Benchmarking reprodutivo
A APCS (Associação Paulista de Criadores de Suínos) realizou mais uma edição do Encontro Técnico Comercial, reunindo produtores que, juntos, representam mais de 45 mil matrizes no estado.
Com o objetivo de fomentar o diálogo entre produtores e empresas, promover atualizações técnicas aplicáveis à rotina das granjas e fortalecer a organização do setor, a APCS (Associação Paulista de Criadores de Suínos) realizou mais uma edição do Encontro Técnico Comercial. O evento reuniu, em Campinas (SP), produtores que, juntos, representam mais de 45 mil matrizes no estado — uma amostragem relevante do perfil majoritariamente independente da suinocultura paulista.
A iniciativa, segundo o presidente da APCS, VAldomiro Ferreira Jr., foi mais do que uma oportunidade para atualização, mas representou também o fortalecimento do modelo de organização coletiva que tem dado voz e escala aos suinocultores do estado por meio de consórcios regionais. Em entrevista exclusiva à suínoBrasil, Ferreirinha explicou como a formação de um Consórcio de Suinocultores permitiu avanços reais na comercialização e na gestão das granjas.
“Deixamos de ser reféns da indústria”, salientou Ferreirinha. “Hoje, os produtores podem planejar suas vendas, agregar valor ao produto e participar de forma ativa de decisões que antes vinham prontas”, completou.
A programação técnica do evento trouxe temas conectados aos principais desafios do campo. A primeira palestra abordou o manejo nutricional e comportamental de fêmeas gestantes e lactantes, com foco na fibra solúvel.
Foi evidenciado que sua inclusão adequada melhora o trânsito intestinal, reduz o tempo de parto e impacta positivamente o consumo de ração, o colostro e o peso ao nascer dos leitões. “A gente precisa deixar a porca trabalhar. Melhorar a eficiência do sistema digestivo da matriz é garantir a sobrevivência do leitão”, destacou a nutricionista animal, Kariny Fonseca.
Além disso, a palestra trouxe um alerta sobre práticas equivocadas na assistência ao parto, como o uso indiscriminado de ocitocina e a manipulação excessiva do canal do parto, que podem elevar a taxa de natimortos e provocar inflamações uterinas. A palestrante chamou atenção para a importância da assistência treinada e do fornecimento adequado de água e nutrição no pós-parto, com foco na manutenção da condição corporal e na saúde da glândula mamária. “O sucesso da próxima lactação começa no final da anterior”, reforçou.
Outro tema abordado foi o papel da responsabilidade técnica nas avaliações nutricionais. Foi ressaltado que metas como ganho médio diário, número de leitões desmamados e conversão alimentar só são atingidas com alinhamento entre o que é prometido e o que é entregue ao produtor.
“Se eu digo que vamos reduzir mortalidade, preciso entregar essa redução. Isso exige confiança e dados. E, claro, exige que o produtor esteja atento também ao manejo que realiza no dia a dia”, destacou a especialista.
Outro tema relevante foi o impacto das micotoxinas na produção. Um levantamento recente apresentado durante o evento apontou que 90% das amostras de grãos analisadas apresentaram presença de micotoxinas — muitas delas em níveis superiores aos recomendados. Entre os efeitos destacados no encontro estão redução de consumo e desempenho, além de aumento do risco de mortalidade, mesmo quando não há sinais clínicos evidentes.
A recomendação aos produtores foi montoramento contínuo da qualidade dos insumos e adoção de estratégias de prevenção e adsorção.
Benchmarking reprodutivo
As apresentações seguintes trataram da importância do benchmarking reprodutivo como ferramenta de diagnóstico técnico e econômico nas granjas. Com base em um banco de dados com dados de quase 900 mil partos, foram apresentados médias nacionais e desvio padrão de diferentes indicadores — como leitões nascidos vivos, natimortos, taxa de partos, intervalo desmame-cio e produtividade por matriz.
Segundo o Zootecnista Rafael Keith Ono, não basta saber se os números estão acima, ou abaixo da média, mas é preciso compreender onde estão os gargalos e como as metas técnicas se relacionam com o resultado financeiro.
“Não basta olhar para o número de leitões nascidos”, salientou. “É preciso avaliar quantos desses leitões sobrevivem, ganham peso e geram rentabilidade”, completou.
O especialista em reprodução, Luis Henrique Saraiva, trouxe ainda reflexões sobre liderança operacional e acompanhamento de metas. Ele defendeu que metas técnicas só geram resultados quando acompanhadas de comunicação clara com a equipe e de indicadores que sirvam para ação.
“A gestão da granja começa pela informação”, alertou. “Se o operador não sabe qual é a meta, como ele pode melhorar? Se o líder não sabe o que está desviando, como ele corrige?”, provocou, Luis.
Com estrutura de rebanho fechado e gestão sanitária rigorosa — incluindo a erradicação voluntária de APP e Mycoplasma hyopneumoniae —, a granja foi reconhecida como modelo de rentabilidade e planejamento. Também foi destacada sua experiência pioneira com abate pesado, adotado antes mesmo de se consolidar como tendência nacional.
Ao encerrar o encontro, Ferreirinha reforçou o papel da APCS em dar voz ao produtor paulista e destacou o esforço para promover o consumo da carne suína por meio de ações institucionais. Ele convidou os presentes para a ativação da Semana Nacional da Carne Suína, com evento previsto para 4 de junho em São Paulo.
“Nosso papel é garantir que o produtor tenha conhecimento, acesso e representatividade. É isso que torna a suinocultura paulista mais forte”, afirmou.
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