A cadeia produtiva da carne suína brasileira pela posição global que ocupa tanto em volume produzido quanto a extensão de mercados e consumidores que alcança, é constantemente desafiada a sofisticar seus programas de autocontrole e garantia da qualidade.
O espectro de responsabilidade se amplia além da mitigação dos riscos diretos ao consumidor, pelas doenças transmitidas por alimentos, para a dimensão ambiental e comunitária. É neste cenário que está posta a discussão do papel da agropecuária na seleção e disseminação de bactérias resistentes aos antimicrobianos (ATM), que podem atingir o homem pela via alimentar e também pela exposição ao ambiente.
A preocupação se fundamenta no alarmante prognóstico de óbitos relacionados à falta de eficiência dos ATM para as próximas décadas (O’NEILL, 2016).
Soma-se aos óbitos a dificuldade de controle das doenças, o que impacta sobremaneira no custo dos tratamentos, tempo de hospitalização e recrudescimento das infecções (Tanwar et al., 2014).
No aspecto econômico, estimativas do Banco Mundial, considerando o impacto da resistência antimicrobiana na oferta de emprego e na diminuição de produtividade, indicam perdas de 1,1% a 3,8% no PIB anual global até 2050 (World Bank, 2018). As estimativas também preveem que a perda de eficácia dos ATM aumente os gastos com saúde pública e privada em 6% nos países desenvolvidos, 15% nos países em desenvolvimento, e 25% nos países subdesenvolvidos (World Bank, 2018).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2022) os problemas relacionados com a resistência antimicrobiana são inerentemente relacionados ao uso de ATM em qualquer ambiente, humano e não humano.
O uso de ATM na produção animal e vegetal é um fator de risco potencialmente importante para seleção de microrganismos resistentes, disseminação de determinantes de resistência e transmissão para humanos via consumo de alimentos. Assim se cristaliza o conceito da resistência antimicrobiana transmitida por alimentos (Fooborne AMR).
Da perspectiva da saúde animal, já em 2009, a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH antiga OIE) introduziu recomendações para o controle da resistência antimicrobiana no Código Sanitário para Animais Terrestres, que na sua versão atual possui cinco subcapítulos abordando o tema.
Além de um capítulo sobre uso prudente de ATM na medicina veterinária, os demais propõem:
Critérios para desenvolvimento de programas nacionais de...