Aurora Coop além do Brasil: os bastidores da internacionalização com Neivor Canton
A Aurora Coop, um dos maiores players brasileiros na exportação de proteína animal, vive um momento de expansão internacional em meio a um cenário global de incertezas. Volatilidade geopolítica, mudanças climáticas, desafios sanitários e questões socioambientais pressionam a cadeia produtiva, exigindo das lideranças visão estratégica e capacidade de adaptação.
Em entrevista exclusiva à suínoBrasil, o presidente da Aurora Coop, Neivor Canton, fala sobre riscos, internacionalização, cultura organizacional, mão de obra, ESG e os desafios de manter um modelo cooperativo competitivo em escala global.
Em tempos de volatilidade, qual é o risco que mais preocupa a Aurora Coop e como blindar a empresa?
Os riscos sempre existiram e vão continuar existindo. O mercado submete todos os players às mesmas dificuldades. O que faz diferença é a estratégia para enfrentá-los.
No nosso caso, temos um compromisso especial com os produtores, já que somos uma organização cooperativa. A Aurora não existe para si mesma, mas como um meio a serviço de quem decidiu criar e sustentar esse empreendimento.
Hoje, um dos maiores obstáculos é o custo do dinheiro. Investimentos ficaram mais caros e isso mexe com o planejamento. Não podemos induzir o produtor a assumir dívidas que comprometam seu futuro. Administramos cada decisão com cautela e buscando consenso. Assim, evitamos que a preocupação com esses riscos tire o sono dos produtores — e o nosso também.
Entre os indicadores de mercado, qual aciona uma reação imediata em sua gestão?
O market share. Construí-lo é difícil e mantê-lo exige atenção redobrada. Uma variação mínima já sinaliza que algo precisa ser revisto. Afinal, o consumidor é o juiz final. Se ele não aceita, temos que ajustar imediatamente.
A abertura do escritório em Xangai foi um passo ousado. O que determinou essa decisão?
Esse projeto foi gestado por quase dois anos. Nossas gestões anteriores já sonhavam com presença física no exterior. Quando a equipe de mercado externo amadureceu os estudos e apresentou um projeto consistente, a diretoria abraçou a ideia. A decisão de abrir em Xangai não foi um impulso, mas o resultado de análise estratégica. Estamos ainda nos primeiros passos, mas convictos de que foi a escolha correta.
Há planos para outras unidades no exterior?
Sim. Já examinamos uma segunda unidade internacional, que deverá se concretizar no primeiro semestre de 2026. A internacionalização é um caminho natural para uma organização do porte da Aurora.
Liderar mais de 100 mil pessoas, direta e indiretamente, exige mais do que estratégia. Qual valor organizacional você gostaria que permanecesse intacto se um dia deixasse a presidência?
O que mais preservo é a harmonia do sistema Aurora. Hoje somos 14 cooperativas associadas, com 86 mil produtores rurais que nos orgulhamos em chamar de empresários rurais, além de cerca de 50 mil colaboradores.
Essa engrenagem precisa funcionar em sintonia. Manter a harmonia garante a perenidade do modelo cooperativo e o sucesso do empreendimento.
A formação de mão de obra é um desafio recorrente no agro. Como a Aurora trabalha essa questão?
No cooperativismo, sempre olhamos para a família do produtor, não apenas para o indivíduo. Desde décadas atrás, investimos em núcleos de mulheres e jovens, além de universidades cooperativas, para formar novas lideranças e preparar sucessores.
Um exemplo é o Projeto de Encadeamento Produtivo, desenvolvido há 26 anos. Ele foi fundamental para conter o êxodo rural, oferecendo perspectivas de vida digna no campo e evitando que jovens migrassem para as cidades sem retorno. Hoje colhemos frutos importantes dessa estratégia.
É um trabalho de prevenção, correto?
Exatamente. Exige paciência e visão de longo prazo, mas é o que garante a sustentabilidade da atividade e das famílias no campo.
Grandes empresas do agro enfrentam críticas socioambientais. Como a Aurora responde a esse debate?
Muitas críticas se baseiam em percepções antigas. Hoje, praticamente todos os produtores estão licenciados ambientalmente e seguem normas rígidas.
Há décadas trabalhamos melhorias contínuas no uso do solo, destinação de resíduos e bem-estar animal.
O ESG, tão falado atualmente, precisa ser entendido como algo mais amplo: além da questão ambiental, inclui cuidar das pessoas e garantir distribuição justa da renda. O cooperativismo tem esse DNA.
O legado que deixamos é de responsabilidade compartilhada e desenvolvimento sustentável.
O cooperativismo é baseado na soma de forças, mas o mercado é competitivo. Quando foi necessário agir mais como competidor do que como cooperativista?
O produtor precisa entender que é o mercado quem define as condições. Seja uma cooperativa ou uma empresa privada, o consumidor dificilmente paga mais apenas por ideologia. Existe, sim, um percentual que valoriza a origem cooperativa, mas isso não pode representar grandes diferenças de preço.
Nosso diferencial é que, em igualdade de condições, a cooperativa agrega valor à comunidade. Cumprindo seus princípios, torna-se um parceiro estratégico até para governos bem intencionados.
Se um dia a Aurora virar um estudo de caso em Harvard, qual capítulo da sua gestão você gostaria que fosse lembrado?
Eu gostaria que estudassem como foi possível manter milhares de famílias com boa qualidade de vida em um modelo minifundiário. Esse é o grande desafio do cooperativismo moderno e a prova de que é possível crescer sem abandonar as raízes.
Considerações finais
A entrevista com Neivor Canton revela uma liderança que combina prudência e ousadia. Se por um lado a Aurora Coop busca novos mercados e instala bases internacionais, por outro preserva sua essência cooperativa, investindo em pessoas, famílias e comunidades. O equilíbrio entre competitividade global e valores locais parece ser a fórmula que mantém a Aurora Coop como uma das maiores exportadoras de proteína animal do Brasil — e como uma referência mundial em cooperativismo.
Assista a entrevista completa:
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