Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira – Parte II
Na primeira parte do artigo “Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira – Parte I” o autor abordou como a sustentabilidade deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade imperativa para as empresas que desejam prosperar no mercado. Os relatórios anuais de sustentabilidade e a consciência crescente das novas gerações são evidências claras de que práticas empresariais responsáveis são o caminho a seguir.
E nesta segunda parte, será abordado os principais parâmetros que devem ou podem compor um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura, abordando aspectos ambientais, sociais e econômicos essenciais para um setor mais responsável e eficiente.
1. Dimensão ambiental
É relevante para indicar se uma atividade de produção de suínos assegura condições sustentáveis. Nesta dimensão existe um grande conjunto de indicadores, como segue:
- Atmosfera: A primeira ideia que vem à mente é assegurar o correto manejo dos dejetos suínos, uma vez que a atividade se caracteriza por gerar um grande volume de dejeto, geralmente líquido (o que dificulta o correto manejo) principalmente em área reduzida.
Logo, o indicador manejo de dejetos deve estar no topo da lista.
Mas o manejo de dejetos é um processo amplo que envolve diversas etapas associadas, como por exemplo o manejo para mitigação de emissão de gases de efeito estufa (metano, amônia e sulfídrico), através de biodigestão anaeróbia ou injeção de dejetos no solo, seguindo práticas agronômicas adequadas levando em consideração o tipo de solo, tipo de cultura, balanço de nutrientes no solo, etc.
Pode ainda, existir o uso do dejeto suíno para produção de biogás (fonte de energia limpa). Sabemos que há diferentes sistemas (lagoa coberta, biodigestor de alta taxa, por exemplo), com diferentes níveis de eficiência (quantidade de metano produzido por unidade de dejeto). Neste caso, é coerente atribuir uma escala distinta a cada um dos casos. Menos comum, mas aplicável, é possível o uso de tecnologia para reuso da água contida no dejeto. cadastrar}
Portanto, há uma série de possibilidades de uso de tecnologias para tratamento do dejeto suíno. Cada tecnologia pode ser caracterizada como um indicador de sustentabilidade e aos quais podemos atribuir uma escala de valor.
- Água – Recurso cada vez mais escasso, é extremamente importante. Uso de bebedouros que reduzem o desperdício da água, captação e reservação de água da chuva para dessedentação, dentre outros. Novamente, para cada um destes indicadores pode ser atribuído uma escala de valor.
- Biodiversidade – A preservação da biodiversidade é igualmente considerada de grande importância. Neste aspecto, o Brasil pela legislação vigente, apresenta vantagem em relação a outros países. Em geral são indicadores os aspectos como: áreas de compensação ecológica e serviços ambientais.
- Solo – São considerados indicadores os aspectos: mudança de uso da terra, áreas para aplicação de dejetos respeitando os limites de nutrientes de acordo com a cultura, manutenção da fauna do solo, dentre outros.
- Resíduos – Remete a correta separação, armazenamento e destinação de resíduos sólidos, o que constitui importante indicador. No Brasil , por meio da lógica do uso da logística reversa/coleta seletiva, bastante difundida a campo, este indicador na maioria dos casos é contemplado.
- Energia O uso de energia renovável ou a geração de energia limpa (solar e biogás) tem uma grande contribuição para a sustentabilidade da suinocultura.
Aspectos como conversão alimentar (kg de alimento necessário para cada kg de ganho de peso) também implicam em um maior ou menor quantidade de dejetos.
Lotes que possuem melhor conversão alimentar geram menor quantidade de dejetos e portanto são mais sustentáveis ambientalmente. Portanto, dentro da área ambiental, a conversão alimentar deve ser um indicador.
Evidentemente, quando estivermos considerando indicadores da área econômica, a conversão alimentar passará novamente a ser considerada para novos indicadores, por exemplo, custo de produção.
2. Dimensão animal
Dentro deste, uma série de aspectos podem ser elencados como indicadores, por exemplo a saúde e bem-estar animal. Dentro de bem-estar há uma série de práticas que podem ocorrer na prática.
Aspectos como corte de dentes, corte da cauda, castração, ambiência (temperatura interna das instalações), sistema de ventilação (renovação de ar e redução de gases), densidade de alojamento, tipo de piso, tipo de sistema de alimentação (área de cocho/animal) e uma série de outros mais podem ser medidos.
Para cada um deles estabelecer uma escala de valores e, por fim, gerar um indicador consolidado de bem-estar animal.
Possíveis formas de organização dos indicadores são:
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- Ausência de fome e sede – Fatores como qualidade do alimento, número adequado de bebedouros, área adequada de comedouro por animal, lesões em decorrência de disputa por comida ou água, tipo de bebedouro, tipo de comedouro, dentre outros.
- Ausência de dor devido ao manejo, onde são observados aspectos como cortes de dentes, caudas, marcações em orelhas, castração, número de casos com lesões.
- Relação animal/humano: Neste caso, indicadores como espaços para movimentação dos animais e estresse dos animais pela ação humana são os mais comuns.
- Conforto dos animais – Indicadores mais comuns são área/animal, presença de baia hospital, temperatura ambiente, presença de gases dentro das instalações, uso de antibiótico para tratamento (mg de antibióticos/kg de suíno produzido), dentre outros.
3. Dimensão Econômica
Onde são avaliados o crescimento financeiro de uma granja. Exemplos de indicadores econômicos são eficiência técnica e resiliência econômica.
- Dentro de eficiência técnica são considerados indicadores como conversão alimentar, leitões desmamados porca ano (LDPA), mortalidades de porcas e leitões e mortalidade na fase de terminação.
- Resiliência econômica é mais aplicada à relação recurso humano/produção, como por exemplo, número de animais sob o cuidado de cada funcionário, quilograma de peso vivo/funcionário, origem da mão de obra (familiar/contratado), rentabilidade do capital, liquidez, rentabilidade liquida e operacional, endividamento, dentre outros.
4. Dimensão Social
São indicadores ligados à satisfação das necessidades básicas das pessoas, qualidade de vida e justiça social. Há princípios importantes nesta dimensão, como por exemplo condições de vida digna, coesão social e fortalecimento de comunidades, prosperidade das pessoas, dentre outros.
Também é importante destacar que o Brasil dispõe de um robusto arcabouço de leis trabalhistas (CLT), que assegura os direitos dos trabalhadores e estabelece uma relação justa e equilibrada entre empregadores e empregados.
Os indicadores mais comuns são:
- Garantia de direitos trabalhistas, como um número adequado de funcionários frente às atividades diárias, comunicação dos direitos aos funcionários e idade mínima para o trabalho.
- Saúde e segurança do trabalhador, medido por meio do número de capacitações dos funcionários, taxas de acidentes, fornecimento de EPI´s (equipamentos de proteção individual).
- Equidade, onde indicadores são igualdade de gênero, casos de discriminação, respeito à cultura local, dentre outros.
- Transparência na relação de trabalho, onde os indicadores são remuneração, formalização da relação de trabalho, acesso a informação de precificação da mão de obra no mercado de trabalho.
Com todas estas informações devidamente categorizadas e com a atribuição de pesos (gráfico a seguir) será possível gerar um único indicador consolidado para cada granja.
Assim, uma granja além de ter o seu indicador final de sustentabilidade, o que permite uma análise para dentro (está bem ou há oportunidade para melhoria), será possível também uma análise para fora, comparando seu indicador com indicadores de outras granjas.
Por fim, vale destacar que o Brasil adota uma série de práticas de produção que certamente resultarão em indicadores interessantes de sustentabilidade e que ao aplicar um protocolo estará representado por uma escala (facilmente compreendido).
Esta informação poderá ser utilizada em defesa da boa suinocultura praticada no Brasil. Além disso, para aqueles que queiram aprimorar seus indicadores de sustentabilidade, o protocolo permitirá exercitar por meio de cenários, como a adoção de novas tecnologias/práticas, poderão repercutir na sustentabilidade caso venham a ser implementadas. Assim, o produtor além de saber como está a sustentabilidade no momento atual, poderá analisar o que fazer, qual o investimento necessário e como isso repercutirá na sustentabilidade futura.
Outro aspecto fundamental, é que a geração destes indicadores deverá ser realizada por alguma entidade externa à granja, acreditada, e quem de fato poderá certificar a sustentabilidade de uma granja e atribuir a ela um selo.
Sustentabilidade é sinônimo de oportunidade para o Brasil
A adoção de um protocolo de brasileiro permitirá que o consumidor passe a conhecer o quão sustentável é a carne suína, permitirá a inserção da carne suína brasileira em mercados muito exigentes, permitirá que em paridade de preços a origem mais sustentável seja preferida, além de servir como uma ferramenta de gestão para o produtor que passa a dispor de um dado objetivo passível de análise subsidiando tomadas de decisão.[/cadastrar]
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