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O mercado da suinocultura em 2022 e perspectivas para 2023

Escrito por: Alvimar Jalles - Consultor de marcado da Associação Dos Suinocultores Do Estado De Minas Gerais (ASEMG) , Iuri Pinheiro Machado - Consultor de Mercados da Associação Brasileira dos Criados de suínos (ABCS)

Assista à entrevista no Canal da agriNews TV Brasil

Após um ano de crise histórica, a suinocultura brasileira encerra o ano de 2022 com crescimento da produção de suínos ao redor de 6% em relação a 2021, as exportações em volumes similares à 2021 e com um novo recorde de consumo per capita ano de carne suína, superando a marca dos 19 kgs.

Para o ano de 2023, espera-se um crescimento do abate entre 3 e 5% e um incremento das exportações na ordem de 2%, determinando um melhor ajuste entre oferta e demanda no mercado doméstico.

E para compreender o cenário da crise de 2022 e as perspectivas para 2023 a suínoBrasil entrevistou o Consultor de Mercados da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Iuri Pinheiro Machado e o Consultor de Mercados da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (ASEMG), Alvimar Jalles.

 

 

Iuri, ao analisarmos a crise que a suinocultura enfrentou em 2022 e compararmos com um cenário de sete anos atrás, haveria uma dificuldade de retirada dos animais das granjas. Gostaria que você comentasse sobre as ações que a ABCS vem fazendo e sobre a demanda por carne suína no mercado nacional.

 

Essa crise foi realmente diferente em função do aumento do crescimento da produção em curto espaço de tempo. Em questão de dois anos, praticamente (2019 -2021), tivemos um crescimento na produção de quase 20%. Crescimento expressivo em um curto período de tempo.

Em 2021 tivemos uma desaceleração das importações por parte da China, isso fez com que a oferta no mercado interno aumentasse de forma bastante significativa. Foi estimado a entrada de 300 mil toneladas de carne a mais, em relação ao ano anterior e isso fez com que os preços pagos ao produtor caíssem e, somado ao custo de produção elevado, tornou a atividade deficitária durante esse período.

Por isso que entendemos que se fosse há 7 anos atrás nós teríamos mais dificuldades, porque hoje temos pelo menos os canais de consumo e de comercialização muito melhores em comparação ao que nós tínhamos há, 7 ou 8 anos atrás.

E isso também é um trabalho do setor, o trabalho da ABCS, junto ao varejo, às indústrias para melhorar a forma de apresentação da carne suína, pra desenvolver o marketing da carne em si.

Então, realmente nós fizemos uma mudança de patamar e o trabalho de marketing deve continuar para que esse crescimento continue sendo aceito pelo mercado e o que a gente espera em termos de crescimento é que: o setor vai continuar aumentando a produção, mas não no mesmo ritmo que veio esses dois anos, de 8 a 9% ao ano, vai ser em um patamar próximo de 3 a 4% e aos poucos o mercado, o preço pago ao produtor deve chegar em um patamar que propicie lucratividade e uma maior estabilidade no setor.

 

Alvimar, eu gostaria que você comentasse agora sobre uma ressalva que você fez durante a PORKEXPO 2022: “Não se ganha mercado no grito, mercado é ciência, fundamentos, dados, fatos, arte que tá no feeling, inteligência e prática”.

O propósito da nossa abordagem é realmente desmistificar a formação de preços no Brasil. Porque ela vem sendo determinada ao longo dos anos de forma muito emocional, baseada exclusivamente em opiniões e na esteira desta falta de informações objetivas da oferta, principalmente oferta, vão se criando os mitos. E esses mitos, eles vão sendo enraizados nas pessoas e a gente começa a repetir como se fosse verdade. E depois, quando você vai conferir, analisando dados históricos, aquilo não corresponde à realidade.

Sempre escutamos que um dos problemas da carne suína é que o varejo não reduz o preço. Isso não resiste à um único gráfico, tá certo? E por quê? Porque quando a gente deflaciona os preços, percebemos que os cortes de carne suína, corrigidos pela inflação, estão caindo há muitos anos e às vezes eles tentam recuperar num curto espaço de tempo, mas a trajetória de longo prazo é de queda muito grande.

Precisamos entender de verdade o que está acontecendo através dos fatos, através dos dados.

É preciso entender e estudar os fundamentos de mercado. Mercado não é feito de boa vontade, mercado é feito de oferta e procura.

Mercado é litígio, litígio adulto, mercado não é benevolência, tá certo? Então, quando você junta os fundamentos de mercado com os dados objetivos e vai praticando-o durante várias semanas, temos mais de duzentas semanas de análise de preço baseado em dados e fatos. Não sou só eu, isto é um grupo que já funciona assim. Não se forma preços baseados em conceitos errados e/ou mitos.

Tal fato permite que você entenda de verdade o que está acontecendo e abra mão, descarte esses mitos, essas lendas.

E por que isso é importante? Porque isso altera suas escolhas. Quando você entende de verdade o que está acontecendo, você observa a formação de preço, age em relação às flutuações de preço e vai cuidar da empresa, não fica preso na armadilha da reclamação sem sentido.

O dilema da formação de preço ocupa um espaço tão grande na pauta da suinocultura que ninguém fala de planejamento, ninguém fala de balanço, na hora que está bom ninguém debate o futuro, a gente só discute a suinocultura na fase ruim. Porque a gente tá sempre numa luta com o frigorifico: “Em um momento vencemos, depois eles estão nos massacrando”. E nada disso é verdade!

O nosso objetivo, aqui baseado na história de sucesso de Minas Gerais, é tocar as pessoas sobre isso, para literalmente gerar reflexão. Ao analisarmos a pauta da suinocultura, principalmente a independente, ela tem dois debates, produtividade e preço.

Não é que não sejam importantes, mas falta a pauta do planejamento e a pauta do balanço. Essa falta coloca o futuro da atividade em risco.

Acreditamos que, ao se cristalizar os conceitos e o jeito que o preço se forma, ele diminua de importância no debate, e precisamos trazer ao debate a questão do planejamento e a questão dos balanços e do caixa. Então essa é a nossa visão.

O mercado da suinocultura em 2022 e perspectivas para 2023

 

Iuri, gostaria que comentasse o seguinte questionamento: “A carne suína está barata?”. Neste sentido, qual o indicador deve ser considerado para responder a esse questionamento?

Temos que ter em mente que esse é sempre um conceito relativo. O que está caro, o que está barato.

Ao analisarmos uma carcaça suína hoje em relação ao que foi durante a pandemia em 2020, o preço está muito mais baixo. E manteve esse preço em 2021 e ao longo de 2022.

Mas a gente tem que comparar justamente com as outras carnes, acho que esse é um ponto importante, não apenas com outras carnes, mas especialmente com a carne de frango.

Ao avaliar a carcaça suína tipo exportação em comparação com a carcaça resfriada de frango, observamos uma diferença de, aproximadamente, 30%, estando a carne suína mais cara que a de frango.

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Sabe-se que o custo de produção do suíno é mais alto que o do frango, pelo menos 40% se compararmos a conversão alimentar de um animal para o outro (1.65 para o frango e 2.3 para o suíno, por exemplo). Então, hoje a nossa carne em relação a carne de frango está muito barata, em relação a carne bovina nem se fala, já há alguns anos que a carne bovina descolou do preço.

Uma outra maneira para analisar se a carne está cara ou não, é com relação ao mercado de exportação.

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Hoje nosso mercado de exportação está pagando pela nossa carne (cortes suínos principalmente, cortes de carne in natura) em torno de US$ 2.500/tonelada. Convertendo isso para reais, ainda se mantém próximo do valor da carcaça no doméstico. Do ponto de vista de atratividade, até para a exportação, nós já tivemos situações melhores.

Diante de tudo isso que podemos comparar, hoje podemos afirmar que a carne suína está barata! Para o consumidor final e infelizmente para o produtor também.

O que o setor pode fazer para não enfrentar uma crise como essa intensidade nos próximos anos?

ALVIMAR: Uma das sugestões é o estímulo a debates com a nossa cadeia.

Nos momentos de boas fases, ninguém fala nada, está tudo certo. Mas em momentos ruins, todo mundo quer discutir a suinocultura. Nós temos que conversar sobre a suinocultura em todas as fases, inclusive na boa fase!

E já me perguntaram isso: “Alvimar, você acha que essa crise seria evitável?” A minha opinião: “não, de jeito nenhum, ela não seria evitável, ela poderia não ser nesta proporção”.

Isso, porque se durante a boa fase tivéssemos conversado abertamente dos riscos, certamente alguns profissionais teriam tido posições diferentes.

E por que eu chamo atenção pra isso? Porque tem um hábito arraigado ainda (precisamos perdê-lo) de que ao fazer análise e se ela não for sempre positiva, esse analista, esse interlocutor está torcendo contra. E não tem nada disso! É justamente ao fugir do debate que a gente planta a crise no próximo ciclo. Então é justamente ao contrário do que se pratica hoje.

E uma outra contribuição, que eu gostaria de comentar é que, quando você começa a fazer balanço (financeiro, contábil) ocorre uma mudança da sua visão sobre a sua empresa. Você para de misturar leitão nascido vivo com cheque devolvido, porque hoje é tudo num balaio só, você começa a se transformar.

Após um ano de balanço, você é uma pessoa. Após três anos funcionando fazendo balanços, você será outra pessoa. Cinco, dez, quando você tiver dez anos de balanço, o jeito que você vai encarar o seu negócio, pensar sobre ele, agir sobre ele, vai ser totalmente diferente quando você não tinha nada e achava que só ter desmamados/matriz/ano e peso de venda resolvia o problema.

Concluindo, longe de nós termos a pretensão de dar uma solução pro futuro, o que fazemos são reflexões, propostas. Mas como eu disse, o debate tem que ser ampliado, sair do preço e da produtividade e incorporar balanços e planejamentos, a partir daí a gente amadurece de verdade e minimiza as crises, não vamos extingui-las porque o capitalismo é feito de crises.

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IURI: Crise vai ter sempre, concordo plenamente com o Alvimar, qualquer atividade entra em crise. E o que que provoca uma crise? Normalmente é oferta, excesso de oferta!

Nós tivemos uma crise que em determinado momento tínhamos excesso de oferta e o custo elevado também. Vamos colocar assim o que teoricamente estaria nas nossas mãos:

Teríamos que raciocinar em duas esferas:

E essas duas esferas elas precisam de informação. Isso é o mais importante, a gente tem que ter informação em tempo real, para definir cenários futuros.

Por exemplo, se eu sei quanto que vendeu de sêmen agora, eu sei que daqui a dez meses eu vou ter uma produção equivalente àquela venda de sêmen que foi feita no país hoje ou naquela região.

E trabalhando com essas informações, com os produtores e os agentes da cadeia, eles propriamente vão regular o mercado sem necessidade de haver um ente superior ou um ente governamental para regular esse mercado.

O mercado desregula justamente através dessa dor da crise ou através da informação. Com informação eu consigo antever cenários e aí eu, como produtor, vou dizer assim:

“Eu vou assumir o risco de daqui a dez meses, daqui a um ano e meio eu estarei vendendo meus animais no mercado superofertado mas eu vou assumir esse risco porque eu acho que outros vão sair da atividade e eu vou assumir aquele mercado e aquela oportunidade que vai ter lá”

“Eu vou me precaver de tal forma que agora eu vou segurar minha produção, não vou ampliar o meu plantel e vou passar por essa crise até que a gente tenha margens positivas novamente”.

Outro ponto fundamental a ressaltar é que nós não definimos o preço, quem define é o mercado. Mas o nosso custo, parte dele, grande parte dele a gente pode controlar.

Comprando estrategicamente os grãos, tendo uma gestão dos insumos correta, operando nesse mercado futuro de grãos com uma série de ferramentas, são maneiras de pelo menos termos uma previsibilidade em termos de custos.

O preço que eu vou vender é o mercado que ditará lá na frente.

Agora, parte do custo eu posso fazer, comprando antecipadamente o grão, produzindo o meu grão, tendo um travamento nos preços do farelo e do milho. São esferas que a gente tem que trabalhar.

O mercado da suinocultura em 2022 e perspectivas para 2023

Não é fácil, é uma questão complexa, mas a cada crise que passa, existe uma seleção natural em que aqueles produtores menos eficientes, aqueles que não fizeram caixa para aguentar a crise, acabam saindo do setor e vão ficando aqueles mais estruturados e que entendem melhor o mercado.

Isso é um paradoxo, faz com que as crises também durem mais. Se estou mais estruturado, demoro mais para sair da atividade ou reduzir a minha produção para controlar. Então devemos ter em mente uma situação de que a suinocultura realmente mudou de patamar, e que nós em função dessa mudança de patamar, também temos que mudar o nosso patamar de controle de informações, de busca de informações.

O mercado da suinocultura em 2022 e perspectivas para 2023

Nesse contexto está inserida a ASEMG, que pode expandir esta plataforma para outros estados, afim de ter um controle regional e até nacional de produção, de retenção de animais nas granjas, de comportamento de mercado. E essas outras informações que vão dar subsídio para o produtor definir, individualmente, se ele crescerá ou não na atividade.

 

Para encerrar esse bate-papo, qual é o horizonte a curto e médio prazo pra suinocultura nacional?

ALVIMAR: Eu tenho mais de trinta anos de formado e tem quarenta anos que a suinocultura de Ponte Nova está desaparecendo e ela não desaparece nunca.

Nós temos que fazer exatamente o que nós dois estamos falando: “cada um tem que ir aperfeiçoando a sua gestão para superar desafios que às vezes a gente nem conhece”.

Ocorreu uma elevação do consumo de carne suína, mesmo com a redução de renda no país. Isso porque ela tem um estilo muito forte vindo do mercado externo. Quando a gente analisa as três principais carnes e coloca em uma mesma ótica, a curva de consumo somada tem a mesma curva do PIB per capita. Ou seja, o futuro também depende das melhores condições das pessoas. Para os empresários prosperarem é muito importante que as pessoas tenham renda para se alimentarem melhor

IURI: Objetivamente no curto e médio prazo, acredito que, devemos fechar 2022 e manter em 2023 o crescimento mais razoável em torno de 4% de produção. Esse é um crescimento que nós conseguimos atender oscilações no mercado de exportação e ao mesmo tempo manter o crescimento um pouco acima do vegetativo, dentro do mercado doméstico e que haja um ajuste entre oferta e demanda que permita que o produtor tenha lucro.

Isso é o que entendemos que deva acontecer em 2023. Claro que existem oscilações sazonais, a gente sabe que o início do ano é sempre mais complicado, há uma melhora na demanda do mercado interno no segundo semestre. Com relação ao custo de produção, temos uma expectativa de safra de grãos muito boa para o Brasil em 2023.

Existem outros fatores, como câmbio, a guerra da Rússia X Ucrânia, se ela se agravar ou se ela se resolver, tudo isso pode interferir nesse mercado internacional. Finalizando, eu acredito que vai ser um ano melhor do que esse, 2023 pode ser um ano mais estável, mas ainda um ano de recuperação porque realmente foi praticamente um ano e meio de produtores operando no vermelho.

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