Manejo e bem-estar

Bem-estar animal: uma necessidade

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Bem-estar animal: uma necessidade

O bem-estar é tema de preocupação constante na suinocultura; não só pelo olhar da sociedade, mas também pela relação com os indicadores zootécnicos e econômicos do sistema de produção. Suínos em boas condições de bem-estar são mais saudáveis e produtivos. Assim, o tema é multifatorial, ou seja, estabelece conexões com praticamente todas as áreas da produção de suínos.

  • COMISSÃO DE ÉTICA NA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

As normas e as legislações sobre bem-estar animal são complexas, permanecem em constante evolução e ganham novos adeptos. Nos últimos anos, a Comunidade Europeia editou diversas normas, estabelecendo padrões mínimos de bem-estar para os animais de produção (Dias; Silva; Manteca, 2015), com base na ação humanitária preventiva, estabelecendo critérios mínimos de alojamento e manejo adequados (Lundmark; Berg; Röcklinsberg, 2018).

Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) é a entidade oficial responsável pela elaboração de normas relacionadas ao tema.

No Brasil, o órgão que auxilia na formulação de normas para utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa é o Conselho Nacional de Controle Experimentação Animal, o CONCEA, órgão responsável por estabelecer procedimentos para a instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios.

Assim, a ética deixou de ser apenas uma questão moral para ser ação indispensável.

 

Desta forma, os animais são os beneficiados diretos pelas pesquisas científicas visto que a saúde, o bem-estar e a segurança também dependem das pesquisas e, a pesquisa é necessária para a evolução das melhores formas de
se produzir animais. Independente do segmento do seu  negócio, se você contribui para o agronegócio com a produção de alimentos utilizando pesquisas com animais, é hora de pensar em formar uma comissão de ética.

Desde 2014, a Agroceres Multimix é credenciada ao CONCEA. O monitoramento das atividades é feito pela Comissão de Ética de Uso de animais (CEUA-AGMMX), formada por colaboradores da empresa, professores de universidades e membros da sociedade civil organizada.

A preocupação em integrar-se a um órgão que estabelece o bom funcionamento de centros de experimentação animal vai de encontro ao DNA Agroceres – uma empresa de pesquisa em que a tecnologia está aliada ao conhecimento acadêmico e científico, preconizando pelo aprimoramento das recomendações nutricionais sob as diretrizes do bem-estar animal. E é preciso mensurar. Existem situações em que é fácil a percepção. Entretanto, há cenários não tão simples. Dada essa dificuldade, é recomendado realizar a avaliação do bem-estar animal por meio de  métodos objetivos e validados.

Dentre as estratégias disponíveis para a avaliação do bem-estar de suínos, destaque para o “Modelo de 5 domínios” (Mellor e Reid, 1994) e o Projeto Welfare Quality® (Botreau et al., 2009).

Independente do método, é importante certificar-se que cada uma das medidas indicadoras de bem-estar animal esteja bem fundamentada e validada cientificamente. É necessário verificar o grau de dificuldade de aplicação para evitar avaliações subestimadas ou superestimadas e utilizar vários tipos de indicadores, sendo que a maioria deve ter como base medidas tomadas nos próprios animais.

A conscientização motiva a adoção de boas práticas como meio de se conquistar mercados mais exigentes e reduzir perdas econômicas decorrentes de falhas de manejo e inadequações de instalações e equipamentos, que resultam em sofrimento dos animais e aumento dos problemas de qualidade da carne (Paranhos da Costa et al., 2020; Ribas, 2022).

A nutrição desempenha papel importante no planejamento e elaboração deste bem-estar. É através dela que as necessidades básicas dos animais são atendidas, sem causar deficiências nutricionais clínicas ou subclínicas e sem provocar intoxicações, aumentando, assim, a resistência às doenças.

Vamos começar pela gestação. Decorrente da seleção genética ao longo das décadas, visando uma alta produtividade e prolificidade (Quesnel et al., 2008; Kirkden et al., 2013; Muns et al., 2016), a eficiência reprodutiva na cadeia suinícola tem crescido expressivamente.

No entanto, se observa crescente variabilidade no peso. Nesse sentido, os nutricionistas devem minimizar os efeitos durante esta fase. O uso de determinados aditivos e/ou ingredientes, em diferentes momentos no período de gestação, pode auxiliar nesse aspecto. Do ponto de vista de bem-estar, quanto mais a fêmea puder expressar o seu comportamento natural associado aos ganhos reprodutivos, menores são as chances de ocorrência de estereotipias e eventos estressantes durante o período.

Em relação à creche, trata-se de um período crítico para os leitões, principalmente entre três e quatro semanas de idade. O fato de serem separados da mãe, mudarem a alimentação de líquida para sólida, serem trocados de ambiente e misturados com outros lotes e, ainda, a perda de imunidade passiva enquanto ainda estão desenvolvendo a imunidade ativa, induz grande estresse, com reflexos negativos no desempenho. Nesta fase, o trato gastrointestinal dos leitões não está completamente desenvolvido. Assim, é essencial que o epitélio intestinal permaneça intacto para garantir a absorção e o transporte de nutrientes, água e eletrólitos (Balbinotti, et al., 2023).

Um dos principais desafios do desmame é o consumo de alimento, no caso ração, que é naturalmente baixo nessa fase.

Nos dias seguintes ao desmame é comum verificar perda de peso, com consequências do extremo quadro de deficiência energética a que ficam sujeitos. Por isso, após o evento não é incomum identificar a predileção pelo consumo de água se comparado ao de ração sólida (Thacker et al., 2001). Os leitões recém-desmamados só ingerem água nas primeiras 24 horas, portanto, fornecer suplementos nutricionais, como repositores eletrolíticos, durante este período é mais benéfico se administrado através da água do que ração (Hwang et al., 2016; Balbinotti et al., 2023).

Importante salientar que não há substituição da água de bebida. É preciso, portanto, uma abordagem multifatorial, onde o repositor contribui para minimizar o estresse do desmame, apoiando a saúde e o bem-estar dos leitões e, consequentemente, tendo efeitos positivos sobre o desempenho dos leitões.

E, por fim, a recria e terminação. Atualmente, pesquisas e investigações buscam alternativas para a redução do uso indiscriminado de antimicrobianos. O uso racional de antimicrobianos melhora a segurança dos alimentos e gera retorno produtivo bem como redução sobre a excreção no meio ambiente.

A Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH) desenvolveu o conceito de One Welfare, ou seja, um só bem-estar, englobando animais, colaboradores e ambiente.

 

Tal conceito correlaciona-se com as boas práticas de criação para uma geração futura mais saudável e sustentável. Logo, animais criados nessas boas práticas têm suas necessidades comportamentais, ambientais e fisiológicas supridas e, por conseguinte, menos estressados e suscetíveis a doenças, necessitando cada vez menos antimicrobianos.

O uso excessivo de antimicrobianos tem despertado preocupações, sobretudo no Brasil, onde ainda algumas granjas utilizam de forma desordenada. Se considerarmos as fases de recria e terminação, na região central de Minas Gerais tem-se 70, 61% ou 922.823,98 mg do uso de antimicrobianos e o fator preocupante é o uso prolongado, excedendo o tempo de uso conforme a bula (Oliveira et al., 2024 – in press).

A regulamentação imposta pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), através da Portaria nº798/2023, é mais uma medida para mitigar o uso excessivo de antimicrobianos. Neste contexto, alguns aditivos se destacam,
entre eles:

A maior parte demonstra resultados  positivos para enfermidades e desafios relacionados às funções intestinais, atuando no controle de diarreias, melhorando o aproveitamento dos nutrientes e modulação da microbiota
intestinal.

O bem-estar animal é uma preocupação atual e necessária. A busca dos consumidores por produtos que ofereçam segurança alimentar tem despertado atenção por parte das instituições de pesquisas, públicas ou privadas, em aliar ciência e o modelo animal na obtenção de resultados e/ou produtos adequados para o consumo. Nesse sentido, é de responsabilidade de todos o desenvolvimento de estratégias que promovam o bem-estar animal sem comprometer os ganhos zootécnicos.

Os ensaios realizados para obtenção dos resultados supracitados são oriundos de uma série de processos. O mais importante deles é a deliberação de todos os procedimentos de cada experimento pela Comissão de Ética, um crivo importante e rigoroso que, além de garantir que a geração de informações úteis ao mercado é realizada de maneira segura e ética para os animais, eleva a qualidade do que é gerado, ao impedir que soluções não compatíveis com o bem-estar sejam aplicadas. E a rigor, isto reforça o entendimento de que não há produtividade sem atendimento a práticas de bem-estar animal.

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