Até 30% das fêmeas têm partos longos e produzem menos leite: Sinsui mostra impactos invisíveis das falhas reprodutivas
Intitulado “Falhas reprodutivas na suinocultura: apesar do progresso, ainda temos gargalos!”, o painel reuniu três especialistas
Até 30% das fêmeas têm partos longos e produzem menos leite: Sinsui mostra impactos invisíveis das falhas reprodutivas
A abertura da programação do último dia do SINSUI 2025 foi marcada por um painel técnico que escancarou os gargalos ainda presentes na reprodução suína, mesmo com os avanços genéticos e nutricionais das últimas décadas.
Moderado por Amanda Gabrielle Daniel, da MSD Saúde Animal, e Rodrigo Moreira, consultor da BRF, o painel contou com apresentações do professor Fernando Bortolozzo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da professora Fernanda Almeida, associada ao Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Minas Gerais, e do professor Caio Abércio, da Universidade Estadual de Londrina. As abordagens cobriram desde os fundamentos fisiológicos até os desafios sanitários e nutricionais que afetam a reprodução.
De forma contundente, o professor Fernando Bortolozzo apresentou dados que associam partos superiores a cinco horas a uma série de consequências negativas. Ele mostrou que cerca de 30% das fêmeas apresentam partos prolongados, o que eleva a dificuldade de retorno ao cio e reduz a taxa de parição subsequente.
Segundo Bortolozzo, esses animais também ingerem menos ração nos primeiros dias pós-parto, o que compromete a produção de leite e, consequentemente, o desempenho da leitegada. Além disso, o professor chamou a atenção para a incidência de lesões na área perineal de fêmeas jovens, indicando que problemas como abscessos ainda são frequentes e impactam negativamente a fertilidade antes mesmo da primeira parição.
Na sequência, a professora Fernanda abordou os fatores fisiológicos e nutricionais que comprometem o tamanho da leitegada. Segundo ela, o preparo inadequado das fêmeas jovens, especialmente em relação ao ganho de peso diário e à espessura de toicinho, ainda é um dos principais gargalos do sistema.
Trabalhos apresentados pela professora indicam que fêmeas com ganho de peso entre 670 e 770 gramas por dia, e espessura de toicinho igual ou superior a 16 milímetros, obtêm melhores resultados reprodutivos. Coberturas realizadas em fêmeas com menos de 164 quilos tendem a gerar leitegadas menores e menor taxa de cobertura.
A professora destacou ainda que o uso de estratégias como o flushing com fontes de carboidrato tem impacto direto sobre a ovulação e deve ser priorizado nas marrãs, cujos folículos ainda não atingiram seu pleno potencial. Ela reforçou que o momento da aplicação dessas estratégias é determinante: quando feito muito cedo, como na fase de creche, o efeito metabólico não se concretiza, pois os ovários ainda não respondem adequadamente aos estímulos hormonais.
Micotoxinas
Encerrando o painel, o professor Caio Abércio trouxe uma reflexão sobre o papel das micotoxinas nas falhas reprodutivas. Embora os efeitos dessas substâncias sejam mais frequentemente associados à fase de terminação, ele destacou que seu impacto é amplo e muitas vezes silencioso no sistema reprodutivo.
Segundo ele, a atuação sinérgica de diferentes micotoxinas pode comprometer desde a saúde uterina até a viabilidade embrionária, mesmo em baixos níveis de contaminação. Caio alertou que, sem um controle rigoroso das matérias-primas e sem o uso de adsorventes com amplo espectro de ação, as perdas na reprodução tendem a continuar ocorrendo de forma despercebida.
O painel foi categórico ao mostrar que o sucesso reprodutivo está nos detalhes. A genética avançou, mas o desempenho ainda depende de uma combinação bem executada entre manejo, nutrição, ambiente e atenção constante aos sinais do campo.
“Estamos em um nível em que os processos precisam ser refinados”, salientou Bortolozzo. “Bons índices não são mais suficientes — precisamos entender o que ainda está ficando para trás”, concluiu.
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