Composição da microbiota fecal varia com a idade
Diferentes sistemas de alojamento são usados na produção de suínos, mas pouco se sabe sobre seu efeito na composição da microbiota intestinal. Clique aqui e saiba mais sobre a influência do ambiente na microbiota intestinal suína!
Diferentes sistemas de alojamento são usados na produção de suínos, mas pouco se sabe sobre seu efeito na composição da microbiota intestinal.
A colonização adequada do trato gastrointestinal, especialmente durante as fases iniciais da vida, é essencial para qualquer indivíduo e a qualidade dessa colonização determinará o aparecimento de distúrbios digestivos durante as primeiras semanas de vida e pode até afetar a homeostase intestinal em longo prazo.
A colonização do trato intestinal dos leitões começa no momento do nascimento a partir da microbiota presente no trato genital e intestinal materno. Em seguida, essa colonização é complementada pela microbiota presente no ambiente.
Apesar disso, é difícil prever em que proporção as porcas são responsáveis pela microbiota intestinal que os leitões
desenvolvem:
Atualmente, os sistemas de produção de suínos oferecem condições ambientais distintas, desde sistemas convencionais a sistemas ecológicos. Entretanto, quando foi comparado a composição da microbiota de suínos criados em ambos os sistemas, não foram observadas diferenças significativas. Da mesma forma, nenhuma diferença significativa foi encontrada ao comparar a microbiota de animais alojados em ambientes fechados com animais alojados em ambientes externos.
Quando se trata de salas de gestação, o sistema mais utilizado são as canaletas ripadas, mas o uso de sistemas enriquecidos com palha no chão também têm sido utilizados.
Em sistemas enriquecidos, a redução do estresse e o consumo de fibra não digestível pode impactar a microbiota intestinal.
Baias convencionais vs Baias enriquecidas
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
A fim de determinar como o tipo de alojamento na gestação influencia a composição da microbiota intestinal das porcas, dois grupos de estudo foram formados consistindo de porcas Large-White x Landrace submetidas ao mesmo sistema de manejo, mas alojadas em diferentes tipos de baias durante a gestação.
No dia 105 da gestação, todas as porcas foram transferidas para gaiolas de parto e piso ripado idênticos.
O estudo foi replicado em três ocasiões (abril de 2014, setembro de 2014 e janeiro de 2015), foram realizadas coletas de amostras fecais das porcas no momento do parto e dos leitões de 1 e 4 dias de idade (139 amostras fecais no total).
Composição da microbiota fecal varia com a idade
Ao comparar a microbiota fecal das porcas, dos leitões de um dia de via e dos leitões com quatro dias de vida, constatou-se que:
Porcas: Prevotella e Oscillospira foram os gêneros predominantes, formando quase 50% da população microbiana fecal total de porcas no momento do parto.
Leitões de um dia de vida: o gênero predominante nos leitões de um dia foi E. coli (mais de 50% da microbiota total) que, junto com Clostridium, Fusobacterium e Actinobacillus, constituíram mais de 80% da população microbiana.
Leitões com quatro dias de idade: os gêneros predominantes em leitões com quatro dias foram Bacteroides, Fusobacterium e Prevotella, que constituíram 60% da microbiota total.
A composição da microbiota varia de acordo com o sistema de alojamento da porca gestante.
Ao comparar a microbiota fecal dos dois grupos de porcas (baias convencionais e baias enriquecidas), foram observadas diferenças em relação à abundância de 13 gêneros microbianos:
6 gêneros foram mais abundantes em porcas alojadas em baias convencionais, todas pertencentes ao filo Firmicutes.
7 gêneros foram mais abundantes em porcas alojadas em baias enriquecidas, a maioria pertencente ao filo Bacteroidetes e Fibrobacter.
A microbiota de porcas alojadas em baias enriquecidas continha significativamente mais Prevotella, Parabacteroides, CF231, Phascolarctobacterium, Fibrobacter, Anaerovibrio e YRC22, e significativamente menos Lactobacillus, Bulleidia, Lachnospira, Dorea, Ruminococcus e Oscillospira em comparação com a microbiota de porcas alojadas no sistema convencional.
A análise da microbiota fecal de porcas e seus leitões nos aproxima um pouco mais de saber qual é a dinâmica da colonização intestinal e como as condições ambientais podem influenciar sua composição.
Embora E. coli seja tipicamente o primeiro colonizador intestinal, no caso de leitões de um dia de idade, uma predominância de Escherichia, Clostridium, Fusobacterium e Actinobacillus.
Em leitões de quatro dias de idade, Bacteroides substituiu E. coli como o membro mais abundante, o que é surpreendente considerando que Bacteroides é raro em suídeos adultos, onde Prevotella predomina no filo Bacteroidetes.
As grandes diferenças na composição da microbiota de porcas e leitões implicam que as matrizes não sejam a única fonte de colonização nos primeiros dias de vida. Na verdade, fatores como a lactação e o ambiente parecem ter maior importância quando se trata da colonização intestinal de leitões.
Por outro lado, variações na composição da microbiota intestinal das porcas sugerem que o sistema de alojamento influencia a composição da microbiota intestinal, provavelmente devido à ingestão de fibra.
Os filos Bacteroidetes e Fibrobacter, que tiveram maior representatividade em porcas alojadas em sistemas enriquecidos, caracterizam-se pela capacidade de metabolizar polissacarídeos insolúveis (celuloses, hemiceluloses ou pectinas). Assim, as baias enriquecidas com palha exerceriam uma seleção positiva sobre os membros do filo Bacteroidetes e Fibrobacter.
Conclui-se que o alojamento de porcas em sistemas enriquecidos com palha favorece uma seleção positiva para os filos Bacteroidetes e Fibrobacter, embora essas diferenças não se reflitam na composição da microbiota de seus leitões.
As diferenças na composição da dieta dos leitões podem atrasar a colonização intestinal pela microbiota das porcas adultas. Portanto, não se deve esquecer que as matrizes continuam influenciando o desenvolvimento da microbiota intestinal de seus filhos até o desmame.
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