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30 jun 2023

Flushing nutricional em leitoas: Interações entre nutrição e reprodução

Flushing nutricional em leitoas: Interações entre nutrição e reprodução O plantel de marrãs é um grupo importante para o sistema de produção de suínos, pois representa, em outras palavras, o “futuro” da produtividade. O desempenho da marrã ao primeiro parto apresenta correlação positiva com sua produtividade subsequente. Matrizes bem preparadas permitem toda a expressão do […]

Flushing nutricional em leitoas: Interações entre nutrição e reprodução

Flushing nutricional em leitoas: Interações entre nutrição e reprodução

O plantel de marrãs é um grupo importante para o sistema de produção de suínos, pois representa, em outras palavras, o “futuro” da produtividade.

O desempenho da marrã ao primeiro parto apresenta correlação positiva com sua produtividade subsequente.

Matrizes bem preparadas permitem toda a expressão do seu potencial genético, o que eleva a produtividade do rebanho. Assim, um manejo importante a ser realizado é o nutricional, pois fêmeas mal nutridas nessa fase, além das perdas imediatas na produtividade, têm perdas permanentes durante toda sua vida produtiva.

A nutrição específica de marrãs no período que antecede sua primeira cobertura ou inseminação já é prática consolidada em boa parte da indústria suinícola, uma vez que diversos autores demonstraram que altos níveis de energia nessa fase estão relacionados com a melhoria do desempenho reprodutivo.

Essa prática é mundialmente conhecida como flushing nutricional.

O flushing é uma estratégia nutricional aplicada às marrãs, que consiste no fornecimento de uma dieta à vontade com alto nível de energia, no período pré-cobertura, durante 14 a 21 dias.

O efeito flushing permite a maximização do potencial ovulatório através de um status hormonal mais adequado, e tem como objetivo proporcionar um aumento no número de leitões nascidos vivos.

Essa estratégia nutricional ocasiona primeiramente um aumento dos níveis plasmáticos de insulina, que tem uma importante função reguladora da atividade ovariana. Autores sugerem que a insulina pode intermediar os efeitos interativos da nutrição e reprodução de suínos.

As ações insulínicas podem se manifestar em alvos celulares no sistema nervoso central ou diretamente nas gônadas, pois está comprovada a presença de receptores insulínicos em células ovarianas e sabe-se que a administração exógena de insulina aumenta a diferenciação das células da granulosa, além de reduzir o número de folículos atrésicos e aumentar a taxa ovulatória.

 

Interações entre nutrição e reprodução

As interações entre a nutrição e a reprodução são há muito tempo conhecidas e documentadas.

Em situações em que a demanda por substratos energéticos ou proteicos supera a ingestão destes pelos animais, as reservas corporais são imediatamente mobilizadas, de forma dinâmica e intensamente reguladas pelo metabolismo.

Nesse contexto, a função reprodutiva assume posição de menor prioridade metabólica do que as funções vitais desempenhadas pelo sistema nervoso central, sistema cardiorrespiratório, renal, entre outros.

Atividades consumidoras de nutrientes, tais como crescimento folicular, produção de leite e outras, portanto, são consideradas não essenciais do ponto de vista fisiológico, e estão fortemente reguladas por complexos mecanismos neuro-endócrinometabólicos. Esses mecanismos de controle irão determinar a partição de nutrientes adequada para um dado estado metabólico, em função de variáveis circunstanciais tais como idade, composição corporal, demanda nutricional e balanço energético, entre outras. Essa partição de nutrientes é inerente ao metabolismo vital e é ela que determinará, em última análise, o limite até o qual será possível explorar o potencial genético dos animais.

A infertilidade de origem nutricional é particularmente comum em fêmeas, já que um ciclo reprodutivo completo (ovulação, concepção, gestação e lactação) representa uma das atividades energeticamente mais dispendiosas pelas quais passam as fêmeas mamíferas, principalmente nas espécies pluríparas.

Um dos principais objetivos na interação entre reprodução e nutrição em suínos está em manter a condição corporal das fêmeas, e, assim, garantir uma vida útil reprodutiva adequada à maximização da produtividade dentro do sistema de produção. O manejo alimentar das marrãs ou leitoas de reposição assume papel de destaque principalmente para granjas tecnificadas, tendo em vista que esses animais representam 30 a 40% da reposição anual de matrizes.

A nutrição específica de marrãs no período que antecede sua primeira cobertura ou inseminação é uma prática consolidada em boa parte da indústria suinícola, uma vez que os altos níveis de energia da dieta nessa fase estão ligados à melhoria do desempenho reprodutivo. Dessa forma, uma prática que tem sido alvo de estudo é o flushing alimentar, o qual se emprega, principalmente, durante o ciclo estral anterior ao da primeira inseminação artificial ou monta natural.

O flushing representa um esquema de alimentação que corresponde primeiro a um período de restrição alimentar, seguido de um incremento alimentar, o que leva a um efeito imediato na resposta ovulatória. Estudos ressaltam sua função de estabilizar a ovulação e efeito sobre a qualidade do oócito e, consequentemente, sobre a viabilidade embrionária.

Essa alternativa nutricional, que traz uma melhoria tanto qualitativa quanto quantitativa dos nutrientes, aumenta o número de ovulações através da mobilização de metabólitos no ambiente ovariano, tornando-o mais rico em nutrientes.

Algo que pode interferir no aproveitamento do flushing em marrãs criadas em baias é a mistura destas em grupos antes da primeira cobertura ou inseminação artificial, influenciando o efeito desejado do incremento de nutrientes como é preconizado, pelo fato de existir, nesse caso, queda na ingestão de alimentos dos animais submissos. Dessa forma, o incremento alimentar torna-se mais eficiente ao ser aplicado em fêmeas mantidas em gaiolas.

A utilização de gordura na dieta de suínos é uma prática amplamente adotada, em função do seu grande potencial de contribuição em energia para as dietas. Entretanto, com o conhecimento sobre as diferentes rotas metabólicas e mecanismos de regulação aos quais estão sujeitos os carboidratos e os lipídios, pode-se supor que eles influenciem, de maneira distinta, alguns hormônios cujo padrão de secreção poderá interferir no desempenho reprodutivo, como é o caso da insulina. Além disso, os ácidos graxos livres promovem uma marcante alteração no metabolismo energético das células β pancreáticas, reduzindo sua capacidade de secreção insulínica.

Trabalhos científicos têm mostrado que a fonte de energia dietética exerce influência sobre a resposta insulínica e a liberação de LH e progesterona, sinal de que dietas em que a fonte de energia é um carboidrato são potencialmente mais benéficas do que dietas cuja fonte é um lipídeo, no que tange ao desempenho reprodutivo de fêmeas suínas.

Já foi relatado que os picos pós-prandiais de insulina são significativamente maiores nas marrãs que recebem o flushing com amido do que nas marrãs alimentadas com a dieta lipídica, fato que sugere que a média geral de concentração desse hormônio também é significativamente maior.

Estudos têm demonstrado que dietas flushing baseadas em amido de milho aumentam:

É possível alterar o padrão da curva de secreção de insulina, bem como as médias de sua concentração sérica em marrãs, pela substituição de uma fonte energética lipídica (óleo de soja) por uma fonte baseada em carboidratos (amido de milho). Essa modificação do metabolismo energético e da regulação hormonal pode ser conseguida mesmo em animais que estejam em condições anabólicas e sem restrição alimentar.

Outro fator que deve ser observado é que a utilização de carboidratos como fonte predominante de energia metabolizável na dieta flushing pode representar uma eficiente ferramenta prática para a manipulação do metabolismo energético da fêmea suína, e, consequentemente, induzir efeitos anabólicos sobre o sistema reprodutivo e otimizar a eficiência reprodutiva da espécie.

O polipeptídeo inibitório gástrico (GIP) é postulado como o principal componente endócrino do eixo enteroinsular (conexão endócrina entre intestino e ilhotas de Langerhans) e responsável pela integração entre os estímulos de origem digestiva e a secreção insulínica pelo pâncreas. Em animais submetidos à dieta baseada em carboidratos, os níveis plasmáticos de GIP são significativamente superiores em relação à dieta rica em lipídeos. Assim, os ácidos graxos são fracamente indutores da secreção insulínica, em relação à glicose. Esse conceito pode ser aplicado à nutrição de marrãs, porém são necessários estudos sobre essa categoria.

Alguns trabalhos têm demonstrado que fêmeas alimentadas com ingredientes à base de dextrose e/ou carboidratos facilmente fermentáveis apresentam aumento no número de embriões, no número e peso de leitões nascidos vivos, o que evidencia que esses alimentos podem ser utilizados para melhora no desempenho reprodutivo de fêmeas suínas.

Além disso, recentemente tem sido demonstrado que a utilização desses ingredientes no período pré-cobertura auxilia na diminuição da variabilidade de peso da leitegada ao nascimento.

A importância dessa especificidade da dieta para as marrãs reside no fato de que recentemente a seleção tem sido voltada para a prolificidade, com resultados de grandes leitegadas que, muitas vezes, são desuniformes. Assim, pode-se aumentar a vitalidade da leitegada e permitir que ela se apresente homogênea ao nascimento e, consequentemente, ao desmame.

Com a utilização do flushing e principalmente com a utilização de carboidrato como principal fonte energética, é possível alterar o padrão de secreção da insulina que, por ser um importante regulador da função reprodutiva, garantirá melhor produtividade da fêmea suína ao primeiro parto.

 

Fonte: Produção de suínos – Teoria e Prática.

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