Uso de ácidos orgânicos e mananoligossacarídeos na dieta de leitões desafiados com Salmonella Typhimurium: efeito nos órgãos, escore fecal e desempenho zootécnico
Introdução
A salmonelose em sistemas de produção suína é uma preocupação global devido a questões econômicas e de saúde pública. Ácidos orgânicos (AO) e mananoligossacarídeos (MOS) são aditivos alimentares que podem ser utilizados como estratégias de controle da salmonelose, visando obter condições favoráveis de desenvolvimento de microrganismos benéficos no trato gastrintestinal, além de perturbar as ações de certos tipos de bactérias, incluindo Salmonella spp., apresentando-se também como potenciais alternativas aos antibióticos promotores de crescimento. Contudo, ainda são poucos os dados disponíveis neste contexto.
Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da adição de AO e MOS nas dietas sobre o peso e contaminação de órgãos, escore fecal e desempenho de leitões inoculados por via oral por Salmonella Typhimurium.
Material e Métodos
Foram utilizados 28 leitões machos desmamados aos 28 dias de idade. O experimento foi divido nas fases de adaptação e experimental (pré-desafio e pós-desafio; cuja duração foi de 5 e 14 dias, respectivamente).
Após o período de adaptação, os animais foram alojados individualmente e inoculados por via oral com uma dose de 5 mL contendo 109 UFC de S. Typhimurium. Os animais foram distribuídos aleatoriamente em um de quatro tratamentos:
- T1: Controle (CON);
- T2: CON + 2 kg/ton de aditivo contendo AO e MOS durante o período total (pré-desafio e pós-desafio);
- T3: CON + 1 kg/ton de aditivo somente no período pós-desafio; e
- T4: CON + 2 kg/ton de aditivo apenas no período pós-desafio.
Água e ração foram fornecidas ad libitum. O peso corporal foi monitorado no início e no final de cada período (pré e pós desafio). A análise fecal foi realizada a partir da avaliação visual das fezes seguindo os seguintes escores:
- 1 – fezes normais, que permanecem firmes e macias;
- 2 – fezes pastosas e úmidas que mantêm sua forma;
- 3 – fezes aquosas e líquidas (diarreia).
Ao final do experimento (dia 14), os leitões foram submetidos a eutanásia e os órgãos (coração, baço, fígado, pulmões e rins) foram coletados e pesados. O peso relativo dos órgãos foi calculado como:
Peso relativo do órgão (%) = Peso do órgão x 100/ peso vivo ao abate.
Amostras de fígado e baço foram coletadas e submetidas ao protocolo de isolamento bacteriano (contagem direta em placas com diluições seriadas).
Os dados foram analisados por ANOVA usando o procedimento GLIMMIX (software SAS 9.3). Cada animal foi considerado uma unidade experimental e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Resultados e Discussão
A suplementação não influenciou (P>0.05) nas variáveis de desempenho (ganho de peso diário, consumo de ração e conversão alimentar, Tabela 1).
Além disso, não foram observadas diferenças entre os tratamentos (P=0,649) nas avaliações de escore fecal dos leitões, tampouco houve interação entre tratamento e períodos (dias) nesta variável (P=0,415).
Tabela 1. Desempenho (1 a 14 dias) de leitões suplementados com ácidos orgânicos e mananoligossacarídeo e desafiados por S. Typhimurium.
Os pesos do fígado, coração, baço e rins foram menores nos grupos suplementados com AO e MOS em relação ao grupo controle (P<0,05); enquanto o peso absoluto e relativo do pulmão não diferiu entre os tratamentos (Tabela 2).
Tabela 2. Pesos de órgãos e recuperação bacteriana no fígado e baço de leitões suplementados com ácidos orgânicos e mananoligossacarídeo e
desafiados por S. Typhimurium.
A suplementação de AO e MOS reduziu o número de animais positivos em média 21% no fígado e 33% no baço, considerando a média dos três grupos suplementados em comparação com o grupo controle (P<0,05, Tabela 2).
Além disso, a recuperação de S. Typhimurium em ambos os órgãos reduziu em média 0,99 UFC/g no fígado e 2,6 UFC/g no baço (P<0,05) nos grupos suplementados em relação ao grupo controle (P<0,05). Resultados semelhantes já foram observados em outro estudo, o qual observou frequência significativamente menor de positivos no fígado e tendência a menor isolamento de S. Typhimurium em animais suplementados com AO e MOS (3).
Os resultados do presente estudo sugerem que os tratamentos com aditivos foram eficazes como estratégia para diminuir a infecção por S. Typhimurium, uma vez que, a depender da via de transmissão, o animal infectado pode apresentar presença da bactéria nesses órgãos.
Corroborando o efeito dos aditivos, os sistemas capilares presentes no fígado e no baço constituem um sistema de filtragem altamente eficiente, podendo ocorrer aumento de tamanho nesses órgãos como resposta quando há infecção.
Conclusões
A utilização de AO e MOS na dieta não fornece proteção completa em leitões desafiados oralmente por S. Typhimurium, porém diminui a prevalência de animais portadores dessa bactéria nos órgãos e diminui a pressão de infecção do ambiente.
Isso contribui para a biosseguridade do sistema produtivo uma vez que é fundamental minimizar potenciais ameaças à saúde animal.