Salmonella, uma vilã na suinocultura
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Salmonella, uma vilã na suinocultura
O tema saúde intestinal tem sido cada vez mais destaque na suinocultura. Isto porque um intestino saudável permite ao animal apresentar um melhor desempenho zootécnico.
Neste sentido, deve-se levar em consideração a busca por uma nutrição adequada e cuidados com sanidade. Alguns patógenos, porém, aparecem como grandes vilões, dentre estes, a Salmonella spp., que pode causar lesões graves no intestino e se disseminar pelo organismo, levando a quadros de diarreia e/ou tosse.
Em alguns casos, surgem sinais clínicos como a:
Que podem se agravar levando ao aumento da mortalidade, principalmente quando se tratar da forma septicêmica da doença. Este agente é ainda de um problema de saúde pública, e, portanto, cada vez mais tem sido foco de atenção em frigoríficos (IN MAPA nº 60, 20 de dezembro de 2018).
A incidência de casos de salmonelose clínica vem aumentando no Brasil desde 2011 (Jalusa D. Kich, et al., 2017). Um levantamento realizado com amostras de nove estados, entre os anos de 2017 e 2022, mostrou que a Salmonella Typhimurium variante monofásica foi a mais prevalente, sendo isolada em 43% das amostras de animais clinicamente afetados enviadas ao laboratório CEDISA. Em seguida, apareceu a Salmonella Choleraesuis (33%) e a Salmonella Typhimurium (13%) (Luciana F. Hernig, et al., 2023).
De imediato também, faz-se necessário o uso de antimicrobianos para o tratamento dos animais afetados. E “é aí que mora o perigo”, pois segundo uma análise de dados de resistência e sensibilidade a 136 amostras de Salmonella spp. no Brasil, realizada entre 2016 e 2017 (Jalusa et al., 2017), foram evidenciadas quais moléculas os isolados apresentaram maior resistência, em ordem decrescente, sendo essas:
Além disso, no levantamento de dados realizado com amostras entre 2017 e 2022 (Luciana F. Hernig, et al., 2023), mostrou-se que 100% das amostras de Salmonella Typhimurium variante monofásica eram resistentes a três ou mais classes de antimicrobianos, sendo consideradas como multirresistentes, com frequências superiores a 90% contra amoxicilina, doxiciclina, gentamicina e tetraciclina.
No caso da S. Choleraesuis e da S. Typhimurium, 95% e 90% das cepas isoladas, respectivamente, eram multirresistentes, sendo que ambos sorovares apresentaram alta resistência contra amoxicilina, tetraciclina, doxiciclina e florfenicol.
Os dados alertam para uma necessidade de se alterar o foco de tratamentos curativos, para a busca, cada vez mais, por medidas preventivas na suinocultura.
Outros agentes podem estar presentes nas granjas e agravar as perdas relacionadas às enterites, bem como adquirirem resistência a moléculas antimicrobianas, como a Brachyspira, a Escherichia Coli e a Lawsonia intracellularis, por exemplo.
Assim sendo, os pontos que englobam a biosseguridade, são fundamentais, tendo em vista que as fontes de contaminação para Salmonella são diversas (água, ração, animais de reposição, vetores, humanos, fômites etc) e a redução na pressão de infecção de um agente, implica na de outros por consequência.
Nesse cenário, uma ferramenta importante é a vacinação.
O sistema imune de suínos vacinados apresenta um “exército” de células de defesa e anticorpos capazes de auxiliar no combate de agentes patogênicos, como a Salmonella.
Desta forma, os animais mantem-se mais saudáveis, mesmo em contato com o agente e podem expressar seu melhor desempenho.
Já foi relatado que o uso de uma vacina viva fornecida por via oral para Lawsonia intracellularis, prevenindo para ileíte
Um ponto importante no processo de vacinação é o cuidado em reduzir o estresse provocado nos leitões para reduzir a chance dos animais que já estejam infectados com Salmonella passem a disseminá-la através das fezes.
Isto porque a bactéria se dissemina rapidamente nos animais, e os manejos estressantes podem servir de gatilhos para isso acontecer. Por isso, realizar a vacinação de forma calma e escolher a vacina adequada são pontos importantes.
O uso de vacinas que possam ser aplicadas por via oral (de forma individual ou via água de bebida), além de promover uma proteção robusta na mucosa do intestino pode facilitar o processo reduzindo mão-de-obra e auxiliando na manutenção do bem-estar dos leitões, como é o caso da vacina Enterisol Salmonella T/C, da Boehringer Ingelheim. Pode-se conciliar ainda com o fato dessa não causar reações adversas indesejáveis exacerbadas (febre, inchaço, dor no local da aplicação, entre outros).
Sabe-se, portanto, que a Salmonella é uma vilã conhecida na suinocultura, que se dissemina facilmente e pode causar prejuízos consideráveis. O uso de antimicrobianos é uma ferramenta curativa necessária, mas que tem sido contornada pela aquisição de resistência pela bactéria. Este fato tem levado a uma pressão da sociedade pelo uso prudente de antimicrobianos na produção animal, tendo em vista que este é um problema também de saúde pública.
Desta forma, a arma mais eficaz na guerra contra a Salmonella e outros agentes que se aliam na infecção dos animais, causando mais perdas, tem sido a prevenção. Cuidados com biosseguridade, passando principalmente pela higiene geral e a vacinação, são táticas fundamentais para obtenção dos melhores resultados!
Figura 5. Imagem da vacina Enterisol Salmonella T/C, composta por Salmonella Choleraesuis e S. Typhimurium, que auxilia ainda na protção para S. Typhimurium monofásica.