O risco de ocorrência das micotoxicoses é dependente da idade e saúde dos suínos e do nível de toxina presente na dieta.
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As micotoxinas são compostos tóxicos produzidos por alguns tipos de fungos em crescimento nos ingredientes da ração. Estes fungos podem infectar os grãos no campo, bem como durante a colheita, manuseio e armazenamento.
Embora atualmente, mais de 200 micotoxinas tenham sido identificadas, acredita-se que apenas algumas influenciam o desempenho produtivo e reprodutivo de suínos.
O risco de ocorrência das micotoxicoses é dependente da idade e saúde dos suínos e do nível de toxina presente na dieta.
O efeito mais grave é a morte do animal, porém baixos níveis de micotoxinas podem prejudicar o desempenho e o bem-estar geral dos suínos. Quando os suínos consomem dietas contendo micotoxinas, esta toxina pode afetar o sistema nervoso, o fígado, os rins, o sistema imunológico ou a reprodução dos suínos.
Aflatoxinas, zearalenona, deoxinivalenol, fumonisinas e ocratoxinas são as micotoxinas de maior preocupação para os suínos.
Cada uma destas micotoxinas são produzidas por fungos específicos, necessitando de condições ideais para promover sua produção, sendo a alta umidade e temperaturas elevadas os principais requisitos.
A aflatoxina, geralmente produzida pelo fungo Aspergillus flavus, afeta o diferentemente o desempenho dos suínos, em função da idade e da saúde dos animais, bem como da concentração da toxina na alimentação.
Os suínos jovens são mais sensíveis aos seus efeitos.
Os sintomas ocorrem com concentrações na faixa de partes por bilhão (ppb).
Pequenas quantidades podem reduzir o desempenho e a saúde geral dos suínos. A aflatoxina em níveis reduzidos (20 a 200 ppb) reduz a resposta do sistema imunológico deixando os suínos mais suscetíveis a doenças bacterianas, virais ou parasitárias.
A exposição prolongada a aflatoxina pode levar ao câncer, danos ao fígado, icterícia e hemorragia interna. Com o tempo, os lucros do rebanho serão reduzidos em função da perda na eficiência, crescimento mais lento e aumento dos custos de tratamento veterinário.
Quando os níveis das contaminações por aflatoxina estiverem em altas concentrações (1.000 a 5.000 ppb) os efeitos são agudos, incluindo morte. A aflatoxina M1, um metabólito da aflatoxina, é encontrada no leite de porcas alimentadas com dietas contaminadas com aflatoxinas.
Os animais alimentados com leite contaminado com aflatoxina M1 apresentaram mortalidade aumentada e crescimento mais lento.
A zearalenona é produzida pelo Fusarium graminearum e dentre as micotoxinas é a que afeta mais seriamente a reprodução. Ela ocasiona alterações no sistema genital de marrãs imaturas. As alterações visuais incluem vermelhidão da vulva, aumento de tamanho e peso do útero e aumento das glândulas mamárias. Em casos extremos, podem ocorrer prolapsos retais e vaginais. Essas alterações pelo efeito do hiperestrogenismo induzido pela zearalenona são muito bem caracterizadas em marrãs pré-púberes. A ingestão de dietas contendo 10 partes por milhão (ppm) de zearalenona é suficiente para alterar o início da puberdade em marrãs.
No entanto, vários estudos indicam que os efeitos estrogênicos da zearalenona não são permanentes e que as marrãs podem reproduzir sem reduções na fertilidade após um período de duas semanas sem ingestão de zearalenona.
Dietas contendo 25-100 ppm de zearalenona, fornecidas continuamente do desmame à recria, ocasionam graves casos de infertilidade. Porcas em lactação também são suscetíveis à zearalenona em altas concentrações, quando alimentadas com 50-100ppm de zearalenona por 2 semanas antes do desmame e por cerca de 60 dias após o desmame, apresentam estro constante.
Porcas alimentadas com dieta contendo 10 ppm de zearalenona durante os últimos 14 dias de lactação exibem um intervalo prolongado do desmame ao cio.
Quando os machos pré-púberes consomem 40ppm de zearalenona de 14 a 18 semanas de idade, seus níveis de libido reduzem em relação aos machos não tratados.
Essa redução é associada a uma concentração reduzida de testosterona no sangue, o hormônio sexual masculino responsável pelo desejo sexual.
Comumente rebanhos com histórico de contaminação da dieta com zearalenona relatam casos de natimortos, mortalidade neonatal, mumificação fetal, aborto e retorno anormal ao estro dentre outras anormalidades reprodutivas. Contudo o mecanismo de ação específico da zearalenona em cada uma dessas situações ainda não está bem elucidado.
Adicionalmente, na maioria dos casos, os alimentos contaminados pelas micotoxinas não foram adequadamente testados e as conclusões são feitas a partir de observações de campo em vez de análises micotoxicológicas da dieta ou dos biomarcadores dos animais. Portanto, é possível que outras micotoxinas em conjunto com a zearalenona estejam interagindo para produzir esses efeitos.
Deoxinivalenol (vomitoxina) é uma micotoxina produzida pelo Fusarium graminearum antes mesmo da colheita. Comumente contamina milho, trigo e DDGS e o suíno é relatado como a espécie mais sensível.
Esta micotoxina interfere na síntese de proteínas, na modulação da imunidade e na atividade de neurotransmissores no cérebro.
Apesar do que o nome sugere, a vomitoxina raramente induz vômito em suínos, o quadro de toxicidade agudo é incomum, mas é somente nesse caso que pode ocorrer vômito, diarreia, lesões digestivas graves e morte súbita. A toxicidade crônica por vomitoxina é bem mais comum e de grande importância prática.
Na maioria dos casos, há uma rápida diminuição no consumo de ração, levando a uma redução na taxa de crescimento. O impacto na ingestão de alimentos é dependente da dose contaminante, com uma estimativa de 4% de redução no consumo de ração para cada ppm adicional de deoxinivalenol acima da concentração de 1,5 ppm na dieta.
As fumonisinas são produzidas por espécies do gênero Fusarium, sendo a fumonisina B1 a mais abundante. Estas micotoxinas interferem na função celular e na sinalização em muitos tecidos, mas principalmente os pulmões, coração e fígado. Também causam imunossupressão. A toxicidade aguda ocasiona o quadro clínico de edema pulmonar, muito característico da intoxicação por fumonisina, causando insuficiência cardíaca e acúmulo de líquido nos pulmões. Os suínos com toxicidade aguda têm sinais respiratórios graves, apresentando respiração difícil, cianose e morte.
A toxicidade crônica é decorrente da ingestão de pequenas quantidades de fumonisinas por um período prolongado. Os animais com toxicidade crônica têm menor consumo de ração e menor taxa de crescimento, mas também pode ter maior suscetibilidade a doenças secundárias e menor resposta à vacinação por causa da supressão do sistema imunológico.
A ocratoxina é produzida principalmente por Aspergillus ochraceus, Penicillium verrucosum e Penicillium viridicatum durante o período de armazenamento. A toxicidade por ocratoxina é perceptível nos rins e fígado. Na maioria dos casos de micotoxicoses por ocratoxina A, os suínos apresentam reduzida eficiência alimentar e taxa de crescimento, devido ao quadro de insuficiência renal e hepatotoxicidade.
Porém, o consumo alimentar muitas vezes não é afetado, sendo que em alguns casos, o único sinal da toxicidade da ocratoxina A é encontrado durante o abate, nas alterações dos rins, pela aparência pálida, firmes e aumentados.
Mesmo com baixas concentrações de micotoxinas, os grãos contaminados podem afetar a saúde e desempenho dos animais. Estratégias para mitigação das micotoxinas em dietas para suínos devem ser adotadas. Dietas contaminadas devem ser sempre evitadas, principalmente para animais mais novos e em reprodução, em casos que a contaminação é inevitável, este alimento deverá ser destinado aos suínos em terminação, que são normalmente menos suscetíveis às micotoxinas.
Outras estratégias para alimentos contaminados com alta concentração de micotoxinas podem ser adotadas, como destinar estes alimentos para espécies menos sensíveis a micotoxinas, como o gado de corte, ou os alimentos contaminados serem misturados com alimentos não contaminados, para reduzir concentração de micotoxinas por diluição.
A inclusão de inibidores de fungos e adsorventes de micotoxinas na dieta podem ser usados como uma boa estratégia. Os inibidores podem controlar a contaminação fúngica e prevenir o crescimento de fungos, enquanto os adsorventes ligam-se às micotoxinas e evitam a absorção através do intestino.
Porém, muita atenção, pois os adsorventes de micotoxinas não costumam ser eficazes contra todas micotoxinas, sendo assim, é importante analisar o alimento, realizando uma análise micotoxicológica, e assim conhecer qual, ou quais micotoxinas estão presentes na dieta e escolher o adsorvente específico para a necessidade.