04 maio 2022

A água na produção animal: um nutriente esquecido?

A água é um elemento insubstituível no organismo dos animais, sendo sua finalidade fisiológica extensa. A presença de água nas células permite a forma e a função dos órgãos e estruturas do corpo. Neste conteúdo produzido pela Vetanco, você confere a importância da água na produção animal.

A água na produção animal: um nutriente esquecido?

A água é um recurso natural fundamental para a produção animal, devendo estar disponível em quantidade e qualidade. Ela é utilizada:
Na produção dos insumos e dos alimentos;

Na dessedentação;

 Na higienização das instalações;

 No abate dos animais e

 No processamento dos produtos.

Não devemos esquecer, no entanto, que a água é um recurso natural finito, portanto, é dever de todos assegurar a oferta de água de forma sustentável.

 

A água é um elemento insubstituível no organismo dos animais, sendo sua finalidade fisiológica extensa. A presença de água nas células permite a forma e a função dos órgãos e estruturas do corpo. É o meio no qual ocorrem as reações metabólicas celulares e permite a transferência de nutrientes e a remoção de resíduos (LIMA, 2010). Está envolvido na regulação da temperatura corporal, lubrificação das articulações (via líquido sinovial) e proteção do sistema nervoso (via líquido cefalorraquidiano).

A água constitui a maior parte da composição corporal total dos suínos e a proporção de água no corpo muda com a idade. Constitui mais de 80% do peso corporal de um suíno de 1 dia de idade, mas em um suíno de 5 meses de idade a água representa cerca de 50% do peso corporal (THACKER, 2001).

A quantidade de água tem a mesma importância quanto a sua qualidade, sendo de extrema importância no processo produtivo, pois tem influência direta na nutrição dos animais pela sua composição e volume ingerido. No entanto, ainda não é frequentemente considerado um fator de impacto na produção, sendo uma maior atenção voltada para outros nutrientes da dieta. (RIBEIRO et al., 2017).

Comumente os nutricionistas se prendem apenas à qualidade e à composição química dos ingredientes para balanceamento de dietas de modo a suprir as exigências dos diversos nutrientes (proteína, fibra, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais), esquecendo-se da qualidade da água, nutriente tão importante quanto os demais.

De acordo com MARIA & ALBERTO (2009), para ter uma produção animal de qualidade deve-se dar à água importância semelhante à que se dá a outros fatores de produção como instalações e manejo. Fato é que, na prática, se percebe uma enorme preocupação com os parâmetros de qualidade da água ao consumo humano do que para a produção animal, sendo assim, os cuidados com a saúde animal são ignorados (BIRKHEUER et al., 2017).

Essa imprudência em relação ao uso de água de qualidade duvidosa pode interferir nos índices zootécnicos e na disseminação de enfermidades, acarretando graves prejuízos econômicos, além de carrear agentes patogênicos de doenças de interesse em saúde pública (MAGALHÃES et al., 2014).

Dito isso, a água pode e deve ser considerada o mais importante elemento potencializador das ações higiênico-sanitárias, desde que seja adequadamente tratada

No Brasil foram estabelecidos diversos parâmetros a serem respeitados, onde, segundo a resolução normativa nº 357 (CONAMA, 2005) que classifica as águas, de acordo com seu uso, definindo padrões de qualidade que devem ser atendidos, e ainda define que as águas destinadas à dessedentação animal devem estar dentro dos padrões exigidos para Classe 3.

Para o termo “qualidade da água” é necessário compreender que ele não se refere necessariamente a um estado de pureza, mas às características químicas, físicas e biológicas e que, conforme essas características, são estipuladas diferentes finalidades para a água (MERTEN & MINELLA, 2002).

Dados do IEPEC (2008) descrevem como água de baixa qualidade aquela que:
– Apresenta elevada acidez ou alcalinidade.
– Presença de sulfetos de hidrogênio, de sulfatos de ferro e manganês.
– Alto conteúdo de sólidos totais dissolvidos.

 

Com relação à contaminação destacam-se a alta contagem de bactérias (Coliformes fecais ou não, Streptococcus, Pseudomonas), população elevada de algas verdes ou azuis, presença de produtos químicos.

Elementos potencialmente tóxicos aos animais são:

– alumínio;
– arsênio;
– bário;
– boro;
– cádmio;
– cobalto;
– cobre;
– ferro;
– chumbo;
– mercúrio;
– níquel;
– selênio e
– zinco

A presença de parasitos na água por contaminação dos próprios animais também torna a água imprópria para consumo (NETTO, 2005). Além disso, indica má qualidade microbiológica geral da água e o risco de presença de agentes patogênicos de origem fecal, fazendo da água de dessedentação um fator de risco à saúde dos animais (PINTO et al, 2008).

A qualidade também não é estática no tempo, alterando de acordo com eventos ambientais como a chuva e/ou eventos humanos como o uso de fertilizantes. Assim, mesmo no caso de fontes de água subterrâneas como poços, a qualidade da água pode ser alterada, o que reafirma a necessidade de que seja feito o monitoramento periodicamente.

A análise somente no momento em que um problema for detectado significará maiores gastos financeiros para correção de algo que poderia ter sido evitado se houvesse a prática do monitoramento frequente. As análises microbiológicas têm a função de determinar a qualidade sanitária da água. As águas contaminadas podem contribuir para surtos de doenças, podendo ocasionar mastites, infecções do trato urinário, diarreia etc.

A recomendação é que toda água servida aos animais fosse clorada. Esse é um princípio de qualidade que o produtor não pode abrir mão sob pena de sofrer os prejuízos supracitados.

O cloro é um agente desinfetante que penetra nas células dos microrganismos presentes na água (especialmente bactérias) e reage com suas enzimas. Ao impedir que essas enzimas funcionem, o cloro destrói os microrganismos e desinfeta a água.

O cloro, quando aplicado corretamente, neutraliza 100% das bactérias em 20 minutos de contato. No entanto, o poder bactericida do cloro pode sofrer interferência de aspectos como pH, turbidez e dureza, entre outros

Por exemplo, pH 7, ou abaixo, promoverá ação desinfetante muito eficaz na neutralização de bactérias. Já acima de 7, a ação bactericida do cloro fica menor. 

Quando a água é ácida (↑ H +) há predominância de formação do HOCl (ácido hipocloroso). Quando a água é alcalina (↓ H +) ocorre uma reação de ionização, onde o HClO é quebrado em OCl- (íon hipoclorito) + ½ H +. Isto é muito importante porque o ácido hipocloroso (HOCl) e os íons hipoclorito (OCl) possuem eficiência germicida muito diferentes, pois a eficiência germicida do ácido hipocloroso (HOCl) é 80 vezes maior que do íon hipoclorito (OCl).

Desta forma, quando temos águas alcalinas, é de extrema importância fazer uso de ácidos orgânicos para a correção do pH da água assegurando desta forma a atividade germicida do cloro.

A preservação e o uso consciente dos recursos naturais têm sido cada vez mais debatidos, pois a humanidade já começa a sentir os efeitos do mau gerenciamento dos recursos naturais, sendo que os animais de produção são diretamente impactados pela quantidade e qualidade da água disponível em toda a cadeia produtiva. Por estes motivos cabe a todos nós o esforço conjunto na preservação e sustentabilidade deste bem tão precioso que é a água. 

Referências
Sob consulta do autor

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