Rentabilidade na suinocultura: apostar no menor desempenho é a melhor saída?
Nutrição e Alimentação
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Rentabilidade na suinocultura: apostar no menor desempenho é a melhor saída?
Um dos fatores que tem movido grandes mudanças na suinocultura tem sido a redução da rentabilidade, ocasionada pela dinâmica de preços da carne versus custos de produção. A relação entre os dois indicadores vem se estreitando ao longo do tempo e fazendo com que alguns produtores abandonem a atividade.
Logicamente existe uma série de outros fatores que também impactam a atividade, como as enfermidades e pressão social pela sustentabilidade ambiental da atividade. Por outro lado, o crescimento da demanda mundial por proteína animal é contínuo e impulsiona a produção de carnes e outros alimentos.
Parte da redução das margens se deve ao aumento da oferta de produto, sem que ocorra aumento proporcional do consumo. As razões para ambos os fenômenos são diversas e variam de região para região, porém, o fato é que a suinocultura é afetada pela redução do preço pago pela carne.
A internacionalização da oferta de cereais e a alta demanda mundial por esses alimentos básicos nos últimos anos, vêm impactando fortemente os custos de produção.
A relação oferta/demanda dos cereais é inversa e pressiona os preços das commodities para cima, impulsionado o custo de produção e comprometendo a rentabilidade da atividade.
Os cereais representam mais de 55% do custo de produção de suínos e as etapas de maior consumo são as fases de engorda dos animais (recria e terminação), que concentram 75% dos custos totais para alimentar os animais em todo o ciclo.
A seguir, apresentamos a distribuição dos custos percentuais da atividade suinícola, calculada com base em uma granja de 1000 matrizes, abatendo animais com aproximadamente 120 kg.
No gráfico seguinte, trazemos um exemplo da distribuição percentual dos custos por fase de produção, tendo como base dos cálculos, uma granja com 1000 matrizes, abatendo animais com aproximadamente 120 kg.
Composição centesimal do custo com alimentação – Fases de produção. Peso de abate 120 kg.
No gráfico acima, demonstramos um exemplo da distribuição percentual dos custos por fase de produção, tendo como base dos cálculos, uma granja com 1000 matrizes, abatendo animais com aproximadamente 120 kg.
Nesse cenário, reduzir os custos alimentares na fase de engorda, seja através da melhoria da conversão alimentar, ou através da adaptação da dieta com ingredientes menos pressionados pela demanda global, é o grande desafio da suinocultura atual.
Porém, diferentemente dos ruminantes, os animais monogástricos como suínos e aves não se alimentam eficientemente de ingredientes alternativos, ficando dependentes, na grande maioria dos mercados, da oferta de milho e farelo de soja.
A indústria suinícola tem utilizado uma série de estratégias para aumentar a eficiência de produção e manter a atividade em patamares positivos de rentabilidade.
Mas quais fatores podem interferir na dinâmica de custos da suinocultura, com vistas à fase de terminação?
O suíno tem características de consumo alimentar que podem variar conforme as condições fisiológicas, ambientais e de grupos, como por exemplo:
no caso de machos castrados, que consomem mais alimento que as fêmeas e os machos inteiros, devido à baixa concentração de hormônios esteroides nos animais castrados.
Num alojamento de sexos mistos, se os animais não forem tratados com atenção a essa característica, mas com dietas formuladas em níveis intermediários às exigências das fêmeas e dos machos castrados, haverá uma perda significativa de nutrientes.
A maior capacidade de consumo demonstrada pelos animais castrados e a redução do efeito anabólico dos hormônios sexuais sobre os tecidos de crescimento deles, são a combinação fisiológica que proporciona a pior distribuição do ganho tecidual no final do ciclo de produção. Esses animais apresentam taxas de ganho de tecido gorduroso bastante superior à dos animais não castrados, tanto machos como fêmeas.
O controle de curvas de alimentação por fase de produção e categoria de animal pode ser uma ferramenta muito eficaz para evitar os desperdícios de ração, ou nutrientes.
As condições do ambiente de criação também podem interferir no comportamento de consumo dos animais, podendo refletir em consumo inferior aos planos alimentares, ou excessivo, com desperdício de ração.
Por exemplo, a lotação de animais acima da capacidade de alojamento da estrutura, ou galpões com pouca ventilação e baixa qualidade de ar, são fatores que aumentam a desuniformidade dos lotes, reduzindo o desempenho. Afinal, são fatores de estresse que inibem o consumo de ração e reduzem o ganho de peso dos lotes.
Por outro lado, a eficiência de comedouros é um exemplo de estímulo ao consumo e redução do desperdício de ração, que resultam em melhorias no ganho de peso, redução do desperdício e consequente melhora da conversão alimentar.
A figura a seguir demonstra o efeito da lotação das baias e do espaço linear de comedouro por animal sobre o ganho de peso de cevados.
Note que o comportamento de ganho de peso dos animais que são criados em maior espaço é estável, não variando quando se amplia o espaço linear no comedouro (curva em cinza).
Já a curva em vermelho representa animais criados com restrição severa de espaço, com necessidade de ampliação máxima do espaço linear do comedouro para atingir consumo satisfatório e aproximar-se do ganho de peso dos animais criados com espaçamento mais adequado.
Os níveis de investimento nas dietas também podem determinar o potencial de ganho dos cevados na fase de terminação.
Dietas de alta energia podem melhorar o ganho de peso e, dependo do nível de inclusão de fontes energéticas, podem reduzir o consumo, melhorando a conversão alimentar pela elevação do ganho de peso diário e/ou pela redução da ingestão diária de ração.
No gráfico a seguir é possível perceber que, à medida que se eleva a disponibilidade de espaço para os animais, menos energia é necessária na dieta para produzir os melhores ganhos de peso diários.
Entretanto, quando os animais são submetidos a menores espaçamentos de baias, ocorre melhoria do ganho de peso até certo nível de energia metabolizável (3400 Kcal de EM). Porém, não há relação linear de compensação em todos os níveis de redução de espaço, ou seja, há limite de compensação.
Interação EM x Densidade sobre consumo de ração aos 161 dias
O consumo de ração reduziu linearmente à medida que as dietas foram enriquecidas com fontes energéticas. Essa estratégia pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir a conversão alimentar de lotes, quando há fontes de energia competitivas em preço.
Da mesma forma que a elevação da energia afeta o consumo de ração, ela também potencializa o ganho de peso dos lotes. O efeito sobre o ganho de peso é quadrático, ou seja, a elevação da energia melhora o ganho de peso até o nível de 3400 kcal de Energia Metabolizável.
Níveis de energia X Ganho de peso de suínos abatidos aos 161 dias de vida
Algumas outras estratégias nutricionais podem ser adotadas durante a fase de terminação para aumentar a rentabilidade do produtor, assim como uma série de aditivos podem ser adicionados à ração para acelerar o ganho de peso, ou reduzir a conversão alimentar.
Muitos aditivos foram vastamente estudados pelas academias científicas e podem ser utilizados com a finalidade de elevar a rentabilidade dos produtores de suínos. Entretanto, cada conjuntura econômica vai determinar o poder de investimento do suinocultor nas dietas da fase de terminação.
Haverá tempos de margens baixas, ou negativas, com custos elevados de ingredientes, quando os produtores poderão optar por reduzir investimentos e produzir próximo do limite dos animais, assumindo perdas de ganho de peso, elevações nas taxas de mortalidade e pioras nas conversão alimentar. Assim como haverá tempos em que os investimentos serão factíveis e a máxima eficiência de crescimento terá retornos econômicos maiores.
Será que apostar no menor desempenho é a melhor saída para situações estreitamento da relação preço de venda/custos de produção?
E se optarmos por trabalhar com animais na melhor condição de ganho de peso e conversão alimentar?
Rentabilidade na suinocultura: apostar no menor desempenho é a melhor saída?