Manter o país livre de doenças com disseminação global, como o que acontece com a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS), pode significar evitar um prejuízo da ordem de U$664 milhões de dólares anualmente para a produção brasileira de suínos. Confira as principais práticas de manejo para garantir a sanidade do plantel!
No contexto da produção animal, biosseguridade pode ser entendida como medidas implantadas para impedir a entrada de novos patógenos em populações, rebanhos e/ou grupos de animais.
As medidas para reduzir ou limitar a disseminação dos patógenos já existentes no plantel também são consideradas medidas de biosseguridade. Indo além, significa prevenir riscos e reduzir a circulação de perigos entre animais, humanos, plantas e ambiente (WHO, 2010).
A implantação de medidas de biosseguridade na suinocultura tem como principal motivação o fator econômico. É bastante nítido o prejuízo provocado pelo impacto negativo das doenças nos índices zootécnico, em que observa-se:
Aumento do gasto com uso de antibióticos e anti-inflamatórios para controlar doenças e sinais clínicos.
O suíno, ao se deparar com um processo infeccioso, apresenta perdas significativas de desempenho, não somente pela diminuição do apetite e da ingestão de ração, mas também pelo gasto metabólico intenso realizado pelo organismo do animal para tratamento da infecção. Sendo assim, a energia que seria convertida em produção de carne é utilizada para restabelecimento do status fisiológico.
Alguns trabalhos têm monetizado as perdas associadas a infecções bacterianas e virais (Haden C, 2012).
Verificou-se que as perdas causadas pela infecção do Mycoplasma hyopneumoniae, quando em associação com outros agentes virais tem seu custo astronomicamente impactado. O mesmo acontece com uma infecção pelo vírus da influenza.
Quando na presença do M. hyopneumoniae, seu custo mais que triplica. É claramente demonstrável que a associação de patógenos no mesmo rebanho produz perdas substanciais.
Manter o país livre de doenças com disseminação global, como o que acontece com a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS), pode significar evitar um prejuízo da ordem de U$664 milhões de dólares anualmente (D Holtkamp, 2011) para a produção brasileira de suínos.
Em um estudo conduzido por Derald Holtkamp (2007) os principais patógenos frequentemente presentes e que causam as maiores perdas econômicas foram ranqueados dentro da indústria norte-americana de suínos.
Ao abordar plantel reprodutivo, o vírus da PRRS (do qual o Brasil continua livre) foi apontado como sendo o principal desafio e o causador das maiores perdas produtivas e econômicas. Logo em seguida, o vírus da Influenza foi apontado como sendo tão importante quanto o PRRS e como sendo o segundo maior causador de perdas de produtividade dentro do plantel.
As diarreias causadas pelas bactérias do gênero Clostridium foram apontadas como a seguinte causa importante de perdas econômicas.
Ileíte, cocciodiose e Mycoplasma hyopneumonie também apareceram bem ranqueados, tanto em frequência quanto como causadores de perdaseconômicas (Derald Holtkamp, 2007).
Na creche, logo após PRRS, aparecem Influenza, Glaesserella parasuis (agente etiológico da doença de Glasser) e Strepcococcus suis como principais desafios sanitários e econômicos. A associação de doenças traz consigo maiores dificuldades de controle.
É bem conhecido o mecanismo pelo qual a doença de Glasser se manifesta nos rebanhos de creche em presença da Influenza, um agente primário capaz de aumentar a susceptibilidade dos suínos a infecções secundárias (Barcellos, Takeuti, Almeira, & Filho, 2017).
Na terminação, o M. hyopneumoniae e a Influenza são tidos como os causadores das doenças mais desafiadoras e caras para a indústria. A Síndrome Multissistêmica do Definhamento Suíno (SMDS) causada pelo Circovirus suíno tipo2 e pasteurelose também foram apontadas nesse estudo.
O M. hyopneumoniae tem sido apontado como um dos patógenos mais importantes na indústria de suínos e os custos associados a essa infecção são considerados importantes (Maes, 2018).
Diante desse impacto negativo tão expressivo (Gustavo S. Silva, 2019) avaliou o custo-benefício de um programa de eliminação do Mycoplasma.
Nesse estudo, no qual se usaram dois métodos (fechamento de plantel e protocolo medicamentoso), ambos tiveram excelentes retornos financeiros, com boa taxa de sucesso e mostrando que os benefícios obtidos são maiores do que os custos do fracasso do projeto.
Com os ganhos de desempenho relacionados ao GPD, CA e economia no uso de antibióticos, obteve-se o retorno financeiro de $ 877,375 em um ano. Mesmo que a granja ficasse negativa apenas um ano, a economia e os benefícios posteriores valeriam o investimento em ações de biosseguridade (Gustavo S. Silva, 2019).
Outras medidas adotadas num programa de biosseguridade incluem:
construir um fluxo unidirecional de animais – a necessidade de retirar todos os animais da instalação para a realização de lavação, desinfecção e vazio sanitário adequados oferece a possibilidade de interromper o ciclo do patógeno pela ausência do hospedeiro. Desse modo, os próximos animais alojados encontram um ambiente mais amigável, com menos pressão de infecção.
redução ao máximo possível do número de origens alojadas – muitas origens podem ter desafios sanitários diferentes e imunidade prévia variável. Ao misturarmos na mesma estrutura animais de diferentes origens, aumentamos a exposição de suínos susceptíveis a novos patógenos, o que pode causar surtos de doenças e gastos para o controle.
presença de uma estrutura adequada de quarentenário – o recebimento de novos animais na granja requer cuidados como distanciamento adequada da unidade de produção, fluxo de funcionários que não retornem para a granja e realização de exames para garantir a não introdução de novos patógenos no plantel.
implantação do sistema de reposição interna – oferece ganhos sanitários substanciais, o que reduz drasticamente a entrada de animais de fontes externas na granja, que possivelmente podem ser portadores de bactérias ou vírus novos.
biosseguridade do transporte – o fluxo de caminhões, principalmente os de abate, tem sido identificado como uma causa importante de introdução de patógenos nas granjas. Os caminhões devem seguir fluxos rígidos de checagem de lavação, secagem e vazio sanitário, se oriundos de outras granjas ou plantas frigoríficas.
fluxo de pessoas também configura um ponto de atenção. Deve-se implantar barreiras sanitárias com clara delimitação de áreas suja e limpa, chuveiro e a exigência de vazio sanitário antes de entrar em contato com os animais.
Ao se fazer uma breve revisão dos prejuízos causados pelas doenças na suinocultura mundial, tornam-se cada vez mais claros os benefícios de construir e manter um sistema de produção livre de doenças. Os ganhos em conversão alimentar, ganho de peso diário, redução de mortalidade e economia no uso de medicações são insuperavelmente mais altos do que os gastos com a manutenção e a implementação de um bom sistema de biosseguridade.
Barcellos, D. E., Takeuti, K. L., Almeira, L. .., & Filho, J. X. (Maio de 2017). Interação entre Agentes Infecciosos Bacterianos e Virais no Complexo das Doenças Respiratórias dos Suínos. Avanços em Sanidade, produção e reprodução de suínos. Anais do X SINSUI, (p. 133). Porto Alegre.
D Holtkamp, J. K. (2011). PORK CHECKOFF. Fonte: https://www.pork.org/news/porkcheckoff- study-prrs-costs-industry-664-million-annually/: https://www.pork.org/ news/pork-checkoff-study-prrs-costs-industry-664-million-annually/
Derald Holtkamp, H. R. (2007). The economic cost of major health challenges in large U.S. swine production systems. 38th American Association of Swine Veterinarians Annual Meeting, 85-89.
Gustavo S. Silva, P. Y. (2019). Benefit-cost analysis to estimate the payback time and the economic value of two Mycoplasma hyopneumoniae elimination methods in breeding herds. Preventive Veterinary Medicine, 95–102.
Haden C, P. T. (2012). Assessing production parameters and economic impact of swine influenza, PRRS and Mycoplasma hyopneumoniae on finishing pigs in a large production system, in Proceedings. AASV Annual Meeting, 75-76.
Maes, D. S. (2018). on Mycoplasma hyopneumoniae infections in pigs: knowledge gaps for improved disease control. Transbound. Emerg. Dis. , 65, 110–124.
WHO. (Mar de 2010). Fonte: World Health Organization: https://www.who.int/ foodsafety/fs_management/No_01_Biosecurity_Mar10_en.pdf
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