Uso estratégico das enzimas exógenas na nutrição de suínos
Estes componentes são fundamentais para a manutenção das funções celulares e equilíbrio metabólico, desempenhando diversas funções que, no que diz respeito à nutrição, incluem desde a digestão dos alimentos até o metabolismo dos nutrientes.
Processos eficientes de digestão e absorção são essenciais para garantir o crescimento saudável dos animais. Embora os suínos modernos tenham sido selecionados ao longo das últimas décadas para que consigam aproveitar com alta eficiência os nutrientes das dietas, há ainda algumas características críticas a serem consideradas.
Este texto explora a importância das enzimas exógenas na nutrição de suínos, destacando seus mecanismos de ação, pontos críticos e benefícios para a sustentabilidade na suinocultura moderna.
- Mecanismo de ação e benefícios
- Melhora na digestibilidade e aumento na absorção de nutrientes:
Nestes casos, a redução de componentes anti-nutricionais no trato pode favorecer a ação de outras enzimas (inclusive das endógenas) gerando benefícios complementares em outros nutrientes.
Cabe ao nutricionista a decisão de utilizar matrizes nutricionais simples (incluindo apenas o nutriente alvo da enzima) ou mais completas (incluindo outros nutrientes além do alvo principal) no momento da formulação.
Em geral, o uso da matriz mais completa tende a maximizar o cálculo do retorno sobre o investimento. Porém, é importante ressaltar que a matriz nutricional pode variar com muitos fatores. Por isso, a disponibilidade de dados confiáveis quanto a matriz nutricional é fundamental na tomada de decisão.
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- Redução de fatores anti-nutricionais e processos inflamatórios desnecessários
Fatores anti-nutricionais são substâncias encontradas em alguns ingredientes que podem interferir na digestão, absorção ou utilização dos nutrientes pelo organismo.
As enzimas exógenas podem ser utilizadas para hidrolizar esses fatores anti-nutricionais, reduzindo seus efeitos deletérios no organismo dos animais.
Esta substância constitui uma reserva importante de fósforo nos ingredientes vegetais (até 70% do fósforo total) e não pode ser aproveitada pelos animais monogástricos pela falta da enzima endógena.
Por isso, o uso de fitase na formulação das rações desempenha um papel crucial na otimização da nutrição de suínos, melhorando a absorção de fósforo e de outros minerais, contribuindo para a sustentabilidade na atividade.
Outro exemplo interessante é o das enzimas beta-mananases, cujo uso visa reduzir processos de resposta imune inata gerados nos animais após o consumo dos beta-mananos.
Ao destruir esses fatores anti-nutricionais, a enzima poupa a energia que é então utilizada para processos que realmente importam para o organismo.
Muitos ingredientes com custo mais baixo têm seu uso restrito nas rações por conta dos fatores anti-nutricionais. A disponibilidade de enzimas exógenas permite que esses ingredientes sejam utilizados, permitindo a redução nos custos de alimentação.
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- Melhora no desempenho ou redução nos custos de alimentação
Quando a digestão dos alimentos e a absorção de nutrientes acontecem de maneira mais eficiente, é provável que beneficiem também o desempenho dos animais.
Esta estratégia, apesar de não beneficiar o desempenho dos animais, melhora a eficiência econômica do setor visto que permite que uma mesma quantidade de produto (animais) seja obtida utilizando menos recursos (nutrientes na base bruta na dieta).
Em casos assim, o retorno sobre o investimento varia conforme a matriz nutricional utilizada e, por isso, é importante que o nutricionista tenha acesso a informações confiáveis sobre essa matriz.
Da mesma forma, testes desenvolvidos com ingredientes semelhantes aos que serão efetivamente utilizados devem ser preferidos em detrimento de bases de ingredientes com características distintas. Embora isso seja bastante óbvio, nem sempre essas informações estão disponíveis, o que pode obrigar o nutricionista à um uso mais conservador da enzima na formulação.
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- Melhorias na saúde intestinal dos animais
Processos de digestão incompletos são negativos por vários aspectos. Em uma primeira abordagem, essas frações não digeridas também não são absorvidas e aproveitadas pelo animal, o que é obviamente um desperdício de recursos no processo produtivo.
Há ainda outros mecanismos de ação pelos quais as enzimas podem beneficiar a saúde intestinal dos suínos. Algumas enzimas (particularmente carboidrases) podem degradar componentes da parede celular das plantas, liberando compostos considerados prebióticos que agem beneficiando o desenvolvimento de microbiotas saudáveis.
A ação das enzimas melhorando a digestão dos alimentos também pode reduzir o estresse oxidativo nas células intestinais, contribuindo para a saúde geral do trato.
A hidrólise de componentes anti-nutricionais ou potencialmente causadores de inflamação no ambiente digestivo (exemplo, redução da resposta imune induzida por alimento) também podem ser citadas como mecanismos de ação das enzimas em prol da saúde intestinal.
Outras enzimas podem ter efeitos ainda mais diretos na saúde dos animais, como é o caso das lisozimas.
Essas enzimas atuam nas ligações dos polissacarídeos presentes nas paredes celulares de muitas bactérias, causando sua lise (ruptura) e, consequentemente, levando à morte da bactéria.
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- Mitigação de impactos ambientais
A necessidade de suplementação de nutrientes (na base bruta) nas rações é reduzida quando as enzimas exógenas são utilizadas com suas matrizes nutricionais na formulação das rações.
Em análises que avaliam o ciclo de vida da produção, é possível perceber que uma série de processos e recursos são reduzidos em situações assim, o que minimiza também as emissões associadas aos processos.
Quando a formulação considera a matriz nutricional, as enzimas também podem minimizar o excedente de nutrientes excretados no ambiente. Essa condição também é favorável para a sustentabilidade dos sistemas produtivos, especialmente para condições de produção intensiva e em áreas com alta concentração de produção.
- Aplicação prática e pontos críticos
As fitases são as enzimas com uso mais consolidado na indústria de suínos.
Conhecer as particularidades de cada produto é fundamental para que o máximo do potencial desta enzima seja obtido efetivamente pelos animais.
Proteases, carboidrases e misturas de enzimas são também bastante usadas na indústria. A decisão pelo uso de uma ou mais enzimas sempre irá depender do contexto de cada sistema produtivo. Como os cenários produtivos variam muito, é evidente que não existe uma “receita” única a ser sugerida.
Cabe ressaltar novamente que ainda é comum o uso de matrizes “estáticas”, que não consideram que a quantidade de nutrientes a ser liberada pelas enzimas irá depender de muitos fatores, desde a disponibilidade de substrato até as condições fisiológicas dos animais.
Uma mesma enzima pode ter efeitos diferentes se utilizada em uma dieta simples ou complexa de creche, por exemplo, visto que os ingredientes que compõe as rações (e, portanto, os substratos que estarão disponíveis) serão diferentes em cada cenário.
Outra questão importante a ser considerada é que o uso de mais de uma enzima na mesma formulação também pode gerar efeitos diferentes de quando as enzimas são usadas isoladamente.
A escolha das enzimas adequadas e a definição das suas concentrações nas dietas também são pontos críticos para o uso mais eficiente destes aditivos. Mais uma vez, a composição nutricional dos alimentos, o estágio de crescimento dos suínos e os objetivos de produção devem ser considerados nessa decisão.
Além disso, a disponibilidade de métodos analíticos e de bancos de dados que permitam a melhor caracterização das matérias-primas quanto à presença dos substratos para ação das enzimas é outro ponto crítico para um uso mais eficiente das enzimas.
No contexto de alimentação de precisão, é provável que a indústria também deva migrar para um uso mais personalizado das enzimas. Essa condição depende de mais informações sobre o sistema produtivo e sobre a enzima, o que nem sempre está disponível para o nutricionista. Porém, esse processo é benéfico no sentido de extrair o maior valor possível do produto que está sendo empregado.
- Perspectivas futuras
À medida que a indústria continua a evoluir, espera-se que os setores de pesquisa e inovação gerem ainda mais informações, possibilitando um uso mais personalizado em relação as demandas de cada cenário produtivo.