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14 maio 2025

Pneumonias em alta: micoplasma afeta até 70% dos suínos e estratégias reprodutivas podem reduzir prejuízos

Painel técnico do SINSUI 2025 expôs o avanço da diversidade genética do Mycoplasma hyopneumoniae e reforçou o alerta sobre co-infecções com Glaesserella parasuis e Actinobacillus pleuropneumoniae

Pneumonias em alta: micoplasma afeta até 70% dos suínos e estratégias reprodutivas podem reduzir prejuízos

Pneumonias em alta: micoplasma afeta até 70% dos suínos e estratégias reprodutivas podem reduzir prejuízos

O segundo dia do SINSUI 2025 começou com um alerta claro: os desafios respiratórios permanecem entre os principais entraves sanitários da suinocultura brasileira — e, talvez, os mais difíceis de controlar. O painel “Atualização em problemas respiratórios”, moderado por Janice Zanella e Pedro Filsner (Ceva Saúde Animal), reuniu três especialistas que vêm se dedicando há anos ao entendimento dessas enfermidades complexas.

O professor Luís Guilherme, da UNESP Jaboticabal, abriu o painel com uma análise contundente sobre o Mycoplasma hyopneumoniae. Segundo ele, ao contrário do que se pensava no passado, a bactéria não é nada estável.

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Ele apresentou dados de diversidade genética nos Estados Unidos, onde já foram identificadas 87 variantes; e no Brasil, com 39 variantes diferentes em apenas 90 amostras. O professor explicou que essa diversidade ocorre não apenas entre países, mas dentro de uma mesma granja, com casos em que até 11 variantes convivem no mesmo sistema.

Em um estudo com dados do Brasil, França e Alemanha, as lesões pulmonares típicas do agente, como consolidações cranioventrais, apresentaram prevalência superior a 70% dos animais.

Dados de campo

A professora Karine Ludwig Takeuti, da Universidade Feevale, trouxe um enfoque com dados de campo obtidos a partir de colaborações com granjas e pesquisas recentes. Um dos pontos mais provocativos foi a associação entre infecção por micoplasma e queda de desempenho reprodutivo.

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Fêmeas positivas ao parto, ou durante a cobertura, apresentaram em média um leitão vivo a menos por parto. Além disso, 47% dos partos dessas fêmeas resultaram em leitões mumificados, contra apenas 15% nos partos de fêmeas negativas.

Os dados reforçam que estratégias reprodutivas — como o controle sanitário das fêmeas de reposição e a escolha do momento ideal de cobertura — podem ter papel decisivo, segundo a professora, para mitigar prejuízos decorrentes de infecções respiratórias.

Ela também defendeu a revisão de práticas consolidadas. Ao reposicionar a vacina de micoplasma dos 21 para os 42 dias, uma empresa relatou queda da mortalidade na terminação de 7% para 2%.

E quando associou essa estratégia a uma dose pré-parto em primíparas, o efeito foi ainda mais expressivo. Essa combinação, segundo Karine, melhorou também o desempenho da leitegada e reduziu o índice de descarte de matrizes, mostrando que intervenções no manejo das fêmeas podem repercutir não só na sanidade dos leitões, mas também na eficiência do sistema reprodutivo como um todo.

Karine ainda apresentou resultados de estudos com alternativas não convencionais, como o uso do carvacrol. Embora o aditivo não tenha proporcionado conversão alimentar tão eficiente quanto a antibioticoterapia, os ganhos de peso foram equivalentes e o custo, significativamente menor.

“Essa é uma estratégia que ganha força especialmente em cenários de restrição ao uso de antimicrobianos na ração”, apontou.

Entre os fatores de risco para pleurisia, um estudo citado por ela chamou atenção ao mostrar que a mistura de mais de cinco origens na fase de creche aumentou em 85% a chance de lesões pulmonares na terminação.

Outro dado inusitado foi a relação entre qualidade da água e doenças respiratórias: granjas com fontes de água fechadas apresentaram 25% menos casos de pleurisia. Sequenciamentos realizados em lagoas de dejetos revelaram a presença de fragmentos genéticos de micoplasma, P. multocida e A. pleuropneumoniae, levantando a hipótese de recontaminação por bioaerossóis.

Controle

Fechando o painel, o professor Rafael Frandoloso, da UPF, trouxe um panorama detalhado das dificuldades enfrentadas no controle de Glaesserella parasuis e Actinobacillus pleuropneumoniae. Ele alertou para o escape imunológico frequente dessas bactérias, mesmo em animais vacinados.

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No caso da Glaesserella, o sorovar 12 ultrapassou o sorovar 5 em prevalência no Brasil pela primeira vez em 2024, uma mudança expressiva que exige atualização dos programas vacinais.

Frandoloso destacou ainda que a infecção por Glaesserella é precoce: aos sete dias de vida, 100% dos leitões já estão colonizados. A doença, segundo ele, tende a se manifestar entre 35 e 49 dias, justamente quando a imunidade passiva cai e a carga bacteriana atinge seu pico. Ele defendeu o uso de testes de antigenicidade como ferramenta fundamental para a formulação de vacinas mais eficazes, especialmente as autógenas.

“Sem diagnóstico preciso, qualquer programa de controle é um tiro no escuro. A diversidade antigênica está presente até dentro de um único animal”, reforçou.

No caso da APP, ele chamou atenção para o poder destrutivo das toxinas produzidas por certos sorotipos, que geram lesões nodulares coincidentes com picos febris e promovem danos duradouros à performance do animal.

O painel deixou claro que os problemas respiratórios continuam exigindo atenção técnica e ações coordenadas. Mais do que protocolos padronizados, o controle passa por diagnóstico preciso, decisões rápidas e — quando necessário — ajustes também nas estratégias reprodutivas.

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