04 set 2024

O uso do creep feeding e o desafio de se criar leitões saudáveis e produtivos

Para o sucesso no uso de rações creep-feeding é necessário monitorar de perto o consumo de alimentos pelos leitões para garantir que recebam a quantidade adequada sem desperdícios.

O uso do creep feeding e o desafio de se criar leitões saudáveis e produtivos

O uso do creep feeding e o desafio de se criar leitões saudáveis e produtivos

Vamos usar uma “raçãozinha” para dar suporte aos leitões na lactação?

Claro, mas qual das opções disponíveis no mercado escolheremos?

O que uma ração deve apresentar para ser considerada boa?

Com qual idade deveremos iniciar o fornecimento?

Quais os impactos se eu não usar?

Estas são apenas algumas das várias perguntas feitas quando abordamos o tema do uso de creep feeding para leitões durante a lactação. E sejamos claros, são todas pertinentes e nem sempre fáceis de responder. Há décadas a academia e o mercado buscam, incessantemente, soluções para que a suinocultura produza leitões saudáveis e capazes de tolerar bem a fase de desmame, que é reconhecidamente o evento mais estressante e desafiador da vida do suíno.

Parte do estresse é causado pela transição abrupta da base alimentar dos leitões do leite materno para uma ração pré-inicial. Portanto, os leitões, além de lidarem com o novo ambiente e a necessidade de socialização com outros leitões, precisam adaptar-se à nova dieta, que é sólida e, frequentemente, de menor digestibilidade.

Não raro, percebe-se uma redução no consumo desses leitões no pós-desmame imediato. E o impacto disso é uma redução do ganho de peso diário na primeira semana e, com ele, o aumento das probabilidades de remoção e comprometimento do desempenho subsequente do lote (Figura 1).

Figura 1. Probabilidade de remoção de leitões até a saída de creche com diferentes classes de peso, em função do ganho de peso diário durante a primeira semana pós-desmame (Dados internos, Agroceres Multimix, 2020).

Esse fato pode comprometer mesmo leitões que desmamaram com bom peso, ou seja, todos os animais são passíveis de sofrer com um período pós-desmame mal manejado.

Então, como podemos preparar os leitões para o desafio digestivo que enfrentarão?

A resposta, sem dúvidas, passar por estabelecer o uso de uma ração creep feeding de alta qualidade. As rações creep feeding são formuladas especificamente para atender às necessidades nutricionais dos leitões em fase de lactação e pós-desmame imediato, isto é, sua composição considera a produção enzimática dos animais nessa fase, caracterizada por baixas quantidades de carboidrases e proteases, em detrimento a uma maior quantidade de lactase.

Um dos resultados imediatos desta combinação de fatores é a promoção do desenvolvimento precoce dos leitões, especialmente em termos de capacidade de consumo de alimentos sólidos e aumento na taxa de crescimento. Ainda, com o uso de rações creep feeding é possível a suplementação de nutrientes e aditivos específicos que atuarão na maximização da qualidade intestinal dos leitões.

Sob a ótica produtiva, os benefícios do uso de creep feeding podem ser quantificados na melhoria do ganho de peso e consumo, como resultado da melhor adaptação digestiva e saúde intestinal. Porém, muitos detalhes importantes devem ser observados, pois o leitão irá desempenhar melhor quanto mais ajustado estiver a implementação do manejo e uso da ração. O elemento mais relevante versa sobre a duração do uso de creep feeding durante a lactação.

Em uma metanálise que buscou elucidar os efeitos do uso de creep feeding durante o pré e pós-desmame, Muro et al. (2023) verificaram que, além da importância do fornecimento, é fundamental atentar-se à exposição dos leitões precocemente à ração. Os autores encontraram relação positiva entre duração do uso de creep feeding e consumo total da ração pela leitegada, na ordem de 0,27 kg de ração para cada dia de fornecimento extra (p < 0,001; Figura 2).

Figura 2. Associação entre o consumo e duração do uso de creep feeding durante a lactação (Muro et al., 2023).

Os mesmos autores identificaram que leitegadas que consumiram creep feeding por até 13 dias apresentaram peso ao desmame 4,3% maior que leitegadas que não consumiram ração, ao passo que leitegadas que consumiram creep feeding por mais de 14 dias desmamaram 8,1% mais pesados do que as leitegadas sem ração (p = 0,003; Figura 3).

Figura 3. Efeitos de diferentes durações do uso de creep feeding sobre o peso da leitegada desmamada (Muro et al., 2023).

É reconhecido que o consumo não é linear, já que animais jovens tem menor capacidade de ingestão, ao passo que, quanto mais próximo ao desmame, mais adaptado ao consumo o animal se tornará. Porém, fica evidente que, quanto antes os animais estiverem expostos, maior o benefício sobre o ganho proporcionado à leitegada a partir do consumo da ração creep feeding.

Considerando que a maior parte dos sistemas produtivos atuais desmama leitões a partir dos 21 dias, parece uma estratégia acertada o uso de creep feeding a partir do 7º dia de lactação. Com isso, é possível garantir que os leitões que recebem creep feeding tenderão a ter um desenvolvimento mais rápido e robusto, resultando em suínos mais saudáveis e produtivos ao longo do seu crescimento.

Percebe-se, portanto, que uma estratégia capital para o sucesso do uso das rações creep feeding é estimular e garantir o consumo. E uma série de fatores pode influenciar com que leitões se interessem e consumam a ração.

Os mais básicos, já conhecidos há bastante tempo, são o espaçamento e acessibilidade aos comedouros, que devem ser resistentes, preferencialmente fixos ao piso e com acesso por ambos os lados, ou em
torno do comedouro, quando circular (Wattanakul et al., 1997). Ainda, foi observado que a localização do comedouro também importa.

Alocar o comedouro para leitões próximos à cabeça da fêmea elevou o consumo de ração creep feeding e, consequentemente, a taxa de crescimento de leitões durante a lactação, se comparado à leitões no qual o comedouro se encontrava próximo ao posterior das fêmeas (Oliveira et al., 2021).

O desperdício é um elemento inerente ao manejo de rações creep feeding, sobretudo no início do fornecimento, quando os leitões são jovens e ainda estão aprendendo o ato de consumir ração. Some isto à curiosidade natural dos leitões e temos um cenário muito propício ao desperdício.

Estratégias como o fornecimento fracionado várias vezes ao dia, bem como o aumento gradual da presença de ração nos comedouros e o uso de tapetes abaixo deles, podem auxiliar neste cenário.

O custo associado ao uso de rações creep feeding é, frequentemente, o elemento de maior preocupação por parte dos produtores, sobretudo, durante momentos em que as margens do negócio suinocultura estão estreitas e os investimentos devem ser bem direcionados.

Contudo, apesar das rações para essa fase apresentarem o custo por quilo elevado, já que são compostas por ingredientes de alta digestibilidade e segurança sanitária, as quantidades empregadas são baixas e, ao final, a participação no custo do programa alimentar de creche gira em torno de 5% a 6%; e, se tratarmos do custo do programa alimentar do desmame ao abate, o impacto é de 1% a 2%.

Ainda, é importante considerar no momento de se calcular a viabilidade econômica da estratégia de uso de rações creep feeding que:

leitões bem preparados, com bons resultados ao desmame e durante a primeira semana de creche, tendem a apresentar não apenas reduzida mortalidade, como já citado, mas também maior peso ao abate.

O acompanhamento de mais de 3.500 leitões do nascimento ao abate demonstrou que a cada 100g de GPD na primeira semana pós-desmame, há possibilidade de redução de 4 a 5 dias no tempo para abate (r = 0,22; P < 0,001; Figura 4a). O mesmo banco de dados permite observar que para cada 1 kg de diferença no peso ao desmame, há acréscimo de 3,83 kg ao abate (r = 0,36; P < 0,001; Figura 4b).

Figuras 4a e 4b. Relação entre o GPD de primeira semana e o peso ao abate (a, esquerda) e relação entre o peso ao desmame e o peso ao abate (b, direita) (Dados internos, Agroceres Multimix, 2020).

Reconhecidamente, fala-se sobre os benefícios sobre a redução de competição por tetos entre os leitões de diferentes tamanhos, ao disponibilizarmos uma fonte suplementar de alimento.

Esse fato gera uma consequência relevante no pós-desmame imediato, pois, os menores leitões da leitegada, portanto aqueles que normalmente perdiam a disputa por tetos, são os mesmos que mais tendem a consumir creep feeding (Pluske et al., 2007).

Finalmente, para o sucesso no uso de rações creep-feeding é necessário monitorar de perto o consumo de alimentos pelos leitões para garantir que recebam a quantidade adequada sem desperdícios. O creep feeding é uma prática que oferece benefícios significativos em termos de desenvolvimento e saúde dos leitões, mas requer cuidadosa gestão e monitoramento para garantir seu sucesso comercial.

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