Uso de antimicrobianos na suinocultura e sua dispersão no ambiente
A relação entre o uso de antimicrobianos na produção animal, sua dispersão no ambiente, a seleção de bactérias resistentes e o consequente risco à saúde humana, configura o conceito de saúde única como ilustrado na Figura 1. Na produção intensiva de suínos, os antimicrobianos são utilizados com finalidade terapêutica, para o tratamento de animais doentes; profilática, para prevenção da ocorrência de doenças específicas nos lotes de produção; metafilática, tratamento de todo o lote após alguns animais apresentarem sinais clínicos; e como melhorador de desempenho zootécnico, os conhecidos promotores de crescimento.
Figura 1 – Uso de antimicrobianos em humanos, sistemas de produção de animais confinados (SPAC), agricultura e sua dispersão no ambiente. Fonte: Acervo dos autores.
O ambiente da granja pode ser definido como:
área que é afetada pela produção, além das instalações onde os animais são criados.
Essa área inclui o armazenamento e deposição dos resíduos da produção, como dejetos e cadáveres. As principais fontes de contaminação ambiental por moléculas de antimicrobianos são ração e água tratadas, dejetos de suínos medicados e cadáveres de suínos que são tratados e morrem na granja. Já a contaminação do ambiente da granja por bactérias resistentes e determinantes de resistência aos antimicrobianos ocorre majoritariamente pelas excretas dos animais, especialmente as fezes.
A forma de administração dos antimicrobianos impacta a excreção de bactérias resistentes nas fezes, uma vez que ocorre a amplificação de determinantes de resistência antimicrobiana no trato gastrointestinal. A administração injetável exerce menor pressão de seleção de bactérias resistentes do que a via oral[1].
O efeito da administração parenteral de antimicrobianos sobre a microbiota intestinal depende da rota de metabolização e excreção da molécula; de forma geral, quanto menor for a concentração nas fezes, menor serão as alterações. Essa via não costuma ser escolhida para tratamento de animais doentes, devido ao custo mais elevado e necessidade de manejo individual dos animais. A administração via oral apresenta vantagens de custo e redução de mão de obra.
Em contrapartida, sempre ocorre desperdício, de maior ou menor quantidade de ração e/ou água tratada, que levará as moléculas intactas aos dejetos. Os programas de medicação via ração, produzida em grande volume por fábricas que atendem muitas granjas, acarreta a administração de antimicrobianos a lotes de suínos saudáveis. A exposição contínua da microbiota intestinal aos antimicrobianos resulta na seleção de populações bacterianas resistentes que irão compor a massa biológica dos dejetos.
Além do cuidado com a forma de administração dos antimicrobianos aos suínos e com o destino dos dejetos produzidos, também é necessário o adequado destino das carcaças de animais que adoecerem e morreram na granja, a fim de reduzir a contaminação e resistência nesse ambiente. As rotas de tratamento dos dejetos tendem a reduzir as moléculas ativas do antimicrobianos, algumas em maior ou menor grau. Já a propagação da resistência antimicrobiana no ambiente não segue essa a mesma relação de causa e efeito. Portanto, a gestão de riscos na granja deve contemplar o uso de boas práticas de gestão dos resíduos.
[1] CHECKLEY, S.L. et al., 2010; ZHANG, I. et al., 2013.