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Uso de DDGS na nutrição de suínos: potencial nutricional e impactos no desempenho animal

Uso de DDGS na nutrição de suínos: potencial nutricional e impactos no desempenho animal

A crescente demanda da população por alimentos de origem animal tem impulsionado a busca por ingredientes que possibilitem a formulação de rações mais sustentáveis e economicamente viáveis. Nesse contexto, os coprodutos da agroindústria, como os DDGS (Distillers Dried Grains with Solubles), têm ganhado destaque na nutrição de monogástricos.

O DDGS é um coproduto resultante da fermentação de grãos (principalmente milho) para produção de etanol. Após a fermentação, os resíduos sólidos são secos e misturados com os solúveis obtidos na centrifugação da mistura fermentada. Isso resulta em um ingrediente com elevada densidade de nutrientes.

No entanto, a utilização do DDGS na alimentação de suínos ainda possui fatores limitantes, principalmente devido à variabilidade na composição nutricional, presença de fatores antinutricionais que podem ocasionar efeitos negativos sobre a digestibilidade e o desempenho animal. 

Características nutricionais

Ao abordar a utilização de DDGS na alimentação de suínos, é necessário estabelecer com clareza o tipo de produto utilizado, uma vez que existem diferentes variações tecnológicas que impactam sua composição e valor nutricional.

O termo DDG (Distiller’s Dried Grains) refere-se ao resíduo seco obtido após a fermentação dos grãos, sem a adição dos solúveis.

Outras variações incluem o HP-DDG (High Protein DDG), com teor proteico elevado (>40%) e menor teor de fibra, e o DDGS com baixo teor de óleo (“low oil”), que apresenta menor valor energético devido à extração intensiva de lipídios.

Assim, quando esses produtos são corretamente identificados e caracterizados, torna-se possível direcionar seu uso com maior precisão nas diferentes fases de produção, melhorar a formulação das dietas e aumentar a segurança na tomada de decisão técnica. Essa padronização terminológica e analítica é essencial para integrar o DDGS de forma mais estratégica e eficaz aos sistemas de produção suinícola.

O coproduto da indústria do etanol apresenta uma composição nutricional que permite sua utilização parcial em dietas de suínos, graças à sua semelhança com os alimentos tradicionalmente usados como o farelo de soja (Tabela 1).

Quando o DDGS apresenta teor de proteína bruta acima de 39%, é considerado de alta proteína e abaixo de 38% de baixa proteína.

Os DDGS de alta proteína podem substituir as fontes proteicas das rações, contudo pode ter como limitantes os aminoácidos triptofano, arginina e lisina, e apresentar menor digestibilidade de aminoácidos resultado de maior concentração de fibras quando comparado ao milho (Parsons et al., 2006).

A composição pode variar significativamente entre fornecedores, influenciada por múltiplos fatores como:

Na meta análise realizada em 2024 por Rech et al., os autores demonstraram que a origem do DDGS, ou seja, o fornecedor, exerce forte influência sobre a digestibilidade dos nutrientes. O estudo destaca que diferenças no processo industrial entre plantas produtoras resultam em variações relevantes na qualidade nutricional do ingrediente, reforçando a necessidade de padronização dos processos e da escolha criteriosa de fornecedores.

Além disso, é possível observar que, a partir de 2020, houve avanços significativos na consistência e qualidade do DDGS, com maior uniformidade entre lotes, resultado de melhorias nos processos industriais e nos controles internos de qualidade adotados pelas usinas. Ainda assim, diante dessa ampla variabilidade residual, recomenda-se a realização de análises laboratoriais frequentes, e a adoção de sistemas de formulação baseados em nutrientes digestíveis (como energia líquida e coeficientes SID de aminoácidos), a fim de garantir dietas mais precisas e desempenho consistente dos suínos.

Desempenho dos animais

Em um estudo realizado por Whitney et al. (2006) foi avaliado o impacto da inclusão de DDGS sobre o desempenho zootécnico de suínos em diferentes fases de criação. Para as fases de crescimento e terminação, foram estudadas inclusões de 0, 10, 20 e 30% de DDGS. Os autores concluíram que a inclusão de 20 e 30% comprometeu o ganho de peso diário dos animais quando em comparação aos grupos de 0 e 10% de inclusão.

Entretanto, o nível de inclusão de 30% de DDGS afetou o consumo dos animais (P<0,05) quando comparado aos grupos 0, 10 e 20%. A inclusão de 30% também afetou a profundidade de lombo e firmeza da carcaça, mas não encontraram diferença para a espessura de toucinho.

Os autores ainda concluem que a inclusão ideal de DDGS na dieta deve ser abaixo de 20% para manter o desempenho e composição da carcaça, o que está de acordo aos achados de Freitas et al. (2009), que afirmam que a inclusão de DDGS acima de 20% além de acarretar redução da firmeza da gordura suína, aumenta o volume de fezes e excreção de fósforo, ambos fatores indesejáveis na suinocultura.

Para o desempenho de leitões, dois estudos realizados por Whitney e Shurson (2004), analisaram os impactos da inclusão crescente de DDGS (de 0 a 25%) nas dietas de leitões desmamados precocemente. Os autores observaram que é possível utilizar até 25% de DDGS derivado do milho em programas nutricionais divididos em três fases durante a creche, desde que a inclusão ocorra a partir da segunda fase (quando os leitões atingem cerca de 7 kg) e continue na terceira fase, após um período inicial de adaptação de aproximadamente duas semanas. Nessas condições, não foram identificados prejuízos ao desempenho dos animais. 

Brito (2008), observou redução de desempenho dos leitões na fase de creche alimentados com 20 e 30% de DDGS, o que pode ter ocorrido devido à impossibilidade de suprir a exigência de aminoácidos digestíveis, achado que reforça que o fornecimento de níveis elevados de DDGS logo após o desmame pode reduzir o consumo de ração, comprometendo o crescimento inicial dos leitões.  

Quando se trata de porcas em gestação, Wilson et al. (2003), relataram que ao fornecerem 30% de DDGS para porcas multíparas, no período da gestação e posterior lactação, promoveram um desempenho nas porcas lactentes semelhante ao de porcas alimentadas com dietas à base de ingredientes usuais (milho e farelo de soja), havendo aumento subsequente da leitegada nas porcas gestantes. 

E ao fornecer 50% de DDGS em dietas de porcas gestantes observaram aumento no tamanho da leitegada. Esse estudo corrobora com os dados encontrados por Silva (2018), que ao fornecer dietas contendo DDGS (150 ou 300 g/kg) para porcas nos 30 dias finais da gestação, observou desempenho semelhante ao dos animais que receberam dietas formuladas somente com ingredientes usuais. 

Contudo, em porcas que receberam dietas com 300 g de DDGS observou-se maior frequência de ócio nos primeiros 40 minutos de avaliação, demonstrando que a utilização do DDGS pode proporcionar impacto positivo no bem-estar dos animais.

Devido a concentração fibrosa do DDGS, há impactos importantes no trato digestório dos animais, como o aumento de taxa de passagem e da capacidade de armazenamento de alimento no trato, o que no caso de fêmeas gestantes, será benéfico por elevar a capacidade de alimentação durante a lactação, período em que é maior a exigência por alimento. 

Além disso, a fibra tende a trazer as fêmeas sensação de saciedade haja visto que no período de gestação as fêmeas, usualmente, sofrem restrição alimentar, por este motivo, a adição de alimentos fibrosos na dieta poderia satisfazer o apetite das porcas através da ativação do centro de saciedade, o qual é ativado em decorrência da distensão da parede estomacal, e aumentar a condição de bem-estar, além de possivelmente reduzir casos de estereotipia, associados à condição de estresse (Danielson e Noonan, 1975; Etienne, 1987; Everts, 1991; Broom e Johnson, 1993). 

Considerações finais

O DDGS na nutrição de suínos, é um ingrediente, que pode reduzir custos na formulação, sem comprometer os resultados zootécnicos, desde que sua variabilidade seja compreendida e controlada.

 Para isso, é necessário entender a dinâmica de oferta e sazonalidade do DDGS no mercado regional, preparando as fábricas para sua inclusão regular, com ajustes tecnológicos e logísticos adequados.

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