A fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho – Parte II
Na primeira parte do artigo “A fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho – Parte I” os autores abordaram a fibra insolúvel e seus efeitos na saciação, na saciedade e no comportamento em fêmeas suínas gestantes.
E nesta segunda parte, será abordado os impactos da constipação na fêmea gestante e desempenho dos leitões.
Constipação, impactos na fêmea gestante e desempenho dos leitões
A constipação é um problema comum que atinge as fêmeas suínas durante a gestação e lactação. Esse problema pode ocorrer por uma disfunção no sistema gastrointestinal ou uma desordem no sistema nervoso-intestinal.
As causas que desencadeiam quadros de constipação (Quadro 1) são geralmente devido a efeitos hormonais, características da dieta e baixo exercício físico do animal.
O escore fecal é uma medida usada para avaliar a consistência das fezes, refletindo o funcionamento do trato intestinal (Figura 2).
Figura 2: Escore Fecal de fêmeas suínas, adaptado de Oliviero et al. (2009). 0- ausência de fezes; escore 1 – fezes secas e em forma de pellet; escore 2 – fezes entre secas e normais; escore 3 – fezes normais e macias, mas firmes e bem formadas; escore 4 – fezes entre normais e úmidas, ainda formadas, mas não firmes; escore 5- fezes informes e líquidas.
Essa avaliação auxilia no monitoramento da saúde intestinal e do bem-estar dos animais, especialmente em períodos críticos, como o pré-parto.
Utilizando essa metodologia de avaliação, Oliviero et al. (2009) demonstraram que o aumento no teor de fibras da dieta ajudou o intestino a reduzir a ocorrência de constipação prolongada em porcas aos 5 dias pré-parto e 5 dias pós-parto. Além disso, fêmeas que receberam dieta rica em fibra consumiram mais água e seus leitões foram mais pesados ao nascer. Isso pode estar associado ao fato que uma maior ingestão de água é benéfica para o processo do parto como também na lactação por ser essencial para a produção de leite fêmea.
Os principais ganhos de se utilizar fibra na dieta de fêmeas suínas gestantes são:
- Melhora na consistência das fezes
- Aumento do consumo de ração durante a lactação
- Maior ganho de peso dos leitões
- Melhora na taxa de crescimento dos leitões
- Maior peso de leitão ao desmame
Tan et al. (2015) observaram que fêmeas gestantes suplementadas com farinha de konjac e Saccharomyces boulardii apresentaram escores fecais significativamente mais altos no dia 113 de gestação em comparação ao grupo controle, apesar de semelhantes entre si durante o período de cinco dias antes a cinco dias após o parto. Além disso, relataram também que, durante a terceira semana de lactação, as fêmeas alimentadas com dietas suplementadas durante a gestação consumiram mais ração do que as fêmeas do grupo controle.
Adicionalmente, nesse mesmo estudo, apesar das fontes de fibra não terem influenciado o número de leitões nascidos, houve efeito no desempenho da leitegada. Leitões oriundos de fêmeas alimentadas com as dietas com fontes de fibra durante a gestação apresentaram maior ganho de peso comparados com o grupo controle.
Esses resultados indicam que a inclusão de fibra na dieta de fêmeas suínas gestantes pode:
- Melhorar a saúde digestiva
- Aumento no consumo de ração
- Promover maior ganho de peso dos leitões e
- Resultar em um melhor desenvolvimento geral da leitegada
Considerações finais
A utilização de dietas ricas em fibras durante o período de gestação ajuda a aumentar a saciedade e diminuir os riscos de constipação das fêmeas com efeitos positivos sobre a saúde e desempenho dos leitões na fase de lactação. Estudos aplicados à realidade brasileira ainda são escassos e poderão auxiliar a elucidar quais as melhores fontes de fibras disponíveis para cada caso e seus efeitos sobre a saúde e bem-estar das fêmeas gestantes.
A depender da disponibilidade e do custo, a inclusão de ingredientes fibrosos pode mitigar o estado de fome das fêmeas suínas durante a fase de gestação em diferentes condições e sistemas de produção, principalmente em modelos de gestação coletiva onde a maior disponibilidade de espaço e tamanho dos grupos ainda são desafios para o setor.
Os efeitos benéficos da inclusão de alimentos fibrosos nas dietas são um importante aspecto que devem ser considerados pelo setor produtivo. Estudos futuros que avaliem o custo-benefício de diferentes estratégias são necessários para orientar os melhores momentos do uso da fibra na gestação e até na lactação. Assim como o entendimento da possibilidade de uso de forma a melhorar o estado de bem-estar animal nos sistemas de produção atuais frente as novas demandas do mercado consumidor.
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