Pós-desmame sem óxido de zinco: roteiro prático para atravessar a transição com menos perdas
No estúdio agriNews Play — iniciativa da suínoBrasil e estúdio oficial do 21° Congresso Nacional da Abraves — o professor César Garbossa apresentou um guia direto para a suinocultura brasileira se preparar para um cenário sem óxido de zinco no pós-desmame, tendência já consolidada na União Europeia (limite atual de 150 ppm).
“Não é simples, mas é possível. Quanto antes começarmos, menor o choque quando a mudança chegar”, resume.
Assista a entrevista completa:
Segundo Garbossa, a travessia combina manejo sólido, formulação inteligente e aditivos bem escolhidos. Ele lista três pilares inegociáveis:
- Desmame e preparo do leitão – Elevar idade de desmame quando viável; estruturar creep feeding pré-desmame; reduzir mistura de origens e priorizar origem única. “O creep cria familiaridade com a ração e suaviza a queda de consumo pós-desmame.”
- Ambiência e rotina – Receber o leitão em ambiente limpo, seco e aquecido; reforçar lavagem, desinfecção e vazio sanitário; checar água e comedouros e observar o lote duas vezes ao dia. “O melhor sensor é o próprio animal: apatia, arrepiado e diarreia pedem intervenção rápida.”
- Nutrição focada em saúde intestinal – Reduzir proteína bruta para limitar substrato fermentável no intestino grosso; baixar o poder tamponante (alvo de ~200 mEq/kg nos primeiros 0–10 dias e ~250 mEq/kg a partir de 10 dias) para favorecer pH gástrico mais baixo; usar aditivos com função comprovada: plasma (com efeito além de ingrediente), fitogênicos/polifenóis, ácidos orgânicos (em blends com diferentes pKa), pré-, pró-, pós- e simbióticos, fibras funcionais e enzimas.
No controle de E. coli pós-desmame sem óxido, Garbosa destaca o papel dos ácidos orgânicos na modulação do pH ao longo do TGI e a sinergia com probióticos e fibras. Sobre cobre em níveis elevados, antecipa que seguirá o caminho do zinco: “A regulação vai apertar; a resposta está em dietas mais digestíveis e em nutrição de saúde, não em muletas.” Para isso, propõe que o nutricionista atue como “nutrólogo”, orquestrando ingredientes, aditivos e metabolismo com foco na integridade intestinal.
No detalhamento do creep, o professor citou estudos que mostram maior consumo quando o coxo fica próximo à cabeça da matriz, recomendou manter a mesma formulação do creep na primeira ração pós-desmame e citou o imprinting de sabor na gestação/lactação para reduzir neofobia. Uma meta-análise conduzida pelo grupo indica benefícios ao estender o creep por ~14 dias, mesmo com algum desperdício.
Assista a entrevista completa:
Para quem quer “pilotar” a mudança, Garbosa sugere uma linha do tempo prática:
- Fase 1 – Arrumar a casa: consolidar básico (biossegurança, limpeza, programa vacinal, ambiência, idade de desmame, fluxo e origens).
- Fase 2 – Ajustar a dieta: reduzir PB, calibrar ABC-4, definir pacote de aditivos e fibras, validar matérias-primas.
- Fase 3 – Reduzir Zn gradualmente: testar meia dose e monitorar consumo, consistência fecal, ganho e tratamentos.
- Fase 4 – Medir e iterar: rotina de checagens diárias na primeira semana e ajustes finos por lote.
“Pode parecer distante, mas quando vier, virá de forma impositiva. Preparar-se agora é mais barato e seguro do que reagir depois”, conclui. Garbosa reforça a confiança no sistema produtivo nacional e um recado final: “Confie na ciência feita aqui. A academia está ao lado do produtor para transformar conhecimento em resultado de campo.”
