ABCS lança manual de bem-estar que aproxima a legislação da realidade nas granjas
Manejo e bem-estar
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ABCS lança manual de bem-estar que aproxima a legislação da realidade nas granjas
Durante o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, em Chapecó (SC), a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) realizou o pré-lançamento do Manual de Bem-estar Animal e Sustentabilidade. O material foi desenvolvido para apoiar a implementação da Instrução Normativa 113/2020 (IN-113), marco regulatório que trata de boas práticas e bem-estar em granjas comerciais.
Conversamos com Charli Ludtke, diretora técnica da ABCS, e Nina Machado, coordenadora técnica da entidade, sobre a importância do manual, os aprendizados na sua construção e os próximos passos da iniciativa.
Saiba mais sobre o lançamento:
Por que lançar o manual de bem-estar durante o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura?
Nosso objetivo foi traduzir a IN-113 em uma linguagem acessível, com conteúdo prático e muitas imagens reais de como as agroindústrias vêm implementando programas de bem-estar animal nos últimos anos.
A legislação é fundamental, mas nem sempre fácil de aplicar no dia a dia da granja. O manual, portanto, vem para educar e apoiar o setor, mostrando que é possível garantir dignidade aos animais e aplicar manejos que reduzam a dor e o estresse.
Nina, você esteve na linha de frente registrando imagens nas empresas. Quais situações de campo mais marcaram esse processo?
Nina Machado: O que mais nos chamou atenção foi a diversidade de práticas já implementadas desde 2020, quando a normativa foi publicada. Encontramos muitas iniciativas positivas em diferentes regiões do país, algumas já 100% consolidadas pelas agroindústrias.
Nosso propósito foi reunir esses exemplos e apresentá-los de forma clara e objetiva. O manual mostra, por meio de fotos e descrições, como as mudanças vêm sendo aplicadas, seja em gestação coletiva, no manejo de leitegadas ou em práticas como vacinação, contenção, castração e enriquecimento ambiental.
Assim, o produtor pode enxergar que a adaptação é viável e que, muitas vezes, pequenas mudanças de manejo fazem toda a diferença.
Charli, esse olhar prático facilita a adesão por parte dos produtores?
Charli Ludtke: Sem dúvida. Muitos produtores, ao verem as imagens, percebem que já realizam parte do que a normativa exige. Por exemplo, a inspeção diária de animais, a existência de baias hospital e a atenção à alimentação e hidratação são práticas comuns. O manual ajuda a valorizar esse trabalho e reforça pontos de atenção.
É importante lembrar que bem-estar animal não significa, necessariamente, grandes investimentos financeiros. Muitas vezes, trata-se de ajustes simples na rotina ou no espaço da granja. Ao compartilhar experiências de diferentes empresas, mostramos que a evolução é possível em qualquer realidade produtiva.
O manual de bem-estar também aborda a questão da sustentabilidade. Como esse tema foi incorporado?
Nina Machado: Durante o processo de elaboração, percebemos que falar de bem-estar animal exige falar também de bem-estar humano. Afinal, quem garante o cuidado com os animais são os colaboradores.
Por isso, incluímos um capítulo específico sobre o bem-estar das pessoas que trabalham nas granjas. Encontramos exemplos muito interessantes de empresas que oferecem:
Isso contribui diretamente para a motivação, a saúde mental e a retenção de mão de obra, que hoje é um desafio global.
Quais foram os exemplos mais inspiradores em relação ao bem-estar dos colaboradores?
Charli Ludtke: Vimos granjas que investem em refeitórios confortáveis, moradias próximas e até pequenos detalhes que fazem diferença, como banheiros bem equipados e uniformes de qualidade. Esses fatores, somados a uma boa gestão de pessoas, fortalecem o vínculo do colaborador com a empresa.
Também observamos que a valorização não se resume a salário. Muitos trabalhadores relatavam orgulho de atuar em granjas que oferecem boas condições, reforçando que o clima organizacional impacta diretamente na produtividade.
Além desse, vocês já anunciaram outros dois manuais. O que vem pela frente?
O líder tem papel essencial nesse processo, exercendo escuta ativa e inspirando sua equipe. Esse olhar humano é tão importante quanto qualquer indicador técnico.
Além desse, vocês já anunciaram outros dois manuais. O que vem pela frente?
Nina Machado: Este primeiro manual foca a granja. O próximo, previsto para setembro, terá enfoque na agroindústria e no transporte dos animais, alinhado à nova normativa que está em consulta pública.
Em outubro, durante o Congresso da Abraves Nacional, lançaremos o terceiro manual, sobre o uso racional de antimicrobianos.
Charli Ludtke: O transporte, em especial, é um ponto crítico da cadeia. Evoluímos muito nos últimos anos em carrocerias, densidade de carga e manejo, mas ainda há desafios. O manual vai detalhar boas práticas para evitar perdas e garantir o bem-estar dos animais até o abate.
Como os produtores podem acessar esse conteúdo?
Charli Ludtke: O manual está disponível gratuitamente no site da ABCS (www.abcs.org.br), na área de materiais técnicos. Também divulgamos os lançamentos pelas nossas redes sociais – Instagram, LinkedIn e Facebook.
Neste primeiro momento, o material será digital, mas já estudamos a possibilidade de lançar versões impressas no futuro, para ampliar ainda mais o alcance.
Para finalizar, qual a principal mensagem que gostariam de deixar ao setor suinícola?
Charli Ludtke: Que o bem-estar animal é, ao mesmo tempo, um dever legal, uma exigência de mercado e uma oportunidade de melhorar a produtividade. A IN-113 trouxe um marco jurídico importante, mas cabe a nós, como cadeia, transformar a normativa em prática.
Nina Machado: E que esse caminho não precisa ser solitário. O manual foi construído com a colaboração de agroindústrias, produtores e instituições de pesquisa. Ele mostra que a suinocultura brasileira é capaz de evoluir quando compartilha conhecimento e experiências.
O lançamento do Manual de Bem-estar Animal e Sustentabilidade marca o início de uma série de três publicações da ABCS, todas voltadas para apoiar o setor a aplicar a legislação de forma prática, didática e alinhada às demandas atuais da sociedade e do mercado.