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Não se trata simplesmente de reduzir os antimicrobianos, é preciso saber como fazer!

Escrito por: Eduardo Miotto Ternus - Médico veterinário, graduado na Universidade do Estado de Santa Catarina, Mestre em Ciência Animal pela mesma instituição. Atuou na empresa BRF por 13 anos na área de Suinocultura passando pelas diferentes áreas de extensão rural nos setores de produção de leitões, terminação, central de inseminação, sistema Quarto Sítio. Veterinário Sanitarista, Supervisor da recria e terminação de suínos. Especialista Corporativo na área de Reprodução, Recria e Terminação de suínos. Desde 2019 atuando como Coordenador Técnico Suínos América Latina na Vetanco e Doutorando no Programa de Ciência Animal na Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC).

Os antimicrobianos têm sido utilizados na produção animal para tratamento, prevenção de doenças e como promotor do crescimento por mais de 50 anos e o impacto disso sobre o tratamento de doenças em humanos está sendo amplamente debatido, pois a crescente conscientização dos possíveis efeitos negativos dos antibióticos promotores de crescimento (APC) resultou em um interesse crescente em produzir suínos sem o uso destes medicamentos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em alguns países aproximadamente 80% do uso total de medicamentos de importância na medicina humana, ocorre no setor animal, principalmente como promotor de crescimento.

Tendo em vista estes dados, a OMS recomenda a restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana como promotor de crescimento em animais de produção.

Nos últimos anos, o Brasil vem trabalhando em linha com as diretrizes da OMS sobre o uso de antimicrobianos de importância médica em animais destinados a  produção de alimentos, realizando diversas proibições de uso de algumas moléculas, medida criada para prevenir e controlar a resistência aos antimicrobianos, o que, atualmente, está entre os maiores desafios para a saúde pública, com importante impacto na saúde humana e dos animais.

Somado a todos estes problemas, ainda, temos na outra ponta da cadeia os consumidores, que vem aumentando a demanda por proteína animal produzida sem ou com o uso restrito de antibióticos. A pressão para reduzir o uso de APC na pecuária é um processo crescente e irreversível, e vários países estão aderindo às restrições e proibição do uso de APC. The Lancet Planetary Health mostrou que as intervenções restringindo o uso de antibióticos em animais de produção reduziram as bactérias resistentes a antibióticos em até 39%.

Ademais de todo problema de resistência antimicrobiana, outro ponto fundamental que merece ser mencionado é a falta de seletividade que os antibióticos possuem. Eles cumprem o papel para o qual foram concebidos, é dizer que um princípio ativo que tem ação antimicrobiana sobre as bactérias Gram + vai eliminar todas as bactérias Gram +, sejam elas patogênicas ou bactérias benéficas, justo pelo que comentamos, por sua falta de seletividade.

Muito importante lembrar que muitas das bactérias que compõem a flora benéfica são bactérias Gram + como os Lactobacillus, Lactococcus e Bifidobacterium. Isso nos leva a um dos principais efeitos colaterais no uso dos antimicrobianos que é a disbiose. E este desequilíbrio pode vir a ser tão prejudicial quanto o próprio desafio que se está combatendo.

Por estes problemas supracitados em função do uso dos antimicrobianos é que a pressão sobre a redução no seu uso, principalmente nos animais de produção, tem se baseado. Porém, não se trata somente de simplesmente retirar ou reduzir o uso dos antimicrobianos, infelizmente não é tão fácil assim.

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