Hiperprolificidade além dos números: genética, manejo e ambiência em equilíbrio
No estúdio agriPlay, dentro da Pig Fair e em parceria com o Nucleovet, quatro especialistas em genética suína — Amanda Pimenta Siqueira, Marcos Lopes, Geraldo Shukuri e Thomas Bierhals — apresentaram uma visão convergente: a hiperprolificidade do futuro só é eficiente quando combina seleção genética, biologia materna, ambiência e execução de campo com disciplina de dados e foco econômico.
Assista a entrevista completa:
- Para Amanda Pimenta Siqueira, a chave é integrar seleção e operacionalização. “Quando falamos de hiperprolificidade sustentável, temos de ir além dos nascidos: número de tetos viáveis, peso ao nascimento e à desmama e sobrevivência em maternidade determinam os ‘quilos desmamados por matriz’.”
Ela citou ganhos objetivos na população: “Saímos de pouco mais de 50% para mais de 70% de fêmeas com ≥16 tetos; em multiplicadores de linha materna, acima de 95% já têm ≥16.” E alertou para dois pontos cegos: “Ambiência e nutrição precisam acompanhar o progresso genético; fêmea fora do conforto térmico não consome e não lacta.”
- Marcos Lopes enfatizou a adaptação do campo ao novo perfil de fêmeas e leitegadas. “A ‘famosa’ frase ‘eu sempre fiz assim’ não cabe mais.” Segundo ele, práticas iniciais definem o resultado: “Partos mais longos exigem manejo de colostro; se erramos ali no início, a chance de dar errado lá na frente é muito grande.”
No mesmo sentido, pediu pragmatismo em nutrição: “Não adianta economizar ração na reprodução. Com 16 tetos funcionais e 16 leitões, a demanda energética é enorme; a dieta e a oferta têm de estar à altura.”
- Do lado do equilíbrio biológico–econômico, Geraldo Shukuri foi direto: “Não adianta aumentar o número de nascidos se não consigo desmamar esses animais.” Ele vê evolução consistente em campo: “Leitegadas maiores vieram com mais habilidade materna e melhor sobrevivência; hoje é comum ver desmama de 38, 39, 40 leitões por matriz/ano.”
Sobre qualidade do plantel, resumiu: “Aquela realidade de 20–25% de leitões de baixa viabilidade não é mais a regra; a uniformidade melhorou e os sobreviventes chegam mais aptos às fases seguintes.”
- Thomas concentrou-se na autossuficiência da fêmea e na independência de estrutura e mão de obra. “Precisamos de matrizes que desmamem o máximo dos leitões que geram.” Para isso, destacou o peso ao nascimento: “Leitegadas numerosas com média acima de 1,6 kg reduzem a necessidade de intervenções e dependência de pessoal.”
E propôs um ajuste fino na seleção: “Vale diminuir um pouco o pé em nascidos vivos e acelerar em qualidade do leitão; não podemos ficar limitados ao sucesso por ter gente suficiente atendendo partos e uniformizando leitegadas.”
O consenso do painel aponta para um roteiro prático:
- Seleção balanceada (nascidos + tetos viáveis + peso ao nascer/desmama + sobrevivência), com ferramentas de comportamento materno e genômica;
- Ambiência com climatização e faixas térmicas adequadas para manter ingestão e lactação;
- Nutrição de precisão na reprodução, evitando suboferta em fêmeas de alta demanda;
- Execução disciplinada no início do ciclo (colostro, rotinas de maternidade) e capacitação de equipes.
“A mensagem é a visão integrada para explorar o máximo potencial genético.” — Amanda Pimenta Siqueira
“A nova realidade exige manejo de colostro e dieta à altura; ‘eu sempre fiz assim’ não entrega mais.” — Marcos Lopes
“Eficiência é desmamar o que nasce: mais habilidade materna, mais sobrevivência e melhor uniformidade.” — Geraldo Shukuri
“Mais peso ao nascer dá autonomia à granja e à matriz; menos dependência de estrutura e de pessoas.” — Thomas
Os quatro especialistas convergiram: a hiperprolificidade que interessa ao produtor é a que se paga, com sobrevivência elevada, uniformidade e ambiente que permita à genética expressar desempenho — sem criar dependências difíceis de sustentar no dia a dia da granja.
Assista a entrevista completa: