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O uso de fitobióticos na produção de suínos

O uso de fitobióticos na produção de suínos

O uso de antibióticos na suinocultura, tanto para fins terapêuticos quanto como promotores de crescimento (APCs), foi amplamente difundido nas últimas décadas. No entanto, a crescente preocupação em relação à resistência antimicrobiana e os riscos associados à saúde pública levaram diversos países e organizações internacionais a restringirem ou proibirem o uso desses princípios ativos na produção animal (WHO, 2019; WOAH, 2024).

A União Europeia foi pioneira na restrição de antibióticos na suinocultura, banindo seu uso como promotores de crescimento em 2006 (European Commission, 2003).

Em 2022, reforçou essas medidas com o Regulamento (UE) 2019/6, que proíbe o uso profilático e restringe o metafilático de antimicrobianos (European Union, 2019), além de proibir o uso terapêutico de óxido de zinco na alimentação de leitões por razões ambientais e sanitárias (EMA, 2017).

No Brasil, o MAPA adotou restrições, como a proibição como promotores de crescimento da:

Essas restrições têm impulsionado a eliminação progressiva do uso preventivo de antibióticos na produção animal e estimulado a adoção de alternativas sustentáveis para promover a saúde e o desempenho dos suínos.

Entre os principais aditivos substitutivos, destacam-se os:

Os fitobióticos, compostos naturais derivados de plantas, têm sido uma alternativa promissora e multifuncional no controle de distúrbios entéricos e na promoção do crescimento (Pandey et al., 2023).

Fitobióticos na produção de suínos

Fitobióticos são compostos bioativos de origem vegetal, como óleos essenciais, extratos, ervas, especiarias ou seus componentes isolados, que são utilizados como aditivos alimentares em rações animais.

Embora ainda não haja uma padronização oficial, os fitobióticos são geralmente classificados com base na origem vegetal e nos métodos de extração:

Na Tabela 1, são descritos exemplos das respostas fisiológicas e produtivas observadas em suínos, de acordo com a classificação funcional dos fitobióticos.

As atividades funcionais dos fitobióticos estão relacionadas à presença de compostos bioativos como:

 

Apesar do reconhecimento de seus benefícios, os mecanismos de ação desses aditivos naturais ainda não estão totalmente elucidados, principalmente em razão da complexidade química e da ampla diversidade de metabólitos secundários presentes nas plantas (Pandey et al., 2023).

No entanto, sabe-se que eles exercem efeitos benéficos por meio de propriedades antimicrobianas, antioxidantes, anti-inflamatórias, imunomoduladoras e digestivas, contribuindo para a saúde intestinal e o desempenho produtivo dos animais (Pandey et al., 2023; Zeng et al., 2015).

Efeitos antimicrobianos

Os fitobióticos exercem ação antimicrobiana por diferentes mecanismos, incluindo:

A maioria dos estudos demonstram que componentes fenólicos, como timol, carvacrol, limoneno, geraniol, fenilpropano e citronelal, estão entre os antimicrobianos mais potentes.

Um nutracêutico composto por tomilho (Thymus vulgaris), alfarroba (Ceratonia siliqua) e chicória (Cichorium intybus), demonstrou benefícios significativos em termos de atividade antimicrobiana contra isolados de Brachyspira hyodysenteriae. Em testes in vitro, o nutracêutico mostrou uma eficácia comparável, e em alguns casos superior, aos antimicrobianos tradicionais, como tiamulina, valnemulina, doxiciclina, lincomicina e tilosina (Daniel et al., 2017).

Propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias

As propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias dos fitobióticos desempenham um  papel crucial na mitigação dos efeitos do estresse oxidativo ao qual os suínos estão frequentemente expostos. Esse estresse, desencadeado por fatores como o desmame, ambiência, manejo alimentar e a presença de micotoxinas na ração, leva ao desequilíbrio entre a produção e a eliminação de radicais livres (Hao et al., 2021).

Os mecanismos antioxidantes e anti-inflamatórios exibidos pelos fitobióticos são amplamente atribuídos à regulação das vias de sinalização, conforme destacado por Li et al. (2021).

A curcumina, composto ativo da cúrcuma, tem demonstrado efeitos positivos na suinocultura, pela potente ação anti-inflamatória no intestino delgado, auxiliando na proteção da mucosa intestinal (Bereswill et al., 2010).

Modulação da microbiota intestinal

Além do potencial de inibir bactérias patogênicas e desencadear uma série de respostas benéficas no hospedeiro, é descrito que o uso de fitobióticos promove a melhoria da microbiota intestinal benéfica, bem como as funções digestiva e imunológica (Li et al., 2021).

Estudos demonstraram que leitões alimentados com dietas contendo feno-grego (Trigonella foenum-graecum) apresentaram maior abundância de Lactobacillus e redução significativa de microrganismos potencialmente patogênicos, como Escherichia, Hafnia e Shigella, no intestino delgado (Zentek et al., 2013).

Os prebióticos, principalmente carboidratos complexos que são encontrados na semente de alfarroba (Ceratonia siliqua) e na chicória (Cichorium intybus), servem como substratos para a microbiota intestinal benéfica como Lactobacillus e Bifidobacterium, estimulando seletivamente o crescimento e a atividade de bactérias intestinais centrais específicas ou mais dominantes (Slavin, 2013; Gibson et al., 2017).

Considerações finais

Em um cenário de crescente restrição ao uso de antibióticos, os fitobióticos têm se consolidado como uma alternativa viável e segura na produção de suínos. Sua ampla gama de efeitos benéficos aliada à ausência de resíduos, os torna ferramentas estratégicas no manejo nutricional e sanitário, contribuindo para sistemas produtivos mais sustentáveis, eficientes e alinhados às exigências dos mercados consumidores e órgãos reguladores.

Utilizar fitobióticos deixou de ser uma possibilidade e passou a ser uma oportunidade para através da correta combinação dos melhores ativos alcançar distintos resultados, seja no controle de enfermidades, seja na melhoria dos parâmetros produtivos como promotor de crescimento natural.

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