protocolos específicos no ciclo comercial e propôs que o setor busque desenvolver ferramentas nacionais, adaptadas à realidade das granjas brasileiras, para reduzir a dependência de soluções estrangeiras.

Infecção Subestimada

No mesmo painel, a pesquisadora Jalusa Deon Kich, da Embrapa Suínos e Aves, reforçou o alerta sobre Salmonella, apontando que a infecção segue sendo subestimada nas discussões técnicas, apesar dos impactos produtivos e comerciais. Segundo ela, dados recentes obtidos a partir de estudos de campo mostram um aumento da mortalidade em creche associado a surtos clínicos da bactéria, mesmo em granjas com vacinação em andamento.

“Se há mortalidade em creche por Salmonella, é porque a carga bacteriana já está em níveis muito altos. Isso significa que a contaminação ambiental e a falha no controle de portadores assintomáticos estão ocorrendo de forma significativa”, observou Jalusa.

A pesquisadora apresentou ainda dados que indicam prevalência de cerca de 6% de carcaças contaminadas com Salmonella no Brasil, segundo números oficiais. Embora o índice esteja dentro de uma média considerada aceitável, ela alertou para o risco crescente de resistência antimicrobiana.

A partir de amostras de carcaças, foram identificadas cepas monofásicas de Salmonella Typhimurium com genes de resistência a múltiplos antimicrobianos e até a metais pesados. A presença dessas cepas representa uma ameaça não só sanitária, mas também para a imagem da cadeia exportadora brasileira.

Jalusa também reforçou que os dados sobre resistência vêm sendo utilizados por países importadores como argumento para exigências mais severas. Em sua fala, mencionou que mercados como o da África do Sul não aceitam contêineres compartidos com cargas de outros países, e que os Estados Unidos exigem programas de controle equivalentes aos seus para manter a equivalência sanitária.

Falhas na compostagem e transporte mantêm disenteria ativa nas granjas, alerta Barcellos

O painel foi mediado por Roberto Guedes, professor titular da UFMG, e Ricardo Tesche Lippke, gerente técnico nacional de suínos da Boehringer Ingelheim. A discussão final reforçou o papel estratégico da vigilância sanitária integrada — que inclui diagnóstico, biosseguridade, controle ambiental e manejo de transporte — como ferramenta para conter os impactos produtivos e comerciais das doenças entéricas no Brasil.

 

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