Conheça mais sobre as interações entre a nutrição e a eficiência reprodutiva do varrão!
Energia e proteína
As exigências diárias de energia para varrões podem ser divididas em:
- Exigências de mantença,
- Ganho de peso,
- Produção de sêmen,
- Atividade física da monta e
- Manutenção da temperatura corporal.
As exigências de mantença constituem a maior parte da exigência total de energia, variando de 60%, no varrão com 100kg de peso, até mais de 90%, em machos pesados. Já as exigências ligadas à monta e à produção do ejaculado variam entre 3,5 e 5,0% da necessidade energética total. Daí concluirmos que a atividade reprodutiva por si só não justifica a adoção de níveis energéticos muito elevados, na alimentação de varrões. Ao contrário, essa prática leva à obesidade e aos problemas físicos e reprodutivos associados a ela.
Lipídeos
A fração lipídica do espermatozoide e do plasma seminal é única na sua composição em ácidos graxos, quando comparada aos lipídeos presentes na maioria dos tecidos corporais.
Esses ácidos podem derivar diretamente do suprimento dietético ou podem ser produzidos indiretamente nos tecidos, através da chamada síntese “de novo”. Nesse processo de síntese, os ácidos graxos essenciais (linoleico e linolênico), advindos da dieta, sofrem sucessivos passos de dessaturação e alongamento de suas cadeias carbonadas, formando assim os diversos ácidos graxos que compõem as séries linoleica (ω-6) e linolênica (ω-3).
O aumento da proporção de docosahexaenoico (DHA), em relação ao docosapentaenoico (DPA), está positivamente correlacionado com a capacidade fecundante do sêmen suíno. Varrões com suplementação da dieta com ω-3 obtêm maior duração da ejaculação, maior número de espermatozoides por ejaculado, o que permite aumentar o número potencial de doses inseminantes por ejaculado, após a sétima semana de suplementação.
A membrana plasmática do espermatozoide é essencial para a manutenção da motilidade espermática e outros eventos relacionados com a fertilização. Nesse sentido, pesquisadores em um estudo sequencial, avaliaram os efeitos da suplementação dietética de varrões com DHA associado à vitamina E e selênio, obtendo efeitos positivos e significativos sobre uma grande variedade de parâmetros da função espermática, tais como a concentração espermática, produção total de espermatozoides, percentual de espermatozoides vivos, taxa de concepção das fêmeas inseminadas e número de leitões nascidos vivos.
Na produção animal tecnificada, o suprimento de ácidos graxos essenciais de 18 carbonos (linoleico ou linolênico) tende claramente em favor do linoleico (ω-6). O óleo de soja, por exemplo, contém 38,72% de ácido linoleico, contra 11,47% de linolênico. Logo, é importante considerar a fonte de ácidos graxos utilizada e conhecer os mecanismos fisiológicos envolvidos, para que se possa antecipar as possibilidades de real interferência da suplementação lipídica sobre a eficiência reprodutiva do macho.
Os óleos de soja, girassol e milho são fontes ricas em ácido linoleico (ω-6), enquanto o óleo de linhaça e, em menor proporção, também o de soja, representam boas fontes de ácido linolênico (ω-3). Os óleos de alguns peixes, tais como sardinha, salmão, cavala e truta, representam fontes ricas diretamente em ácido docosahexaenoico (DHA, ω-3).
As dificuldades de preservação do sêmen suíno constituem um dos maiores obstáculos para a expansão ainda mais acelerada dos programas de inseminação artificial nessa espécie. Há suficiente evidência de que as membranas dos espermatozoides, durante o processo de armazenagem, passam por um processo de desestabilização que compromete a sobrevivência espermática no trato genital feminino.
L-Carnitina
A L-carnitina (L-CN) facilita a β-oxidação de ácidos graxos de cadeia longa, permitindo que esses atravessem a membrana mitocondrial interna de diferentes células, inclusive da célula espermática, fornecendo energia para sua progressão. A L-CN possui ainda efeito protetor contra radicais livres.
Em um estudo para avaliar os efeitos da L-CN (625mg/dia) nas características seminais de varrões das raças Duroc, Large-White e Pietrain, pesquisadores encontraram que, somente na raça Pietrain, houve melhora da morfologia espermática com o aumento progressivo da temperatura ambiente e do fotoperíodo ao longo de 20 semanas, quando normalmente haveria uma queda na qualidade espermática desses animais.
Vitamina E e selênio
Vitamina A
A vitamina A protege o epitélio germinativo de machos e estabiliza a integridade das membranas celulares. Ainda, possivelmente age nas células germinativas ou nas células de Sertoli, devido à presença de receptores.
Pode haver efeito positivo com o uso de vitamina A sobre a motilidade, concentração e morfologia espermáticas.
Vitamina C
A ação antioxidante da vitamina C pode auxiliar no tratamento da infertilidade do macho reprodutor, ao proteger a célula espermática do estresse oxidativo.
Experimentos realizados com varrões das raças Duroc, Hampshire e Pietrain obtiveram aumento no volume do ejaculado, da motilidade progressiva e do número de doses inseminantes por ejaculado. Ainda, esses grupos suplementados obtiveram maiores pH e concentração de fosfatase alcalina do líquido seminal, o que indica melhor desempenho energético da célula espermática.
Zinco
O zinco é necessário para estabilidade da cromatina espermática no macho e desenvolvimento embrionário adequado nas fêmeas. O zinco possui papel fundamental na espermatogênese, no processo de maturação das células de Leydig, na resposta ao hormônio luteinizante e na formação de esteroides.
Diferentes estudos demonstraram aumento em parâmetros seminais anormais na deficiência de zinco, com redução da fertilidade. Contudo, o excesso de zinco na dieta de suínos machos reprodutores pode ser prejudicial ao desempenho reprodutivo.
Micotoxinas
A zearalenona, produzida por fungos da espécie Fusarium, reduz a síntese de testosterona em suínos machos, com efeitos detectados diretamente na espermatogênese e na capacidade de fertilização, por afetar a mobilidade, viabilidade e reação acrossômica. A depressão na síntese e circulação de testosterona pode levar a um quadro de feminilização e supressão da libido nos machos.
A aflatoxina B1 atua negativamente nas características do sêmen e fertilidade. O varrão é muito sensível à vomitoxina (deoxinivalenol – DON ).
Existe um crescente interesse na implementação de dietas específicas para machos suínos reprodutores, em substituição às tradicionais práticas de uso das rações de gestação ou de lactação. Esse interesse encontra forte sustentação na fisiologia reprodutiva do varrão e nos recentes conhecimentos sobre o papel de nutrientes específicos nas funções reprodutivas do macho. Para que se obtenha êxito nesse novo foco da nutrição de suínos, todavia, é fundamental que os princípios fisiológicos e nutricionais envolvidos sejam amplamente compreendidos, uma vez que é na fisiologia que reside a essência das interações entre a nutrição e a reprodução das espécies domésticas.
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