Sustentabilidade que gera resultado: prioridades práticas para a suinocultura, por Sula Alves (ABPA)
No estúdio agriPlay — iniciativa da suínoBrasil e espaço oficial de entrevistas do 21º Congresso Nacional da Abraves —, Sula Alves, diretora técnica da ABPA, traduziu sustentabilidade em linguagem de manejo: saúde animal como pilar, biosseguridade simples e bem-estar que reduz antibiótico, com foco em mercado e competitividade.
Para Sula, tratar sustentabilidade apenas como “meio ambiente” é perder dois terços do problema. O conceito, lembra, é tripé: ambiental, social e econômico e só se sustenta quando há equilíbrio. A suinocultura brasileira precisa avançar na pauta ambiental sem descuidar do resultado e do emprego no campo.
“Saúde animal é o ponto de partida. Sem sanidade, não existe produção estável nem sustentabilidade”, resumiu.
Assista a entrevista completa:
Na granja real, por onde começar amanhã sem grandes obras? Sula elenca decisões de alto impacto e baixo custo:
- Biosseguridade simples e diária: isolamento funcional da unidade, rotas limpas/sujas, higiene rigorosa, controle de acesso e de insumos. Nada sofisticado: é rotina bem-feita.
- Bem-estar como motor de eficiência: enriquecimento ambiental acessível, manejo calmo e boas relações homem–animal. Isso estabiliza comportamento, melhora consumo e reduz necessidade de antimicrobianos. “Tecnologia ajuda, mas quem entrega é gente treinada”, pontuou.
- Uso racional de antimicrobianos: protocolos, registro e revisão. O objetivo é menos uso por quilo produzido, mantendo desempenho e proteção sanitária.
Em gestão de dejetos, Sula foi direta: é obrigação ambiental e oportunidade econômica. Fertirrigação planejada e biodigestores ganharam tração com linhas de financiamento e melhor retorno. O freio histórico foi custo; a virada vem de projetos bons, crédito adequado e visão de competitividade (energia, créditos de carbono, menor passivo ambiental).
“É caminho sem volta — como a energia solar: já teve payback longo, hoje se paga rápido”, comparou.
Sobre bem-estar na régua de mercado, o que o comprador quer ver?
- Ambiente que permita comportamento natural (enriquecimento, manejo menos restritivo, alimentação bem calibrada).
- Evidências: indicadores, auditorias, registros fotográficos e treinamentos recorrentes.
- Evolução contínua: metas factíveis por perfil de granja, evitando promessas vazias.
Assista a entrevista completa:
Nos mercados internacionais, três pontos pesam:
- Antimicrobianos: programas de uso racional (e comprovação).
- Aditivos e práticas de alimentação (ex.: ractopamina) que podem restringir acesso; é decisão estratégica, não só técnica.
- Origem de grãos e rastreabilidade ambiental: tema crescente e inevitável no comércio global.
Para quem quer um roteiro simples de prioridades, Sula deixa a lista:
- Sanidade como patrimônio: biosseguridade diária, calendário vacinal, vigilância clínica e registros.
- Bem-estar factível: enriquecimento barato, manejo calmo, treino de pessoas; medir para corrigir.
- Antimicrobianos sob protocolo: diagnóstico, dose, duração e revisão técnica periódica.
- Dejetos com plano: escolha entre fertirrigação e biodigestor; buscar crédito e assistência técnica; calcular retorno.
- Rastreabilidade e dados: organizar documentos e evidências para auditorias e mercados mais exigentes.
Um último eixo fecha o ciclo: comunicação. Segundo Sula, o setor precisa falar para fora da bolha, explicar o que já faz bem e corrigir o que precisa melhorar, com transparência.
“Temos de mostrar prática, número e evolução — isso sustenta reputação e abre portas”, disse.
A mensagem é pragmática: sanidade, pessoas e processo vêm primeiro; tecnologia potencializa. Com disciplina em biosseguridade, bem-estar aplicável e gestão profissional de dejetos, a suinocultura reduz desperdícios, melhora margem e cumpre exigências ambientais e de mercado — o coração da sustentabilidade que se mede no resultado.
