Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
O principal objetivo dessa redução é otimizar o desempenho animal, melhorar a sustentabilidade ambiental e diminuir os custos com alimentação, sem comprometer a saúde nem o crescimento dos suínos
Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
Reduzir o teor de proteína bruta (PB) nas dietas para suínos pode oferecer múltiplos benefícios, mas requer um equilíbrio cuidadoso para garantir que as necessidades nutricionais dos animais sejam atendidas.
O principal objetivo dessa redução é otimizar o desempenho animal, melhorar a sustentabilidade ambiental e diminuir os custos com alimentação, sem comprometer a saúde nem o crescimento dos suínos. A seguir, apresentamos uma visão geral dos benefícios e dos fatores-chave a serem considerados para implementar com sucesso uma dieta com menor teor de PB para suínos.
Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
Um dos principais benefícios da redução da PB nas dietas é a melhoria na eficiência do uso do nitrogênio, o que resulta em uma menor excreção desse elemento. Essa redução não apenas diminui as emissões de amônia, mas também reduz o risco de eutrofização e acidificação ambiental causadas pela contaminação do solo e da água.
Ao mitigar o impacto ambiental das dietas para suínos, contribuímos significativamente para a sustentabilidade global da suinocultura. Além disso, a menor excreção de nitrogênio ajuda a reduzir os odores desagradáveis característicos das granjas de suínos, melhorando a qualidade do ar nos sistemas de produção.
No âmbito da saúde suína, diminuir o teor de proteína bruta na dieta pode aliviar o estresse digestivo. O excesso de proteína que não é digerido nem absorvido no intestino delgado é fermentado por bactérias no intestino grosso, o que gera subprodutos nocivos como amônia e escatol.
Esses compostos podem causar distúrbios digestivos, incluindo diarreia. Ao reduzir os níveis de PB e equilibrar de maneira otimizada os aminoácidos, promove-se uma melhor saúde digestiva e minimizam-se esses riscos.
Do ponto de vista econômico, reduzir o teor de PB na dieta pode resultar em economia no custo da ração, pois reduz a inclusão da principal fonte proteica vegetal, o farelo de soja, que normalmente apresenta custo alto.
Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
O uso dos aminoácidos industriais, são importantes para atender a necessidade dos animais, mantendo a relação deles com a lisina, de acordo com o conceito de proteína ideal, possibilitando formulação de dietas mais precisas, alinhadas às necessidades nutricionais dos animais, contribuindo ainda para a redução do excesso de nitrogênio na dieta.
Em climas quentes, a redução do teor de PB na dieta pode ser uma estratégia eficaz para mitigar o estresse térmico. Dietas ricas em proteínas geram maior quantidade de calor metabólico durante o processo digestivo, o que intensifica os efeitos do estresse térmico nos suínos, especialmente em épocas de altas temperaturas. Portanto, nessas condições, contribui para manter os animais mais confortáveis e preserva o consumo de ração.
No entanto, é importante considerar vários pontos-chave para implementar com sucesso dietas para suínos com teor reduzido de PB.
Em primeiro lugar, a dieta deve ser cuidadosamente formulada para atender às exigências de aminoácidos dos suínos. Historicamente, estabeleceu-se um conteúdo mínimo de PB nas dietas para suínos, para manter seu desempenho. Posteriormente, compreendeu-se que os suínos não têm uma necessidade específica de PB, mas sim de aminoácidos essenciais. Esse avanço resultou no desenvolvimento do sistema de aminoácidos digestíveis padronizados no íleo.
Isso é alcançado ao suplementar a dieta com aminoácidos purificados, assegurando que os suínos recebam a quantidade exata e o equilíbrio adequado de aminoácidos essenciais, mesmo quando o teor total de proteína na dieta é reduzido.
Para fazer isso de maneira eficaz e prática, é crucial aderir ao conceito de proteína ideal.
Segundo esse princípio, todos os aminoácidos essenciais são limitantes para o desempenho do suíno, sendo fundamental fornecê-los em proporções que coincidam exatamente com suas exigências nutricionais.
Essas exigências são expressas em relação à lisina, o que facilita o processo de formulação, permitindo o ajuste preciso dos níveis de lisina e a manutenção das proporções ideais dos demais aminoácidos essenciais.
Esse enfoque garante que a dieta seja projetada para cobrir de forma ideal as necessidades de aminoácidos dos suínos, ao mesmo tempo em que minimiza a excreção de nitrogênio.
Casos bem-sucedidos foram documentados, como mostrado na Tabela 1, em que dietas com níveis padrão ou reduzidos de PB não afetaram o desempenho, desde que suplementadas com aminoácidos livres para alcançar a proteína ideal.
Tabela 1: Uso de dietas com baixo teor de proteína bruta (PB) em leitões e suínos sem afetar o
desempenho. Nos estudos com suínos (*), as características da carcaça (por exemplo, conteúdo
de carne magra) não mostraram diferenças significativas.
Além disso, a Adisseo oferece uma ferramenta chamada NESTOR, que permite obter valores nutricionais precisos sobre o conteúdo de aminoácidos em dietas para suínos, adaptadas a diferentes idades e condições de criação.
Ao adotar uma mentalidade de “nem mais nem menos” na formulação das dietas, é possível garantir o menor custo de alimentação, sem comprometer o desempenho, ao mesmo tempo em que se reduz o impacto ambiental da produção animal.
Outro fator crítico é ajustar as dietas de acordo com a fase de crescimento dos suínos, uma vez que suas necessidades de aminoácidos variam ao longo de seu desenvolvimento.
Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
Personalizar as dietas de acordo com a idade, o peso e a fase produtiva é fundamental para evitar tanto deficiências quanto excessos na ingestão de proteínas.
Ademais, a saúde e o estado imunológico dos animais são fatores essenciais a serem considerados ao reduzir o teor de proteína bruta nas dietas. Suínos que enfrentam desafios como doenças ou estresse podem exigir níveis mais altos de aminoácidos específicos, como a treonina, que é essencial para manter a saúde intestinal.
Por isso, é imprescindível monitorar de perto o estado de saúde dos animais durante a transição para dietas com níveis reduzidos de PB. Caso haja qualquer sinal de queda no desempenho ou problemas digestivos, ajustes imediatos devem ser feitos na dieta.
A qualidade dos ingredientes utilizados na formulação de rações desempenha um papel determinante para alcançar uma redução eficaz da PB na dieta.
A variabilidade na composição de nutrientes de ingredientes como milho, farelo de soja e grãos de destilaria secos (DDGS ou DDG), exige monitoramento constante e ajustes precisos para manter um perfil equilibrado de aminoácidos.
É essencial dispor de ferramentas que permitam prever com precisão o valor nutricional e a digestibilidade das matérias-primas, já que as análises químicas tradicionais nem sempre oferecem informações exatas.
Por exemplo, o conteúdo total de lisina no farelo de soja nem sempre está correlacionado com seu conteúdo de lisina digestível (Figura 1; pesquisa PNE).
Figura 1: Relação entre o conteúdo total de lisina (% como está) e sua digestibilidade.
(Cozannet et al., 2011; Fastinger e Mahan, 2006; Lan et al., 2008; Stein et al., 2006; Vilariño et al., 2009; Widyaratne e Zijlstra, 2006)
Nesse sentido, a Adisseo oferece um serviço denominado Adict, que converte os resultados analíticos típicos dos ingredientes em valores nutricionais práticos e prontos para uso, incluindo os aminoácidos digestíveis.
A metionina suplementar adquire especial relevância no contexto de dietas com baixo teor de PB. Atualmente, existem duas formas principais disponíveis:
Ambas são fontes eficientes de metionina dietética para suínos.
No entanto, o uso de OH-metionina em vez de DL-metionina pode reduzir significativamente a excreção total de nitrogênio. Isso acontece porque a bioconversão da OH-metionina em L-metionina, sua forma biologicamente ativa, necessita de um aporte de nitrogênio, que geralmente provém do excesso de nitrogênio ou daquele destinado à excreção.
Redução do teor de proteína bruta em dietas para suínos: grandes benefícios trazem grandes desafios
Como esse processo não ocorre com a DL-metionina, pode-se afirmar que o uso de OH-metionina em vez de DL-metionina permite economias metabólicas de nitrogênio e, por fim, uma redução na quantidade de nitrogênio excretado. No contexto de dietas com baixo teor de proteína bruta, isso significa que, ao incluir OH-metionina na alimentação dos suínos, há uma redução tanto do nitrogênio excretado nas fezes quanto na urina.
Além dos aminoácidos purificados, é crucial gerenciar adequadamente outros componentes dietéticos, como a fibra e a energia. Dietas com alto teor de fibra podem reduzir a digestibilidade das proteínas, tornando o uso de enzimas como complexos de multicarboidrases e fitase, recomendável para otimizar a absorção de nutrientes.
A suplementação com essas enzimas melhora a eficiência digestiva dos suínos, permitindo que extraiam uma maior quantidade de nutrientes, mesmo em dietas com níveis reduzidos de PB Como resultado, a digestibilidade de todos os aminoácidos aumenta, como mostrado na Tabela 2.
Tabela 2: Efeito das enzimas exógenas carboidrase e fitase na digestibilidade dos aminoácidos (%).
¹Análise de variância (n=293) com a dieta (n=13) como efeito aleatório, aminoácidos (n=10) como efeito fixo e fitase como contínuo; R² = 0,62, RSD = 2; efeito quadrático de fitase (P = 0,036); efeito de aminoácidos (P < 0,001); sem interação.
²Análise de variância (n=842) com a dieta (n=42) como efeito aleatório, aminoácidos (n=10) e carboidrase (n=2) como efeitos fixos; R² = 0,74, RSD = 3; efeito de carboidrase (P < 0,001); efeito de aminoácidos (P < 0,001); sem interação
Além disso, ao reduzir o teor de proteína bruta na dieta, é importante empregar o sistema de energia líquida para garantir um equilíbrio adequado no fornecimento de energia.
Esse sistema é mais preciso do que o de energia metabolizável, que costuma ser menos eficaz para identificar excessos ou déficits energéticos em dietas com baixo teor de proteína.
No sistema de energia líquida, dá-se maior valor a ingredientes densos em energia, como o milho, em comparação com o farelo de soja, garantindo assim que as necessidades energéticas dos suínos sejam plenamente atendidas.
Em conclusão, embora a redução da proteína bruta nas dietas para suínos ofereça várias vantagens — incluindo benefícios ambientais, melhor saúde intestinal, redução de custos e melhor desempenho zootécnico —, seu manejo requer cuidado.
Garantir o equilíbrio adequado dos aminoácidos, ajustar a alimentação conforme as fases de crescimento dos suínos, utilizar os valores corretos de digestibilidade e manter os níveis de energia
São aspectos cruciais para alcançar o sucesso com uma dieta com menor teor de PB:
Além disso, o monitoramento constante do desempenho e da saúde é fundamental para otimizar os benefícios e evitar possíveis desvantagens.
Portanto, o acompanhamento a longo prazo dos parâmetros produtivos é essencial. Indicadores zootécnicos chave (como o GPD, a CA e a composição corporal) devem ser avaliados regularmente para garantir que os suínos continuem desempenhando com a dieta de PB reduzida.
A Adisseo oferece soluções comprovadas e experiência para reduzir eficazmente os níveis de proteína bruta nas dietas para suínos sem comprometer o desempenho.
Por meio de nossos produtos e conhecimentos, ajudamos a otimizar a eficiência alimentar e minimizar o impacto ambiental da produção suína. Nossa equipe de especialistas está disponível para apoiá-lo na implementação dessas estratégias adaptadas às suas necessidades específicas.
Inscreva-se agora para a revista técnica de suinocultura
AUTORES
Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira – Parte I
Everton Luís KrabbeO potencial inexplorado da Inteligência Artificial na produção suína
M. Verónica Jiménez GrezΒ-glucanos e Mananoligossacarídeos e microbiota intestinal: como modular a saúde de dentro para fora
Cândida Azevedo Jéssica Mansur Siqueira Crusoé Leonardo F. da SilvaPrevenção e controle da transmissão de doenças através dos alimentos
Pedro E. UrriolaComo uma amostragem adequada pode garantir uma melhor acurácia analítica?
Clarice Speridião Silva NetaEfeito de um aditivo tecnológico na dieta de porcas e seu impacto no desempenho da leitegada
Cleison de SouzaA fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho – Parte I
Danilo Alves Marçal Ismael França Jaira de Oliveira Luciano HauschildComo otimizar o desempenho dos leitões pós-desmame com proteínas funcionais?
Luís RangelCasuística de exames laboratoriais para suinocultura em 2024
Keila Catarina Prior Lauren Ventura Parisotto Marina Paula Lorenzett Suzana Satomi KuchiishiUso de ácidos orgânicos e mananoligossacarídeos na dieta de leitões desafiados com Salmonella Typhimurium: efeito nos órgãos, escore fecal e desempenho zootécnico
Ariane Miranda Eduardo Miotto Ternus Gefferson Almeida da Silva Ines Andretta José Paulo Hiroji Sato Julio C. V. FurtadoEstratégias nutricionais em desafios sanitários
Cleandro Pazinato Dias Marco Aurélio Callegari Prof. Dr. Caio Abércio da Silva Prof. Dr. Rafael Humberto de Carvalho