Os resultados da pesquisa apresentaram diminuição do desperdício de nutrientes da ração, redução da ingestão de água pelos animais e recuperação da água pelo tratamento dos efluentes da suinocultura.
sando minimizar os desperdícios e aproveitar ao máximo os recursos em uso, o Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem desenvolvido pesquisas para o reuso da água do sistema de criação de suínos. Confira o projeto completo aqui!
A gestão inteligente do esgoto – com produções de água de reuso, fertilizante agrícola e biogás – assume papel relevante à saúde humana, à natureza e à economia produtiva. Visando minimizar os desperdícios e aproveitar ao máximo os recursos em uso, o Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem desenvolvido pesquisas para o reuso da água do sistema de criação de suínos.
Os trabalhos de Produção de Proteína Animal Integrada (PPAI) – conduzidos pela equipe do programa “Suíno Pata Verde”, com o sistema Flotub JLTec-IZ, que oferece tecnologia inédita e inovadora à suinocultura paulista -, envolvem a recuperação da água no sistema de produção de suínos.
Os resultados da pesquisa apresentaram diminuição do desperdício de nutrientes da ração, redução da ingestão de água pelos animais e recuperação da água pelo tratamento dos efluentes da suinocultura.
Coordenadora do Programa, a pesquisadora Simone Raymundo de Oliveira explica que é necessário promover cada vez mais essa gestão inteligente do esgoto, já que alguns números apontam para a escassez de recursos hídricos.
Pelas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil deverá atingir 260 milhões de habitantes em 2050 e isso poderá gerar disputas por melhores solos, alimentos, condições climáticas, insumos agropecuários e, principalmente, água potável. Um estudo realizado pelo Banco Mundial e lançado em março de 2020 em Washington, nos Estados Unidos, demonstrou a importância do tratamento do esgoto para a humanidade. Sabe-se que, no mundo, 80% das águas residuais são devolvidas ao meio ambiente sem tratamento adequado e 36% da população mundial vive em regiões com escassez de recursos hídricos.
A demanda por água no Brasil é crescente, com aumento estimado de aproximadamente 80% do total retirado nas últimas duas décadas. A previsão é de que ocorra um aumento de 24% na demanda até 2030, segundo estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) de 2019. O país utiliza, em média, a cada segundo, cerca de 2,5 milhões de litros. Em 2030, esse total deve superar a marca de três milhões de litros de água por segundo
“Nesse contexto, é imprescindível que os sistemas de produção agropecuários revejam, de imediato, seus manejos tecnológicos nos diferentes sistemas de produção animal relacionados à gestão do uso da água e dos resíduos produzidos”, destaca Simone.
Para a pesquisadora, embora as reduções na disponibilidade de recursos hídricos já estejam ocorrendo, a sociedade passará a exigir produtos oriundos de sistemas ambientalmente corretos. “As mudanças na escolha dos produtos pelos consumidores serão cada vez mais vinculadas ao consumo consciente”, destaca.
Esse comportamento levará a valorização dos sistemas produtivos que contemplem o menor uso de água na produção de alimentos, aliados aos tratamentos adequados dos efluentes e resíduos gerados.
Para Simone, na atual conjuntura mundial, há uma tendência irreversível para que se revejam os conceitos e concepções do sistema de produção de suínos, uma vez que realidades diferentes exigem atitudes diferentes.
“Estamos falando em água de reuso, energia comburente (biogás) e biofertilizante para tornar o passivo ambiental em ativo financeiro. Vamos juntos mudar o atual cenário produtivo, tornando a produção de proteína animal integrada em uma geradora de outros coprodutos, além da proteína animal”, afirma.
A pesquisa realizada no IZ com 80 suínos, machos castrados e fêmeas, com idade de 63 aos 150 dias, e peso vivo médio de 25 kg na fase inicial e 110 kg na fase final, demonstrou que 28,11% da Proteína Bruta (PB) e 41,32% do Extrato Etéreo (EE) consumidos foram excretados pelos animais nos dejetos. “Esta ineficiência alimentar desencadeia perdas consideráveis de água potável, além de desperdiçar alimento e recursos financeiros”, enfatiza Simone.
Aliados à técnica de manejo e melhoria da qualidade da dieta pela biodisponibilidade dos nutrientes, o sistema Flotub JLTEC-IZ recupera, no mínimo, 70% da água contida nos dejetos dos animais, que poderá ser reutilizada após sua desinfecção, na lavagem das instalações, por exemplo.
O funcionamento do sistema, segundo o engenheiro João Luciano da Silva, da JLTec, se dá em várias etapas. “A primeira consiste na retirada do material sólido do efluente, e a parte líquida vai para o biodigestor com permanência de no mínimo 30 dias. Nas etapas seguintes do processo, o material passa por digestão aeróbica, floculação e clarificação [retirada do lodo da fase líquida]. Por fim, a água de reuso que provém da clarificação do efluente, seguida de desinfecção e posterior avaliação microbiológica e físico-química, é armazenada para reuso”, detalha.
“As pesquisas necessitam sempre estar à frente para avançar no conhecimento para que haja a elucidação dos desafios e dos fatores que impactam negativamente o metabolismo animal [digestão, absorção e excreção]”, enfatiza Simone, coordenadora do Programa “Suíno Pata Verde”. “Estamos preparados para os desafios dentro desta linha de pesquisa inovadora e diferenciada que iniciamos”, destaca a equipe formada pelos pesquisadores e profissionais da área – Simone Raymundo de Oliveira e Fábio Prudêncio de Campos, do IZ, Júlio César de Carvalho Balieiro, da FMVZ/USP, Marcia Nalesso Costa Harder, da Fatec/Piracicaba, Valter Arthur, do Cena/USP, João Luciano da Silva, da JLTec, e Luciana Bueno, do Clinical Nutrition Science (CNS).
Para compreender este estudo, Simone disse que foram adotados os cálculos da média global de consumo de água para a produção da carne suína da Water Footprint Network (WFN), a qual destaca que, do total do volume utilizado para produzir uma tonelada de carne suína, são necessários cerca de cinco mil litros provenientes da precipitação (para produção dos alimentos que compõem a ração); 480 litros são dos corpos hídricos; e para tratar os efluentes são gastos o volume de 600 litros de água.
Para a produção nacional de suínos, em 2019 foram produzidas 260,9 milhões de tonelada de ração para suínos. O Brasil neste período foi o terceiro maior produtor mundial de rações, sendo que as rações para suínos representaram 25% do total de ração produzida. Em 2019, segundo informações da Pesquisa Global de Rações 2020, tanto no mundo quanto no Brasil, o segundo maior volume de ração produzida foi a de suínos.
Sendo, assim, Simone salienta também que “há uma grande importância das pesquisas científicas sobre o aumento da eficiência alimentar em suínos, observando os dados da produção mundial de ração”.
Dados do IBGE 2020 retratam que, em 2019, foram abatidos 46 milhões de cabeças de suínos no Brasil. “Se considerarmos alguns cenários, um suíno consome em média 185 kg de ração dos 63 aos 147 dias de vida, e terá 28,74 kg de proteína bruta excretada nesse período”, destaca Simone.
De acordo com os resultados de pesquisa do Programa “Suíno Pata Verde” em função somente do número de cabeças abatidas em 2019, no Brasil, houve a excreção de 375 mil toneladas de proteína bruta e no Estado de São Paulo aproximadamente 22 mil toneladas de proteína bruta“, detalha Simone, sendo que do total ingerido, o desperdício de alimentos para um suíno, dos 63 aos 147 dias de idade, gira em torno de 11,30 kg de farelo de soja e 38,54 kg de milho, valores estimados com base no teor de proteína bruta excretado.
Considerando o número de cabeças abatidas no Brasil e no estado de São Paulo em 2019, a ineficiência alimentar acarretou perdas de mais de 1,8 milhão de toneladas de milho e mais de 500 mil toneladas de farelo de soja no Brasil e, somente em São Paulo foram aproximadamente 104 mil toneladas de milho e 31 mil toneladas de farelo de soja.
Para produzir uma tonelada de soja (grão) e uma tonelada de milho (grão), segundo a Water Footprint Network (WFN), é necessário [pela média de produção anual mundial] o consumo de 2.201 metros cúbicos de água por tonelada de soja e 1.222 metros cúbicos por tonelada de milho.
Aliado a isto está a relação de água pelo consumo de ração pelos suínos, que na fase de crescimento e terminação é de três litros de água ingerida para cada quilograma de ração por animal. Pelo número de animais abatidos, em 2019, a ingestão de água no Brasil foi de mais de 25,7 bilhões de metros cúbicos e no Estado de São Paulo de 1,5 bilhão de metros cúbicos.
Simone explica que utilizando as informações dos dados de abate de suínos do Brasil e do estado de São Paulo, do ano de 2019, do IBGE, aliadas a uma estimativa de melhoria da eficiência alimentar dos suínos em 15%, dos 63 aos 144 dias de idade, “a redução do desperdício será de 270 milhões de toneladas de milho e 79 mil toneladas de farelo de soja”.
“No Brasil, seguindo informações da WFN, para redução anual do uso da água em relação a produção de soja, esses valores equivaleriam a mais de 570 milhões de metros cúbicos de água para a produção de cerca de 112 mil toneladas de soja grão. Já para o estado de São Paulo a redução anual do desperdício corresponderia a 88,5 mil toneladas de milho e 42 mil toneladas de soja (grão) ou 36 mil toneladas de farelo de soja o que equivaleria na redução de 33 milhões de metros cúbicos de água para a sua produção”, enfatiza Simone.
Com a melhoria da eficiência alimentar, numa granja em que se vende mil animais terminados, segundo Simone, o ganho “seria equivalente a 149 animais de retorno – menor custo de produção e aumento na margem de lucro”.
Há grande impacto gerado na recuperação de águas com os tratamentos de efluentes quando se considera o número de matrizes alojadas e suínos abatidos. Segundo o IBGE de 2020, com base em 2018 e o número de cabeças abatidas em 2019, foram abatidos aproximadamente 2,7 milhões no Estado de São Paulo e mais de 46 milhões, no Brasil.
Considerando a fase crescimento e terminação e o aumento da eficiência alimentar, aliada a recuperação de água, Simone disse que seria permitida a economia de 1,4 milhões de metros cúbicos de água no estado de São Paulo. “Além disso, geraria coprodutos, com alto potencial de comercialização, como os biofertilizantes que são resultantes desse sistema de tratamento de efluentes.”
Com a utilização dos dados já obtidos com o Sistema Flotub JLtec-IZ, considerando os dados do IBGE e a WFN, a produção de água de reuso, no Brasil corresponde a 19,7 milhões de metros cúbicos e no estado de São Paulo em torno de 1,150 milhão de metros cúbicos, “pois foram abatidos mais de 46 milhões de cabeças e utilizados 28 milhões de litros de água”.
“Enquanto, para o alojamento de cerca de cinco milhões de matrizes, a recuperação chegaria a mais de 183 milhões de metros cúbicos de água na produção nacional e mais de seis milhões de metros cúbicos de água de reuso na produção paulista”, detalha Simone.
“Do produtor à indústria, a cadeia produtiva de carne suína busca continuamente pela excelência produtiva com altos investimentos em genética, nutrição, manejo ambiental, qualificação de mão-de-obra, gestão da produção e bem-estar animal”, reforça Simone. “Sendo assim, é possível, com a continuidade das pesquisas, responder, por exemplo, quais os fatores que impossibilitam a utilização eficiente dos nutrientes da dieta para a produção de carne suína; por que tanto desperdício de nutrientes, uma vez que houve um avanço no potencial genético dos suínos; como melhorar a eficiência alimentar e aumentar a metabolização dos nutrientes da dieta e, consequentemente, a redução do consumo de ração e água na produção de suínos”, destaca.
Fonte: Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
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