cerca de 24 toneladas de carcaças de animais mortos é produzida por dia, apenas na região de Toledo, que concentra cerca de 20% da produção suinícola do oeste do Paraná.
Reunidos no XVI Encontro Regional ABRAVES-PR, representantes da cadeia suinícola brasileira deram início às discussões para a construção de um Programa Nacional de Animais Mortos. Saiba mais!
Reunidos no XVI Encontro Regional ABRAVES-PR, representantes da cadeia suinícola brasileira deram início às discussões para a construção de um Programa Nacional de Animais Mortos. A temática foi abordada sob diferentes aspectos durante a tarde da última quarta-feira (16/3), segundo dia da programação do Encontro.
Suinocultura discute Programa Nacional de Destinação de Animais Mortos
Dados apresentados por representantes da Embrapa, agroindústria e produtores dão conta de que
cerca de 24 toneladas de carcaças de animais mortos é produzida por dia, apenas na região de Toledo, que concentra cerca de 20% da produção suinícola do oeste do Paraná.
O médico veterinário Valdecir L. Mauerwerk, que é gerente de suprimentos de suínos da Frimesa, ressaltou que o volume deverá ser ainda maior, considerando a expansão da suinocultura na região. Mauerwerk destacou o novo frigorífico da Frimesa (Chateaubriand), o projeto Agro Laranjeiras (Laranjeiras do Sul), a ampliação da UPL (Unidade de Produção de Leitões) da Coopavel (Cascavel) e a retomada do antigo frigorífico Larissa pela BMG Foods (Iporã).
Segundo o chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, Dr. Everton Luis Krabbe, a construção de um Plano Nacional de Animais Mortos deve ser conduzida sob a lógica da prevenção de disseminação de agentes patogênicos, respeitando a legislação existente e alinhando as propostas dos diferentes elos do setor.
“Se quisermos que algo seja adotado pela cadeia, precisamos criar um Programa viável, descomplicado”, salientou Krabbe. “Também precisamos alinhar propósito, porque problema sanitário não escolhe Unidade Federativa e a preocupação tem que abranger todo o país no sentido de prevenção”, completou.
Compostagem Tradicional
Entre as tecnologias disponíveis para a destinação de animais existem opções dentro da propriedade produtora e fora dela. Uma as técnicas mais conhecidas e adotadas é a compostagem tradicional, em espaço específico dentro da propriedade.
Segundo o vice-presidente da APS (Associação Paranaense de Suinocultores), Eloi Fávero, uma das dificuldades encontradas hoje pelos produtores em relação a esse sistema relaciona-se ao bem-estar dos trabalhadores. Ele explicou que os profissionais vêm apresentando certa resistência em relação à tarefa de dividir a carcaça dos animais mortos, para que possa ser feita a compostagem tradicional.
“Os funcionários preferem pedir a conta do que ficar cortando o porco”, afirmou Fávero. “Os mais antigos até fazem isso, mas os mais jovens fazem uma ou duas vezes e não querem mais”, completou.
Em relação a outras alternativas disponíveis como compostagem acelerada, desidratação das carcaças, incineração e biodigestão, Fávero comenta que são técnicas que utilizam equipamentos de custos elevados, não acessíveis a todos os produtores.
Compostagem em Leiras
Uma nova tecnologia, em etapa de validação pela Embrapa Suínos e Aves, é a compostagem em leiras de animais inteiros. A tecnologia foi apresentada durante o Encontro da ABRAVES-PR pelo pesquisador Rodrigo Nicolosco.
Segundo o pesquisador, trata-se de um sistema simples, que já vem sendo recomendado pela Embrapa Gado de Leite por atender animais de grande porte. Ele explicou que o substrato, quando colocado na espessura correta (mínimo 60 cm), garante um bom processo de decomposição, sem produzir chorume.
Nicolosco explicou que a equipe chegou a inocular salmonela no animal e ela foi eliminada no processo, não voltando ao ambiente. O pesquisador destacou que em 60 dias sobram apenas resíduos como ossos do suíno.
“Cada uma das tecnologias tem suas aplicações e viabilidade, para o que ela serve e foi dimensionada”, salientou Nicolosco. “Muitas vezes escolhe-se tecnologia errada, sem considerar que cada uma tem finalidades específicas”, completou, destacando que não há receita de bolo que sirva para todas as propriedades.
Biogás
A utilização de animais mortos não abatidos para a produção de biogás foi tema da palestra do pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz. Segundo ele, a carcaça de animais mortos tem potencial de produção de biogás cinco vezes maior do que os dejetos, porém esse resultado só é alcançado a partir da aplicação da codigestão, ou seja, com a mistura de dois elementos.
Hoje a biodigestão é realizada em Lagoa Coberta ou em Biodigestor Agitado e Aquecido a 37ºC (CSTR). Segundo Kunz, para cada quilograma de carcaça adicionada ao biodigestor, há um aumento de até 7% na produção de biogás.
A trituração da carcaça, segundo o pesquisador, é importante para diminuir o tamanho das partículas e aumentar a superfície de contato dos microorganismos com o substrato que será degradado. Além disso, a prática também evita falhas de sistema de transporte, mistura, danificação de equipamentos, falta de uniformidade e reduz a mão de obra com o esquartejamento manual das carcaças.
Segundo Otamir Cesar Martins, diretor presidente da ADAPAR Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), o Cibiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis) vai montar uma das maiores usinas de produção de biometano em Toledo.
Centrais de Destinação
O tema Centrais de Destinação de Animais Mortos foi apresentado pelo Dr. Everton Krabbe, que destacou ser um tema extremamente controverso e altamente complexo de se discutir. Segundo ele, do ponto de vista do produtor rural, ter a recolha dos animais na propriedade seria o melhor dos mundos, porém, há critérios rigorosos a serem respeitados para evitar a disseminação de patógenos.
Krabbe salientou que as regras para coleta e transformação de animais mortos é detalhada na Instrução Normativa 48 (17/10/2019) de forma muito detalhada. Ele também lembrou que a implantação de centrais de destinação exige um conjunto de ações e articulações junto a órgãos municipais, estaduais e setor privado.
Segundo ele, para implementar o que estabelece a normativa são necessários investimentos tanto nas granjas, como nas centrais.
“Não se trata apenas de encostar o veículo na beira da instalação e carregar animais, nem de começar a usar uma unidade de produção de farinhas de carne que estava parada”.
O estado do Paraná possui uma portaria que regulamenta o credenciamento de empresas para recolhimento e transporte de animais mortos, assim como de resíduos de produção pecuária. Empresas interessadas na atividade devem fazer o credenciamento, ter veículos específicos para recolhimento das carcaças e portar o DTAM (Documento de Trânsito de Animais Mortos).
Fonte: Redação, direto de Toledo (PR).
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