Juntamente com o crescente potencial econômico da suinocultura têm-se um aumento nas exigências por qualidade dos produtos, visto que o próprio consumidor tem buscado por alimentos seguros. Confira a importância da qualidade dos insumos para uma produção de sucesso, aqui!
A exportação de carne suína tem batido recordes no ano de 2020. Mesmo em um cenário de pandemia, o Brasil mantém o quarto lugar como maior produtor e exportador de carne suína, e mesmo com o crescimento da exportação no último ano, o mercado interno continua sendo o destino de mais de 80% da produção brasileira.
Com o mercado aquecido e grandes perspectivas, os suinocultores têm traçados estratégias para expandir o mercado, e assim novos conceitos de gerenciamento e organização têm sido utilizados em busca da excelência dos seus produtos.
E juntamente com o crescente potencial econômico da suinocultura têm-se um aumento nas exigências por qualidade dos produtos, visto que o próprio consumidor tem buscado por alimentos seguros.
Dessa forma, preocupações quanto a origem e a qualidade dos produtos, que chegam até a mesa do consumidor, estão mais evidentes nesse mercado.
Ao analisar quais os aspectos implicam diretamente na segurança alimentar humana, logo pensamos na alimentação animal, pois não há como desvencilhar uma da outra, pois as rações são um dos principais insumos dentro da produção de suínos. Tanto, que se observou no trimestre desse ano um aumento de 4,5%, ou seja, mais de 4,3 milhões de toneladas de rações para se atender a grande mobilização de animais destinados ao abate (SINDIRAÇÕES, 2020).
As rações representam 80% sobre os custos de produção, e são de suma importância para os aspectos produtivos, pois a sua qualidade interfere diretamente sobre os resultados de desempenho dos animais obtidos a campo e, isso levou a indústria de alimentação animal a adotar programas de qualidade tais como:
5S (Seiri: Separar o necessário do desnecessário; Seiton: Colocar cada coisa em seu devido lugar; Seisō: Limpar e cuidar do ambiente de trabalho; Seiketsu: Criar normas; Shitsuke: Todos ajudam);
Além disso, se adequar a legislação vigente, a fim atender a demanda do mercado de proteína animal, que preza pela produção de alimentos seguros em todos os segmentos da cadeia de produtiva.
Alguns aspectos são primordiais dentro do processo produtivo de rações, pois produzir ração de qualidade é muito mais que ter as proporções exatas dos ingredientes e misturá-los.
É necessário estabelecer boas práticas de fabricação, não somente com intuito de atender a legislação, mas principalmente como uma ferramenta do programa de qualidade para se obter produtos seguros.
A qualidade pode ser planejada a partir da adoção de parâmetros, registros e medidas de controle que se iniciam desde a compra e recepção das matérias primas, passando pela padronização do processo de fabricação até a entrega do produto final, evitando, por sua vez, inúmeros prejuízos: como contaminação cruzada, desperdícios e excessos.
Na compra de matérias-primas é importante adquirir produtos de fornecedores idôneos que tenham compromisso com a qualidade, com um bom controle de processo de produção e, por meio de um contrato, é possível se estabelecer uma padronização da matéria-prima adquirida, que atenda as especificações mínimas de cada ingrediente, e garantam os níveis nutricionais e a qualidade necessária.
Isso reduz a variabilidade na qualidade dos ingredientes, e garante uma maior segurança na utilização dos mesmos.
É importante que as informações sobre fornecedores e respectivos ingredientes sejam arquivadas na fábrica. Amostras de todos os ingredientes recebidos, ensacados ou a granel, devem ser coletadas, analisadas fisicamente, através de testes qualitativos rápidos, e posteriormente armazenadas.
As caraterísticas analisadas que tangem aspectos físicos, tais como: cor, odor, textura, granulometria, uniformidade, entre outras julgadas pertinentes, devem ser registradas no controle de recebimento de matéria-prima, bem como as informações sobre o lote do fabricante, data de fabricação e validade, número de nota fiscal, e demais informações que permitam identificar a origem do ingrediente caso seja necessário um recall do produto final.
O ideal é que se faça uma análise de todos os ingredientes em um laboratório de confiança para se ter confiabilidade das informações apresentadas pelo fornecedor.
Ao realizar a compra de matérias-primas deve-se ater que, a baixa qualidade dos ingredientes não pode ser modificada nas fábricas.
Entretanto, por meio da segregação de ingredientes, equipamentos de moagem, condicionamento e peletização, a utilização nutricional dos ingredientes pode ser melhorada.
Assim, mesmo que pareça atrativo o baixo custo na compra de ingredientes, a sua qualidade poderá afetar diretamente o processo produtivo das rações, além de não disponibilizar nutrientes suficientes comprometendo o desempenho dos animais e acarretando em prejuízos financeiros para o suinocultor.
A adequada armazenagem das matérias-primas é outro ponto a ser ressaltado, pois o tempo e as condições de armazenamento são decisivos para não comprometer a qualidade da matéria-prima adquirida, portanto devem ser monitorados constantemente.
A ração de suínos tem como base os grãos: milho e soja, esses são susceptíveis a contaminação por fungos, que ao infestarem os grãos podem produzir substâncias tóxicas, as micotoxinas.
As micotoxinas são substâncias químicas resultantes da atividade metabólica de fungos que ao ser absorvidas pelos animais levam a perda de desempenho, causam doenças e intoxicações.
A contaminação por fungos pode ocorrer durante o cultivo, mas é no pós-colheita que esses proliferam com grande intensidade quando encontram condições favoráveis para o seu desenvolvimento.
Na chegada dos grãos na fábrica, uma inspeção prévia deve ser realizada, avaliando as condições de transporte como limpeza, conservação da carga, e também é importante realizar uma amostragem e conferir se o teor de umidade está a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos.
Já na armazenagem nos silos, é necessário monitorar a temperatura da massa de grãos e manter um programa de aeração, para uniformizar a temperatura e, adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos está associada ao ataque destas pragas.
A estocagem de produtos a granel, de um modo geral, deve ser bem controlada, evitando misturas de ingredientes de qualidade diferentes ou de outros produtos. Constantes amostras os grãos armazenadas podem ser coletadas e analisadas para se ter um controle das condições ideais de armazenamento.
Para os produtos ensacados, é importante verificar a data de fabricação e validade, se não há incidência de sol no local de armazenamento, a qualidade das sacarias, o distanciamento dos paletes e a estabilidade das pilhas, afim de evitar a infestação por pragas e perda de produtos, assim como o risco de acidentes.
Os produtos recebidos devem ser identificados e alocados em seus devidos locais de armazenamento.
No processo de fabricação, a gestão da qualidade deve adotar ações que contemplem componentes como os equipamentos, os procedimentos e os colaboradores.
A qualidade das matérias-primas deve ser preservada no processo de produção, por isso os equipamentos que farão a transformação dessa matéria-prima são fundamentais nesse sistema de produção, pois interferem nas características físicas dos ingredientes e rações.
Por isso, é importante alinhar a manutenção e calibração dos equipamentos. Assim, a balança deve estar calibrada e ajustada para se ter uma precisão na pesagem dos ingredientes que compõe a ração.
O processo de moagem dos grãos deve resultar em um produto uniforme para ser bem aceito pelos animais, de modo que não ocorra a segregação quando misturado com outros ingredientes (BUTOLO, 2002).
Assim, a adequação da granulometria é um fator decisivo para a mistura, pois quanto maior a uniformidade das partículas, melhor será a mistura, isso porque o tamanho das partículas da ração impacta diretamente no aproveitamento dos nutrientes pelos animais, pois melhora a sua digestibilidade.
É interessante que se faça coletas de rações para a realização de testes de homogeneidade, pois são eficientes para avaliar a qualidade e a uniformidade da mistura. Amostras de rações de cada partida produzida devem ser coletadas e armazenadas para o controle de rastreabilidade.
Da mesma forma, o misturador deve está ajustado ao tempo correto para que todos os ingredientes sejam incorporados uniformemente à mistura. O processo de peletização demanda ajustes sobre a pressão, temperatura, umidade e tempo adequado para a obtenção de pellets mais duráveis e de qualidade. Além disso, as máquinas e equipamentos devem ser operados por pessoas capacitadas, de maneira racional, pois o resultado desse processo, deve ser uma ração que corresponda fielmente a sua fórmula.
Outro fator essencial em todo processo de fabricação é a
higienização correta, tanto dos colaboradores quanto dos
equipamentos e utensílios, a fim de minimizar ou mesmo evitar
a contaminação da ração. A organização da produção através
de fluxograma, estabelecendo uma sequência lógica de linha de
produção também contribui para a eliminação da contaminação
cruzada por quaisquer agentes considerados nocivos.
Além dessas medidas, a prevenção e controle integrado de pragas e vetores deve ser realizada em toda área da fábrica, eliminando fontes de abrigo, água e alimentos que favoreçam a proliferação de pragas.
Ao final do processo de fabricação, na expedição das rações deve preservar a integridade do produto acabado, independentemente de ser ensacados ou em silos graneleiros, todos os cuidados para se evitar a contaminação e a perda da qualidade da ração deve ser tomado para que o alimento seguro chegue até no comedouro da granja.
O sucesso de um programa de qualidade efetivo
deve-se em grande parte aos colaboradores. Esses
são responsáveis pelos resultados alcançados
e, por isso, a capacitação das pessoas reflete no
desempenho e na competência da equipe na execução
das suas atividades que impulsionam o negócio.
Dessa forma, o programa de qualidade deve oferecer treinamentos, estimular um bom trabalho em equipe, promover mudanças positivas de comportamento de todos os envolvidos no desempenho de suas funções.
Para tanto, a capacitação dos colaboradores, deve fazer parte de um cronograma de treinamentos anuais, com o intuito de reforçar a importância das boas práticas de fabricação na produção, e apontar os principais desafios e gargalos enfrentados diariamente na produção de rações.
A eficiência e a excelência são as principais metas traçadas ao se elaborar um programa de qualidade. E os resultados somente são atingidos quando cada um dos envolvidos entendem a importância da sua função dentro do processo de produção.
Por isso, o comprometimento de cada membro da equipe é essencial, para se atingir os objetivos, reduzir os riscos de acidentes de trabalho, e adquirir agilidade nas ações.
ABCS- Associação Brasileira de Criadores de Suínos. Dados do Setor. Disponível em < http://abcs.org.br/dados-do-setor/>. Acessado 28/08/2020.
BUTOLO, J.E. 2002. Qualidade de Ingredientes na Alimentação Animal. Colégio Brasileiro de Alimentação Animal. Campinas. 430p.
STARK, C.R.; JONES, F.T. Quality assurance programs in feed manufacturing. Feedstuffs, v. 16, p. 61, 2009.
SINDIRAÇÕES. Disponível em https://sindiracoes.org.br/wp-content/uploads/2020/06/boletim_informativo_do_setor_junho_2020_vs_final_port_ sindiracoes.pdf. Acessado em: 30/08/2020.
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