Marcos Fava Neves defende pragmatismo, expansão externa e “carnificação” do agro
O ponto de partida de Neves é transformar o reconhecimento do agro em política pública contínua.

Marcos Fava Neves defende pragmatismo, expansão externa e “carnificação” do agro
Em entrevista exclusiva à suínoBrasil realizada no estúdio agriPlay, instalado dentro da Pig Fair em parceria com o Nucleovet durante o SBSS 2025, o professor e consultor Marcos Fava Neves (“Doutor Agro”) defendeu que o financiamento do desenvolvimento brasileiro passa, de forma decisiva, pelo agronegócio. Com mais de 1.750 palestras em 23 países, o especialista falou a suínoBrasil sobre competitividade, barreiras ambientais, geopolítica comercial e os vetores que devem guiar o setor na próxima década.
Do discurso à política de Estado
O ponto de partida de Neves é transformar o reconhecimento do agro em política pública contínua. “Precisamos ampliar o apoio para conquistar mais mercados internacionais e produzir com mais eficiência”, disse, citando logística como gargalo evidente — especialmente em Santa Catarina, onde o escoamento por caminhões aos portos “não faz mais sentido” diante do volume atual.
Ele contextualizou a virada do Brasil: de importador de alimentos há três décadas para plataforma global de fornecimento. Segundo suas projeções, o País pode fechar a década com quase 40% do mercado mundial de frango, 30% em carne bovina e 20% em suína, reforçando o papel do agro na renda, no consumo e no investimento regional.
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Questionado sobre barreiras ambientais no comércio internacional, Neves pediu um debate guiado por dados. Para ele, o Brasil é “o país mais ambiental entre os grandes produtores”, com Código Florestal rigoroso, matriz energética renovável robusta e dois terços do território preservado.
Como exemplo de agricultura circular, destacou a suinocultura: aproveitamento de dejetos para biogás/biometano movendo máquinas, geração de energia elétrica nas granjas e uso do digestato como fertilizante. “Quem olhar honestamente os números não poderá atacar a produção brasileira, salvo o desmatamento ilegal, que é crime e deve estar na esfera policial”, afirmou.
Sobre o recente endurecimento tarifário dos Estados Unidos, Neves avaliou que o Brasil ficou inicialmente na melhor faixa, mas passou a “aparecer demais” em temas sensíveis, elevando o risco de retaliações. Ele defende foco comercial, não ideológico: “O que importa é derrubar barreiras e fazer acordos. Não é hora de posições ideológicas.”
Para setores perecíveis (frutas como manga e mamão, além de tilápia), o impacto é mais agudo e exige reação rápida. Já em commodities com múltiplos destinos (carne bovina, café), a realocação ajuda a mitigar choques, mas não substitui uma solução negociada.
Neves vê como positiva a aproximação com países compradores via joint ventures, etapas finais de processamento/embalagem nos destinos e estoques próximos para reforçar segurança de abastecimento. “Quem manda é a demanda. Precisamos estar mais perto do consumidor final”, disse.
A entrada de fundos soberanos e empresas estrangeiras no Brasil, assim como investimentos brasileiros em árabes, africanos e asiáticos, tende a fidelizar clientes e aumentar o valor agregado dos produtos — movimento já perceptível em fusões e redesenho de rotas comerciais globais.
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Para a próxima década, o professor projeta expansão de +20 milhões de hectares de grãos sem abrir novas áreas, sobretudo por intensificação de pastagens e segunda safra. Esse crescimento virá acompanhado da bioenergia: avanço do etanol de milho (com dezenas de plantas em operação) e do biodiesel (mistura em 15%), ampliando a oferta de DDG e de farelo para ração.
Esse cenário sustentaria a “carnificação do agro brasileiro”: exportar mais carnes (aves, suínos, bovinos, pescados), puxando a demanda por grãos, fortalecendo frigoríficos e elevando a participação do Brasil no mercado mundial com “mais selo verde e agregação de valor”.
Frequentador de fóruns globais desde os anos 1990, Neves afirma que o Brasil passou de ouvinte a protagonista. “Todo mundo quer entender como aumentamos 18 milhões de hectares de grãos em seis anos e como montamos os modelos de suinocultura”, disse. Para organismos como a FAO, a eficiência brasileira impacta segurança alimentar e estabilidade de preços: “A comida no Brasil custa, em média, 40% do que custava há 40 anos — fruto de inovação e gestão.”
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Ao elogiar o 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, Neves chamou o evento de “MBA intensivo” para profissionais do setor. “Quem assiste, anota, visita estandes e pergunta o que há de novo volta para casa mais competitivo do que chegou”, afirmou, celebrando a organização do Nucleovet, o engajamento das empresas e a qualidade das palestras.
Marcos Fava Neves é professor, engenheiro agrônomo, doutor e consultor em planejamento e gestão estratégica no agronegócio. Conhecido como “Doutor Agro”, realizou mais de 1.750 palestras em 23 países, com atuação voltada à construção de valor e competitividade para cadeias produtivas.
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