Influência da condição corporal de fêmeas hiperprolíficas no parto e as consequências sobre as condições de nascimento dos leitões

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A alta variabilidade no peso ao nascimento dos leitões tornou-se uma constante nos programas de seleção genética para fêmeas suínas de alto desempenho. A produção de leitegadas maiores leva a um menor peso médio ao nascimento, aumentando o número de leitões nascidos com peso inferior a 1kg.

O baixo peso ao nascer é considerado um impacto negativo no crescimento dos leitões, o que se traduz em um aumento do risco de mortalidade.

A importância da condição corporal da fêmea suína

É fundamental identificar os mecanismos fisiológicos e bioquímicos responsáveis pela variação do peso ao nascer da leitegada e pela otimização da nutrição materna para suportar as necessidades de crescimento e desenvolvimento de todas as estruturas que abrangem a gestação.

A demanda energética da matriz suína durante a lactação é alta, principalmente nas marrãs, pois devem manter o crescimento corporal e a produção de leite paralelos. Com reservas de gordura limitadas, as porcas podem ter um efeito negativo na reprodução.

Em fêmeas primíparas, a perda substancial de reservas corporais durante a lactação demonstrou ter efeitos negativos em algumas funções reprodutivas:

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Capacidade de ovular e recriar

Produção de leite

O período de reprodução em porcas está associado a elevação das necessidades energéticas, especialmente durante o terço final da gestação e durante a lactação.

Nestes períodos, o consumo voluntário de alimentos na maioria das vezes é insuficiente para satisfazer os nutrientes necessários à manutenção e lactação, levando à mobilização das reservas de gordura e proteína.

A mobilização excessiva de gorduras e proteínas durante a lactação reduz significativamente a reprodução subsequente, ou seja; se a porca mobilizar muita proteína, haverá uma redução no crescimento da leitegada e uma diminuição na função do ovário.

Estudos constataram que a perda de espessura de toucinho durante a lactação está associada a:

Matrizes suínas com excesso de gordura no final da gestação apresentam dificuldades ao parto e dão à luz um maior número de leitões natimortos. Portanto, a espessura de toucinho deve ser mantida dentro de uma faixa ideal para garantir o melhor desempenho produtivo.

OBJETIVOS

A fim de estudar a heterogeneidade dentro da leitegada, os seguintes objetivos foram definidos:

GERAL

O objetivo geral que constitui o propósito central do projeto é determinar como a condição corporal das fêmeas suínas afeta o nascimento dos leitões.

ESPECÍFICOS 

MATERIAL E MÉTODOS

DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

O projeto foi realizado em uma propriedade com 800 matrizes reprodutoras localizada no norte da Espanha (Albelda, província de Huesca).

A propriedade trabalha com uma linhagem hiperprolífica (DANBRED), que constitui 80% das matrizes reprodutoras e 20% das matrizes híbridas.

Nesta propriedade foram testados diferentes tipos de curvas de alimentação e a que deu os melhores resultados é a curva plana na fase de gestação. Com esta alimentação as matrizes ficam calmas, sem sinais de agressividade.

O estudo teve duração de quatro semanas, em que a espessura de toucinho foi medida uma semana antes do parto usando um sistema de ultrassom de alta precisão em um total de 108 matrizes.

PESAGEM DOS LEITÕES

A pesagem dos leitões foi realizada ao longo da semana, exceto nos fins de semana. Para todas as matrizes do estudo, foram registrados os seguintes dados:

Na semana seguinte após a medição da espessura de toucinho, os leitões foram pesados 24 horas após o parto individualmente e em grupos. Por não realizar a sincronização do parto, houve porcas que pariram no final de semana, sendo descartadas as que pariram nesse período. O peso dos leitões seria tendencioso ao tomar mais de 1 dia com colostro.
Quando os leitões foram pesados, nem todos foram pesados da mesma forma:

No peso individual por grupo de leitões, há menos porcas do que no peso por grupo de leitegada, sendo:

Um total, 765 leitões foram pesados.

MENSURAÇÃO DA ET

Com base nos milímetros de espessura de toucinho, as fêmeas são classificadas em três grupos:

Ao medir a espessura de toucinho uma semana antes do parto, considera-se os valores da coluna anteparto em nulíparas 18 (espessura de toucinho, ET) e multíparas 17 ET como referência. Esses valores estariam dentro da classificação de “fêmea normal”. Analisando os resultados do estudo e a produtividade da propriedade, decidiu-se classificar as fêmeas em três categorias:

Para mensurar a espessura de toucinho, foi utilizada uma máquina de ultrassom portátil com sondas lineares e transdutores de alta frequência (5 MHz), que mostram claramente as camadas de gordura desde o primeiro milímetro. Foi feito a partir do Ponto de Medida P2, que fica entre a última e a penúltima costela, a uma distância de 5 cm da coluna vertebral.

Figura 1: Imagens de ultrassom portátil com sonda linear e transdutor de alta frequência (5Mhz). Na primeira foto observa-se a espessura do músculo das costas marcada em vermelho, e na segunda foto a espessura de toucinho em amarelo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo foi proposto com o objetivo de determinar se a condição corporal da porca antes do parto é um fator determinante no peso ao nascimento dos leitões.

 

Gráfico 1. Relação entre a Espessura de toucinho (ET) e o peso das leitegadas. Não existe relação entre o peso da leitegada e a espessura de toucinho na matriz. Os dados estão muito dispersos no gráfico e não seguem uma correlação clara e significativa.

Os resultados do Gráfico 1 ajudaram a definir se era necessária mais uma semana da parte experimental para que o gráfico tivesse uma relação significativa, mas dada a variabilidade e a forma de dispersão dos dados, nada teria mudado.

Há estudos que evidenciaram que o peso corporal e a espessura de toucinho são significativos para prolificidade, tanto para nascidos vivos quanto para nascidos totais. Este resultado demonstra a grande importância da espessura de toucinho na cobertura após o desmame, ou seja, quanto maior a condição corporal da porca após a lactação, melhor seu funcionamento ovariano e seu desenvolvimento folicular, favorecendo mais leitegadas nos próximos partos.

Por outro lado, valores excessivamente elevados de espessura de toucinho na cobertura, típicos de porcas gordas ou obesas, influenciam negativamente a fertilidade.

Para alguns autores, a espessura de toucinho mínima para realizar a cobertura que desencadeia resultados produtivamente ótimos foi referenciada em 12 mm, embora isso dependa da linhagem genética em questão e tenha variado nos últimos anos à medida que as matrizes reprodutoras evoluem para tipos morfológicos mais magros ou enxutos.

 

Segundo alguns autores, a melhor forma de prever a variação das reservas corporais da matriz ao longo do ciclo de produção, principalmente com genéticas muito magras como as atuais, é conhecer a evolução do peso vivo, embora este caráter não tenha sido levado em consideração no presente estudo.

RELAÇÃO ENTRE ET E A ORDEM DE PARTO

As matrizes primíparas geralmente entram na baia de parto (maternidade)com espessura maior que as multíparas, neste caso com 18,12 mm, contra 17,66 mm para as multíparas.

As fêmeas se desgastam com o avanço da lactação, por isso é recomendado que as marrãs engrossem um pouco mais do que as multíparas na primeira lactação. Se entrarem muito magras, é muito mais difícil recuperar nos próximos partos. Embora estatisticamente não se possa afirmar que haja relação porque p> 0,05.

RELAÇÃO ENTRE O PESO DA LEITEGADA E A ORDEM DE PARTO (GRUPO)

No que diz respeito à relação entre o peso da leitegada e a ordem de parto, pode-se observar que o peso da leitegada é maior com o avanço da lactação (25,95 kg nas multíparas contra 21,62 kg nas primíparas). Além disso, seu peso é maior nas fêmeas classificadas como gordas (25,81 kg) em relação às magras (23,97 kg) e normais (23,37 kg).

Portanto, mostra-se que a condição corporal da porca na semana anterior ao parto não é o único fator que influencia o peso ao nascimento dos leitões.

Por outro lado, foi possível demonstrar que a porcentagem de leitões leves <1 kg é maior nas porcas classificadas como ”gordas”, fato incomum visto que nas porcas mais magras o peso dos leitões é maior do que nas demais. Por este motivo, pesquisas futuras com um maior número de porcas por grupo e em mais de uma granja serão necessárias.

PERDA DE GORDURA 

Estudos anteriores estabeleceram que as perdas de gordura durante a lactação são menores em porcas com espessura <20 mm em comparação a porcas com> 20 mm e foi relatado que o nível de perdas de espessura de toucinho era proporcional ao número de leitões desmamados vivos, por este motivo, recomenda-se não engrossar muito a espessura de toucinho nas porcas. Conforme mencionado no início, a espessura deve ser mantida dentro de uma faixa ótima para garantir o melhor desempenho produtivo.

Por esse motivo, classificou-se no presente estudo como matrizes ”gordas” aquelas com espessura superior a 20 mm. De acordo com alguns estudos, as maiores perdas de gordura em porcas com espessura de toucinho > 20 mm podem ser devidas a um maior número e taxa de crescimento de leitões desmamados do que em porcas com espessura de toucinho <20 mm.

SOBREVIVÊNCIA DO LEITÃO

Em outros estudos, os dias de vida de alguns leitões na leitegada são reduzidos em leitões com peso inferior a 1 kg e, em menor grau, em leitões com peso entre 1,0 e 1,28 kg ao nascer, em comparação àqueles com peso> 1,28kg.

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A redução do número de leitões na leitegada das marrãs é explicada principalmente pela maior mortalidade antes do desmame. Os resultados mostram que um peso inferior a 1 kg influencia negativamente a produção de leitões e a longevidade das futuras fêmeas reprodutoras.

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PESO DA MATRIZ AO NASCIMENTO

As fêmeas nascidas com baixo peso e selecionadas para reprodução apresentam resultados satisfatórios em termos de manifestação de cio e taxas de parto. Porém, o número de lactações dessa porca é menor para as nascidas com menos de 1kg. Por esta razão, neste trabalho, dentro dos pesos individuais dos leitões, foram classificados em leitões > 1 kg e <1 kg .

No caso da granja utilizada no estudo, o peso médio individual dos leitões ao nascer nas marrãs é de 1,29 com nível de significância p <0,05. Consequentemente, eles não terão tantos problemas para selecionar futuros reprodutores.

Além disso, as diferenças iniciais entre os leitões com baixo peso ao nascer e seus irmãos mais pesados mostraram ter um impacto significativo na sobrevivência e no ganho de peso subsequentes dos leitões com baixo peso ao nascer. Isto é consistente com outros estudos nos quais a diminuição do peso individual foi referida como 43 g quando o tamanho da leitegada aumenta em um leitão ou 300 g menos no peso total da leitegada por leitão nascido.

RELAÇÃO ENTRE PESO INDIVIDUAL E A ORDEM DE PARTO (GRUPO)

 

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Tabela 1. Relação entre peso individual e ordem de parto

 

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Tabela 2. Relação entre peso individual e a condição corporal.

Ao contrário de até agora, a relação entre o peso em leitões individuais e a ordem de parto e grupo é significativa com P <0,05.

O peso corporal, a taxa de crescimento e o número de leitões desmamados foram maiores nas porcas com espessura de toucinho> 20 mm do que nas porcas com espessura <20 mm.

Neste estudo, apenas os leitões foram pesados ao nascer, não sendo possível concluir qual grupo de leitões era mais velho ao desmame. Por outro lado, alguns autores mostram associação negativa entre espessura de toucinho e tamanho da leitegada ao desmame. Essa associação negativa corrobora com o resultado obtido na Tabela 2, onde está relacionado o peso individual dentro dos grupos (magro, normal e gordo). O resultado estatístico nos diz que os leitões das fêmeas gordas têm peso médio de 1,27 kg, comparados a 1,34 kg dos magros ou 1,59 kg dos normais, com nível de significância de p <0, 05. Em estudos futuros, os dados de peso dos leitões ao desmame seriam coletados para comparar o que esses autores dizem.

 

 

RELAÇÃO ENTRE MUSCULATURA E ORDEM DE PARTO 

 

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       Tabela 3. Relação entre musculatura e ordem de parto.

 

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              Tabela 4. Relação entre musculatura e condição corporal.

Em relação à musculatura , existe uma relação significativa P <0,05 em termos de grupo. Observa-se menos musculatura nas fêmeas magras (47,30 mm) em comparação com as fêmeas gordas (55,12 mm), e à medida que o nível de gordura aumenta, também aumenta a espessura do músculo, embora nem sempre seja proporcional. Também existe uma relação significativa entre a musculatura e a ordem de parto, sendo menor em porcas com mais de dois partos. Conforme a vida reprodutiva da porca avança, a musculatura tende a se desgastar.

RELAÇÃO ENTRE NASCIDOS VIVOS E ORDEM DE PARTO (GRUPO)

Em relação aos leitões nascidos vivos, podemos observar que há um maior número de leitões nascidos vivos em porcas multíparas (17,91 leitões) em relação aos leitões de primeiro e segundo partos (16,08 e 16,42 leitões). Dentro da classificação do grupo, o maior número de nascidos vivos ocorre em porcas normais (17,66 leitões) e o menor em porcas classificadas como gordas (16,04 leitões).

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Portanto, podemos concluir que a condição corporal das matrizes hiperprolíficas ao parto não é uma variável que influencia diretamente no peso ao nascer do leitão. Pesquisas futuras terão que medir mais parâmetros, como espessura de toucinho no final da lactação, intervalo desmame-cio, prolificidade e fertilidade.

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