Pós-banimento do óxido de zinco: lições da Europa e o que o Brasil precisa fazer agora
Leandro Hackenhaar detalhou as principais lições da transição europeia após o banimento do óxido de zinco em leitões.
Pós-banimento do óxido de zinco: lições da Europa e o que o Brasil precisa fazer agora
No estúdio Agriplay, iniciativa da suínoBrasil em parceria com o Nucleovet dentro da Pig Fair, o especialista Leandro Hackenhaar, líder técnico global de Marketing Estratégico & Tecnologia, detalhou as principais lições da transição europeia após o banimento do óxido de zinco em leitões. A conversa contou com a participação de Nilson Sabino da Silva, da diretoria executiva do Nucleovet, diante de um público superior a duas mil pessoas no 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura.
A primeira conclusão, segundo Hackenhaar, é que não existe solução única. “Aditivos ajudam, mas o que realmente importa é evitar que o animal fique doente”, resumiu, destacando o papel integrado de manejo, sanidade, biosseguridade e nutrição apropriada. Uma mudança prática que ganhou força foi desmamar mais tarde, preparando melhor o leitão fisiologicamente para a fase pós-desmame.
Assista a entrevista completa:
Ele pontuou que o principal erro inicial na Europa foi apostar em um “atalho técnico” — substituir o óxido de zinco por um pacote de aditivos e vacinas. O resultado foi custo alto e desempenho aquém do esperado até que as granjas ajustassem processos. Com o tempo, o uso desses insumos foi racionalizado e os indicadores zootécnicos se recuperaram, ainda que a produção europeia permaneça estruturalmente mais cara por fatores como insumos, mão de obra, instalações e exigências de bem-estar animal.
Outro aprendizado central foi enxergar a microbiota como alvo explícito da estratégia nutricional e sanitária. “Hoje falamos em alimentar dois organismos: o leitão e a sua microbiota — interligados, porém com necessidades diferentes”, disse. Em paralelo, a redução do uso de antibióticos na Europa contribuiu para queda de resistência bacteriana, o que tornou tratamentos mais eficazes quando realmente necessários.
No campo da formulação, o avanço veio do controle da proteína fermentável (fração que escapa à digestão e alimenta bactérias indesejáveis no intestino grosso) e do uso criterioso de fibras. Para leitões jovens, ganharam espaço proteínas de soja processadas (enzimáticas, fermentadas, termopressurizadas) e concentrados proteicos com menor teor de fatores antinutricionais — alternativas que ajudam a equilibrar saúde intestinal e desempenho.
Quanto ao planejamento, Hackenhaar foi taxativo: granjas que esperaram a “data-limite” sofreram mais. Se o Brasil vier a discutir mudanças, o prazo regulatório precisa ser usado para preparação: revisão de protocolos de limpeza e vazio sanitário, ajustes de densidade e fluxo all-in/all-out, calibração de dietas e cronogramas de desmame. “Manejo e sanidade não se implementam do dia para a noite.”
Assista a entrevista completa:
Provocado por Nilson Sabino sobre efeitos adversos do zinco, Hackenhaar citou o debate europeu: há suspeitas não comprovadas de relação com resistência a antibióticos. E chamou atenção para o “cobertor confortável”: o zinco reduz consumo em animais sem desafio entérico, mas eleva a ingestão quando há problema intestinal — por isso a ferramenta pode mascarar falhas de base se usada como muleta. A mensagem para o Brasil foi pragmática: respeitar a legislação vigente e, ao mesmo tempo, adiantar a preparação do sistema para reduzir dependências.
Sobre o que pode ser o “próximo óxido de zinco”, o especialista vê tendência de maior restrição a antibióticos. E reforçou que copiar literalmente o modelo europeu é arriscado: clima, solos, estrutura produtiva e economia exigem soluções sob medida. “Vamos aprender com a Europa, mas adaptar ao Brasil.”
Ao final, o Nucleovet reforçou que o debate precisa antecipar-se a eventuais mudanças. “É um alerta para trabalhar por dentro, evitando medidas mais drásticas e preparando o produtor para o que pode vir”, disse Sabino. Hackenhaar agradeceu a organização e o público “altamente qualificado”, destacando o papel do SBSS como espaço de troca de experiências que tornam a suinocultura brasileira “ainda mais eficiente do que já é.”
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