12 jun 2023

48 anos Embrapa Suínos e Aves, evolução da suinocultura

Na Embrapa Suínos e Aves, que completa 48 anos nesta terça-feira, existe um legado construído para duas das mais importantes atividades pecuárias do país.

48 anos Embrapa Suínos e Aves, evolução da suinocultura

48 anos Embrapa Suínos e Aves, evolução da suinocultura

Imagem destacada: Suíno MS115 – Crédito: Jairo Backes

Na Embrapa Suínos e Aves, que completa 48 anos nesta terça-feira, existe um legado construído para duas das mais importantes atividades pecuárias do país. Lá surgiram conhecimentos que mudaram a trajetória da suinocultura e da avicultura brasileiras.

A partir da década de 1920, colonos descendentes de italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul chegaram ao oeste de Santa Catarina. Uma das tradições desses colonos era a produção de pequenos animais para subsistência das famílias. Já nos anos 1940, a criação de galinhas e de suínos fomentou o nascimento de pequenas agroindústrias que fariam do oeste de Santa Catarina a região onde surgiria a moderna avicultura e suinocultura no país.

Por conta desse cenário e da importância dessas duas cadeias, lideranças ligadas ao setor agrícola de Santa Catarina candidataram o estado a sediar o centro voltado para o desenvolvimento de tecnologias para a suinocultura da Embrapa. O principal argumento era que os catarinenses lideravam ações privadas de pesquisa em melhoramento genético e nutrição, com destaque para o município de Concórdia.

O então pequeno município, com cerca de 18 mil moradores, concentrava granjas especializadas na comercialização de reprodutores suínos. O trabalho de melhoramento genético dessas granjas já era reconhecido em todo o país. O município ainda tinha uma estação de avaliação de suínos e uma central de inseminação artificial.

Além disso, em Concórdia estava instalada uma das principais agroindústrias brasileiras voltada para a industrialização da carne suína. Assim mesmo, o município concorria com a cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul, outra importante região da suinocultura brasileira.

A análise dos critérios técnicos acabou por escolher Concórdia, fazendo os catarinenses vencerem a disputa com os gaúchos, que naquela época já tinham duas unidades da Embrapa: a Trigo, em Passo Fundo, e a Clima Temperado, em Pelotas.

No dia 13 de junho de 1975, em Brasília, era criado oficialmente o Centro Nacional de Pesquisa de Suínos. Poucas semanas depois, dois pesquisadores chegavam à cidade para dar início à implantação da nova unidade da Embrapa.

O ato de criação do Centro de Pesquisa foi assinado pelo ministro da Agricultura Alysson Paulinelli. Em depoimento para um livro histórico, em 2011, Paulinelli declarou que a escolha foi natural e acertada.

“Recebi, em 1974, a Embrapa como uma semente, um embrião, muito bem concebida pelo ministro Luiz Fernando Cirne Lima e embalada pelo ministro José Moura Cavalcanti. Tínhamos de cultivá-la e fazê-la produzir. A expectativa era muito grande e não poderia frustrar ninguém. A necessidade de um Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária que viesse a ajudar o produtor brasileiro a resolver seus problemas tecnológicos, em um país tropical, com tantas dificuldades e deficiências, era o que mais se esperava naquele momento. Por outro lado, a Embrapa teria de dar respostas rápidas a essa demanda. A definição dos centros nacionais teria de vir naturalmente, pelos produtos e regiões de maior importância e repercussão econômica e social para o país. Com essas premissas, não poderíamos deixar de incluir a suinocultura e avicultura nessa estratégica relação. E o estudo de Santa Catarina, especialmente Concórdia, teria de ser o leito natural para abrigar o nosso Centro Nacional. Hoje, estou certo, não erramos”.

Depoimento de Alysson Paulinelli para a obra “Sonho, desafio e tecnologia – 35 anos de contribuições da Embrapa Suínos e Aves”.

Mas antes mesmo da sua estruturação completa, o Centro Nacional de Pesquisa de Suínos ganhou um desafio extra. Em 1978, a Embrapa decidiu que chegara a hora de investir na investigação científica da cadeia avícola, que se expandia rapidamente no país. A diretoria-executiva da Embrapa tinha duas possibilidades: a criação de uma nova unidade ou a integração com o centro de suínos, já que as duas cadeias produtivas tinham muitas similaridades. A integração acabou prevalecendo, até porque a região de Concórdia também era um importante polo produtor avícola. Assim, em 20 de outubro de 1978, surgia o Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves.

 

As primeiras pesquisas

Em uma época em que a suinocultura e a avicultura eram radicalmente diferentes, da tecnologia ao manejo dos animais, o então Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves tinha enormes desafios. Além disso, o sistema integrado de produção não havia completado ainda nem 20 anos de existência no Brasil.

Logo recaíram sobre a Embrapa as esperanças de que fossem rapidamente apresentadas soluções para doenças como a rinite atrófica em suínos, para que se adaptassem equipamentos às condições brasileiras, melhorassem geneticamente o rebanho nacional e se aprimorassem rações ou se indicassem alimentos alternativos para os animais.

Os primeiros resultados das pesquisas apareceriam nos anos seguintes, como:

Entre 1978 e 1992, o centro de pesquisa em Concórdia também coordenou o Programa Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves. Isso permitiu à Embrapa Suínos e Aves produzir a primeira caracterização dos sistemas de criação usados pelos produtores e identificar as principais demandas técnicas e econômicas das duas atividades.

 

Suíno light

Das centenas de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Suínos e Aves desde 1975 nas áreas de produção ou sanidade animal e em meio ambiente, duas são as mais conhecidas pelo público em geral: o suíno light MS58 e a poedeira colonial Embrapa 051.

Imagem: Suíno MS115 – Crédito: Jairo Backes 48 anos Embrapa 

Lançado na Expointer em Esteio-RS em 1996, o suíno light marcou a transição do “porco tipo banha” para um suíno com alta concentração de carne na carcaça. A linha tem o cruzamento das raças Pietrain, Duroc e Hampshire e foi registrada no Livro de Suínos Puros Sintéticos da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).

Este macho terminador foi desenvolvido com apoio da Cooperativa Central Aurora para atender a demanda de material genético da indústria e melhor remunerar o produtor por entregar animais com mais carne magra. No início dos anos 2000, o suíno light da Embrapa Suínos e Aves chegou a responder por 8% do abate nacional de suínos.

“A nossa atuação também foi importante para popularizar a tecnologia do suíno light entre os suinocultores independentes de todo o país, que encontraram na Embrapa um material genético de boa qualidade e com preço acessível”, explica o pesquisador Elsio Figueiredo, da equipe de melhoramento genético da Unidade.

O MS58 foi melhorado duas vezes. A primeira no ano 2000, com a linhagem MS60 (cruzamento das raças Duroc, Large White e Pietrain), com animais livres do gene halotano, que predispõe à Síndrome do Estresse em Suínos e à produção de carne PSE (pálida, macia e exsudativa), um problema grave para a industrialização de carnes.

A segunda vez foi em 2008. Sempre trabalhado em parceria com a Cooperativa Aurora, a Embrapa lançava a linhagem MS115 durante a Expodireto Cotrijal em Não-Me-Toque-RS. Esta terceira geração de suínos light foi concebida para uma nova realidade do mercado de carne suína: a dos animais mais pesados ao abate (acima de 115 kg de peso vivo).

A linhagem MS115 continuou com a mesma formação de raças do MS60, mantendo alto potencial genético para carne na carcaça (acima de 62%), reduzida espessura de toucinho e ótima conformação, com excelente concentração de carne no lombo, pernil e paleta, repassando aos descendentes percentual de carne na carcaça superior a 58% e ampliando o ganho genético para conversão alimentar em animais mais pesados. Ainda em genética suína, em 2014, durante a Expointer, em Esteio, a Embrapa lançou a fêmea MO25C, como uma linha mais rústica para produção de leitões.

 

Desafios e entregas alinhadas

Desde sua criação, os desafios mudaram e exigem cada vez mais soluções que contemplem uma produção sustentável, tanto economicamente quanto ambiental. Entregas de impacto têm sido desenvolvidas pela equipe de pesquisa, como a instalação de um posto de biometano gerado a partir dos dejetos suínos, o Biogasfort. Tem ainda soluções que potencializam a recuperação e reuso de água nas granjas, caso do Sistrates.

“A Embrapa Suínos e Aves tem papel fundamental em apoio às políticas públicas, com trabalhos de impacto na agroindústria, na exportação e produção das cadeias produtivas”, enfatiza o chefe geral Everton Krabbe. Um desses trabalhos é de revisão e modernização de inspeção sanitária em abatedouro, tanto de suínos como de aves. Na questão ambiental, trabalhos de pesquisa impactaram instruções normativas, como a IN11 SC.

As equipes da Embrapa Suínos e Aves atuam diretamente com o setor de produção, atentas à genética, nutrição, sanidade, equipamentos e as agroindústrias. Entre os atuais desafios, os esforços de pesquisa se concentram em inovações como carne cultivada em laboratório, xenotransplante e biobanco, por exemplo.

“O propósito da Embrapa Suínos e Aves é trabalhar com o máximo da capacidade para atuar na vanguarda e antecipar tendências para que as cadeias produtivas desenvolvam todo seu potencial e alimentem a população brasileira e mundial com qualidade e segurança”, afirma o pesquisador Everton Krabbe.

As cadeias produtivas de carne de frango e de suínos continuam tendo grande importância no agronegócio brasileiro.

O uso intensivo de tecnologias e o excelente status sanitário posicionaram o Brasil como um dos principais fornecedores mundiais de carne de aves. O país é o terceiro maior produtor mundial (14,3 milhões de toneladas em 2021) e o maior exportador (4,6 milhões de toneladas). Em carne suína, o Brasil ocupa o quarto lugar tanto na produção (4,7 milhões de toneladas), quanto na exportação (1,1 milhão de toneladas).

A concorrência acirrada e as constantes exigências do mercado internacional exigem um esforço contínuo em pesquisa, desenvolvimento e inovação para manter a competitividade.

 

Links de apoio:

Livro “Sonho, desafio e tecnologia: 35 anos de contribuições da Embrapa Suínos e Aves”

https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/busca-de-publicacoes/-/publicacao/909722/sonho-desafio-e-tecnologia-35-anos-de-contribuicoes-da-embrapa-suinos-e-aves

Publicações diversas, incluindo os Relatórios de Atividades

https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/publicacoes

Apresentação, Prêmios, Personalidade Destaque

https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/apresentacao

Dirigentes e linha do tempo da Chefia da Embrapa Suínos e Aves

https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/dirigentes

 

48 anos Embrapa   48 anos Embrapa  48 anos Embrapa  Fonte: Assessoria de Imprensa Embrapa Suínos e Aves

Relacionado com Setor suíno
Sectoriales sobre Setor suíno

MAIS CONTEÚDOS DE EMBRAPA

Dados da empresa
país:1950

REVISTA SUÍNO BRASIL

Inscreva-se agora para a revista técnica de suinocultura

EDIÇÃO suínoBrasil 1º TRI 2024
Estreptococose em suínos

Estreptococose em suínos

Adriana Carla Balbinot Fabiana Carolina de Aguiar Mariana Santiago Goslar Taís Regina Michaelsen Cê
Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que nutrição

Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que nutrição

Ana Caroline Rodrigues da Cunha
Salmonella, uma vilã na suinocultura

Salmonella, uma vilã na suinocultura

Luciana Fiorin Hernig
Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos promotores de crescimento

Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos promotores de crescimento

Equipe técnica de suínos da Vetanco
A importância da temperatura da água de bebida para suínos

A importância da temperatura da água de bebida para suínos

Joana Barreto
Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

Rodrigo Torres
Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Cândida Pollyanna Francisco Azevedo
Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Amanda Gabrielle de Souza Daniel
Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Ana Paula Mellagi Bernardo Dos Santos Pizzatto Fernando Pandolfo Bortolozzo L. D. Santos Leonardo Abreu Leal Rafael da Rosa Ulguim
Mecanismo de ação dos AA funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio

Mecanismo de ação dos AA funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio

Antônio Diego Brandão Melo Ismael França Luciano Hauschild
Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

Amoracyr José Costa Nuñez César Augusto Pospissil Garbossa Mariana Garcia de Lacerda Vivian Vezzoni de Almeida
Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

Allan Paul Schinckel César Augusto Pospissil Garbossa

JUNTE-SE À NOSSA COMUNIDADE SUÍNA

Acesso aos artigos em PDF
Informe-se com nossas newsletters
Receba a revista gratuitamente na versão digital

DESCUBRA
AgriFM - Los podcast del sector ganadero en español
agriCalendar - El calendario de eventos del mundo agroganaderoagriCalendar
agrinewsCampus - Cursos de formación para el sector de la ganadería