agronutri topo janeiro/24
23 ago 2023

IBGE confirma drástica desaceleração na produção de suínos, mas alta oferta das demais carnes limita as cotações

Confira o panorama completo do mercado de suínos no mês de agosto!

IBGE confirma drástica desaceleração na produção de suínos, mas alta oferta das demais carnes limita as cotações

IBGE confirma drástica desaceleração na produção de suínos, mas alta oferta das demais carnes limita as cotações

 

Com base em dados preliminares de abate do segundo trimestre de 2023, e estatísticas de exportação de carnes publicados pelo IBGE no último dia 10 de agosto, o consultor de mercado da ABCS Iuri Pinheiro Machado, fez algumas análises comparativas com o mesmo período do ano passado, que demonstram os fundamentos para explicar a situação de mercado do momento, com alta disponibilidade interna das três principais carnes vendidas no Brasil, e preços pagos ao produtor ainda estagnados.

Produção do segundo trimestre e consolidado do primeiro semestre/23

Conforme a tabela 1, quando comparado com o mesmo período de 2022, em toneladas de carcaças, o segundo trimestre de 2023 foi marcado pelo aumento da produção de frango (+7,23%) e carne bovina (+9,47%) e pequena redução da carne suína (-0,32%). No acumulado do ano (primeiro semestre), em comparação com o mesmo período do ano passado, destaca-se um aumento de 6,30% no abate de bovinos, de 6,89% no frango e de somente 1,23% na produção de carcaças suínas. Chama a atenção o elevado peso médio das carcaças suínas neste segundo trimestre (93,78kg), o mais alto da série histórica do IBGE.

Tabela 1. Dados de abate (em toneladas de carcaças e 1.000 cabeças) de bovinos, aves e suínos do segundo trimestre, e acumulado do primeiro semestre de 2023, comparados com o mesmo período do ano passado e com o primeiro trimestre deste ano. * dados do segundo trimestre/23 preliminares. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE.

Analisando o abate de suínos depois de um longo ciclo de crescimento da produção, (intensificado entre 2019 e 2022, conforme a tabela 2), observa-se que no segundo TRIMESTRE de 2023 (-1,55%) pela primeira vez desde 2014 (-0,09%), houve redução da produção em cabeças em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Desde o quarto trimestre de 2018 não havia redução de volume produzido em toneladas de carcaças.

Tabela 2. Abate TRIMESTRAL de suínos no Brasil em cabeças e toneladas de carcaças e crescimento/redução (%) em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e ao trimestre imediatamente anterior. Redução observada no 2º trimestre de 2023 em relação ao mesmo trimestre de 2022 foi a primeira desde 2014 em cabeças e 2018 em toneladas de carcaças. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE.

Ao se fazer a mesma análise comparativa do crescimento do abate de suínos entre os SEMESTRES (tabela 3), observa-se que o pequeno crescimento deste ano em relação ao primeiro semestre do ano passado de 0,80% em cabeças e 1,23% em toneladas de carcaças só foi maior que o ocorrido no primeiro semestre de 2014 (+0,38% e +0,47%, respectivamente). Por outro lado, em comparação com o semestre anterior (2º semestre de 2022), houve queda no número de cabeças e ton. de carcaças (-1,3% e -1,23%, respectivamente) pela primeira vez, desde o primeiro semestre de 2019 (-0,4% e -0,6%).

Tabela 3. Abate SEMESTRAL de suínos no Brasil em cabeças e toneladas de carcaças e crescimento/redução (%) em relação ao mesmo semestre do ano anterior e ao semestre imediatamente anterior. Redução observada no 1º semestre de 2023 em relação ao 2º semestre de 2022 foi a primeira desde 2019 em cabeças e em toneladas de carcaças. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE.

Exportações recorde de carne suína e disponibilidade interna estável, porém oferta das demais carnes limita cotações

Com um total de 620,46 mil toneladas de carne suína in natura exportadas de janeiro a julho/23 (tabela 4), superando em 13,72% o volume total e 15,5% o volume embarcado para China em relação ao mesmo período do ano passado, este ano de 2023 caminha para bater novo recorde de exportação, superando até mesmo o ano de 2021 possivelmente em mais de 7% no seu fechamento.

Tabela 4. Volumes exportados totais e para a China de carne suína brasileira in natura de janeiro a julho de 2021, 2022 e 2023 (em toneladas) e comparativo percentual de 2023 com o mesmo período do ano passado. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex.

Cruzando os dados de produção publicados pelo IBGE e os volumes exportados no primeiro semestre de 2023 (tabela 5), observa-se em relação ao mesmo período do ano passado uma redução insignificante da disponibilidade interna de carne suína da ordem de -1,74% (-36,74 mil toneladas).

Tabela 5. Dados de produção, exportação e disponibilidade interna de carne suína brasileira (em toneladas) no primeiro semestre de 2023 e diferença percentual em relação ao mesmo período de 2022 (mês a mês e total). * dados de produção (abate) do segundo trimestre de 2023 preliminares. Volumes exportados com desconto das importações de carne in natura. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE e Secex. Dados de janeiro a março/23 são definitivos e de abril a junho/23 são preliminares.

Em relação ao segundo semestre de 2022, a disponibilidade interna da primeira metade de 2023 foi praticamente a mesma, diferindo em apenas 13,9 mil toneladas a mais (+0,67%) em favor deste ano. Mesmo com a manutenção da oferta de carne suína no mercado doméstico, os preços pagos ao produtor e as cotações de carcaças (gráfico 1) têm oscilado em patamar abaixo daquele atingido do final de 2022 até março de 2023.

Gráfico 1. Preço da carcaça suína especial em São Paulo (SP), nos últimos 12 meses. Média de agosto/23 até dia 21/08. Fonte CEPEA

Já o preço da carcaça bovina vem experimentando um verdadeiro “derretimento”, iniciado em maio/23 (gráfico 2), fruto de um aumento considerável de oferta no mercado interno, mesmo no período de entressafra do boi de pasto, em função da fase do ciclo pecuário em que o abate deste ano deve superar significativamente o do ano passado sem aumento da exportação na mesma proporção.

Gráfico 2. Preço do boi gordo (R$/@), nos últimos 12 meses em São Paulo. Média de agosto/23 até dia 21/08. Fonte CEPEA/B3

O frango também teve aumento de oferta no primeiro semestre, o que determinou cotações muito abaixo do ano passado (gráfico 3).

Gráfico 3. Preço da carcaça resfriada de frango em São Paulo (SP), nos últimos 12 meses. Média de agosto/23 até dia 21/08. Fonte CEPEA desaceleração na produção de suínos

Na tabela 6 é feito um comparativo entre o balanço das carnes bovina, de frango e suína no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto nestes primeiros seis meses a carne suína reduziu a disponibilidade interna em quase 37 mil toneladas, a carne bovina aumentou em 278 mil toneladas e a de frango em 206 mil toneladas, totalizando um aumento de oferta de 447 mil toneladas de todas as carnes somadas (+4,89%); o equivalente a um aumento projetado do consumo per capita ano de proteína animal da ordem de 4,4 kg por habitante a mais que em 2022.

Tabela 6. Produção, exportação e disponibilidade interna de carne de frango, bovina e suína no primeiro semestre de 2022 e 2023 e a diferença em toneladas e percentual de um ano para o outro, com o equivalente em consumo per capita ano adicionado/reduzido em 2023. * considerada população de 203.062.512 de habitantes (dados do último censo do IBGE); dados de produção (abate) do segundo trimestre de 2023 preliminares. Volumes exportados com desconto das importações de carne in natura. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do IBGE e Secex. desaceleração na produção de suínos

Sem dúvida, um dos fatores que impede maiores altas na cotação da carcaça suína é a correlação de preços com as demais carnes. Cabe lembrar que quanto mais alta a relação percentual boi-suíno e quanto mais baixa a relação suíno-frango, mais competitiva é a carne suína em relação as outras. O spread entre a carcaça bovina e suína que, no passado chegou a ultrapassar a marca de 150%, em de julho/23 atingiu o menor percentual do ano (70,6%), até então, conforme demonstra a tabela 7.

Com relação ao frango, o mês de julho/23 também foi marcado pela menor competitividade da carne suína, com a maior diferença percentual de preço da carcaça suína em relação a carcaça resfriada de frango (68,4%) no ano. Ou seja, em julho de 2023 a carcaça suína não esteve tão mais barata em relação a carcaça bovina e esteve ainda mais cara em relação à carcaça de frango em comparação com os meses anteriores de 2023, e em relação à média de 2022. O mês de agosto, até o dia 21/08 (tabela 7), apresentava uma redução ainda maior do spread da carne bovina, mas uma recuperação significativa da diferença em relação a carcaça de frango.

desaceleração na produção de suínos

Tabela 7. Spread da carcaça suína especial (SP) em relação a carcaça bovina (CEPEA/B3) e a carcaça do frango resfriado, nos primeiros oito meses de 2023 e média do ano de 2022. *Média de agosto/23 até dia 21/08. **Quanto mais alta a relação percentual boi-suíno e quanto mais baixa a relação suíno-frango, mais competitiva é a carne suína em relação as outras. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados do CEPEA desaceleração na produção de suínos

Destaca-se que não obrigatoriamente este spread se mantém no varejo, mas é fato que eventuais subidas no preço da carcaça suína, com frango e carne bovina muito baratas não se sustentam por muito tempo, a menos que haja um grande desajuste entre oferta e demanda em favor desta última.

Cenário interno de grãos se mantém sem alterações, mas fatores externos melhoram

tabela 8 traz o último levantamento de safra da CONAB, publicado em 10/08, cuja estimativa de segunda safra de milho (em processo final de colheita) aumentou para pouco mais de 100 milhões de toneladas, totalizando quase 130 milhões de toneladas na safra 2022/23. 2,2 milhões a mais que o levantamento publicado no mês anterior.

desaceleração na produção de suínos

Tabela 8. Balanço de oferta e demanda de MILHO no Brasil (em mil toneladas). Dados da safra 2022/23 atualizados em 10/08/23, sendo estoque final estimado para 31/01. * 2022/23 previsão. Fonte: Conab desaceleração na produção de suínos

Com problemas sérios de déficit de armazenagem estática para estocagem desta supersafra as cotações do milho continuam relativamente baixas (gráfico 4), determinando junto com o preço estável do farelo de soja, um custo de produção dos suínos no segundo semestre bem mais baixo que no início do ano. Aos poucos as expectativas referentes a safra norte-americana vão melhorando, o que contribui para manter o preço do milho em baixa. Segundo MBagro, as condições das lavouras de milho dos Estados Unidos vão se aproximando da média dos últimos cinco anos ao passo que bons volumes de chuva vão sendo registrados na região do Corn Belt. As lavouras em boas ou excelentes condições somam 59% da área de milho e já ultrapassa os valores registrados no mesmo período do ano passado e em 2019.

desaceleração na produção de suínos

Gráfico 4. Preço do milho (R$/SC 60kg) em CAMPINAS-SP, nos últimos 2 anos (média de julho/03 até dia 21/08/23). Fonte: CEPEA desaceleração na produção de suínos

Considerações finais

O presidente da ABCS, Marcelo Lopes explica que:

“O crescimento elevado da disponibilidade interna de carne suína ocorrido nos últimos anos, que contribuiu para uma das maiores crises da história da suinocultura, finalmente foi estancado. Entretanto, o aumento da oferta doméstica das demais carnes limita a subida do preço pago ao produtor. Este ano se encaminha para fechar com um recuo nos custos da atividade, estabilização da produção com crescimento abaixo de 3% em relação ao ano passado e exportações recordes, com retomada de volumes expressivos para China e lenta e contínua pulverização para outros destinos”, conclui.

 

Relacionado com Agronegócios
Sectoriales sobre Agronegócios
país:1950

REVISTA SUÍNO BRASIL

Inscreva-se agora para a revista técnica de suinocultura

EDIÇÃO suínoBrasil 1º TRI 2024
Estreptococose em suínos

Estreptococose em suínos

Adriana Carla Balbinot Fabiana Carolina de Aguiar Mariana Santiago Goslar Taís Regina Michaelsen Cê
Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que nutrição

Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que nutrição

Ana Caroline Rodrigues da Cunha
Salmonella, uma vilã na suinocultura

Salmonella, uma vilã na suinocultura

Luciana Fiorin Hernig
Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos promotores de crescimento

Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos promotores de crescimento

Equipe técnica de suínos da Vetanco
A importância da temperatura da água de bebida para suínos

A importância da temperatura da água de bebida para suínos

Joana Barreto
Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

Rodrigo Torres
Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Cândida Pollyanna Francisco Azevedo
Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Amanda Gabrielle de Souza Daniel
Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Ana Paula Mellagi Bernardo Dos Santos Pizzatto Fernando Pandolfo Bortolozzo L. D. Santos Leonardo Abreu Leal Rafael da Rosa Ulguim
Mecanismo de ação dos AA funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio

Mecanismo de ação dos AA funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio

Antônio Diego Brandão Melo Ismael França Luciano Hauschild
Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

Amoracyr José Costa Nuñez César Augusto Pospissil Garbossa Mariana Garcia de Lacerda Vivian Vezzoni de Almeida
Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

Allan Paul Schinckel César Augusto Pospissil Garbossa

JUNTE-SE À NOSSA COMUNIDADE SUÍNA

Acesso aos artigos em PDF
Informe-se com nossas newsletters
Receba a revista gratuitamente na versão digital

DESCUBRA
AgriFM - Los podcast del sector ganadero en español
agriCalendar - El calendario de eventos del mundo agroganaderoagriCalendar
agrinewsCampus - Cursos de formación para el sector de la ganadería